A 77ª edição do Festival de Cannes começou com grades emoções no Palais des Festivals nesta terça-feira, 14/05, na França. A noite de abertura foi marcada pela entregue da Palma de Ouro honorária para a consagrada atriz norte-americana Meryl Streep.
No Grand Théâtre Lumière, foi ovacionada pelo público e recebida no palco pela atriz francesa Juliette Binoche, que se emocionou ao apresentar a homenagem: “Você mudou a maneira como olhamos para as mulheres”. O júri deste ano, presidido por Greta Gerwig, também marcou presença.
Em seu discurso, Streep, que foi premiada no Festival de Cannes em 1989 por sua atuação em Um Grito no Escuro, de Fred Schepisi, e única vez que passou pela Croisette, disse: “Este prêmio é único no mundo do cinema e estou muito, muito honrada em recebê-lo”. Além de agradecer seu agente Kevin Huvane, com quem trabalha profissionalmente há 33 anos, também destacou o trabalho de J. Roy Helland, seu cabeleireiro e maquiador: “Ele é responsável por quase todos os personagens que interpretei no último meio século”.
Ela lembrou que a última vez que esteve em Cannes, há 35 anos, estava prestes a completar 40 anos e era mãe de três filhos: “Achei que minha carreira havia acabado. E essa não era uma expectativa irreal para as atrizes daquela época. E a única razão pela qual estou aqui esta noite e porque isso continuou é por causa de artistas muito talentosos com quem trabalhei, incluindo a madame la presidente Greta Gerwig”; elas trabalharam juntas no longa Adoráveis Mulheres.
Meryl Streep começou sua carreira nos palcos de Nova York depois de finalizar os estudos de teatro. Entre pequenos trabalhos, logo se destacou em O Franco Atirador, de Michael Cimino, ao lado de Robert De Niro. O filme foi premiado com cinco estatuetas douradas no Oscar e rendeu sua primeira indicação no prêmio da Academia na categoria de melhor atriz coadjuvante.
Depois disso, apareceu em Manhattan, de Woody Allen, e A Vida Íntima de um Político, de Jerry Schatzberg. Em 1980 levou seu primeiro Oscar: melhor atriz coadjuvante por Kramer vs. Kramer, de Robert Benton. Com isso, ganhou rapidamente reconhecimento do público, da crítica e da indústria.
Juliette Binoche, Meryl Streep e Greta Gerwig no palco
Ao longo dos anos, foram muitos filmes, séries e prêmios: em 1983 levou o Oscar de melhor atriz por A Escolha de Sofia; e em 2012 por A Dama de Ferro. Entre 21 indicações no mais consagrado prêmio do cinema, venceu três. Seu currículo conta também com 29 indicações ao Globo de Ouro e oito vitórias, entre elas: A Mulher do Tenente Francês, O Diabo Veste Prada e Julie & Julia.
No Festival de Berlim, no qual também foi homenageada, foi premiada por sua atuação em As Horas, de Stephen Daldry, compartilhado com suas colegas de cena Nicole Kidman e Julianne Moore. Também foi consagrada no BAFTA, César, Critics Choice Awards, Prêmio David di Donatello, Emmy Awards, Satellite Awards, National Board of Review, SAG Awards, entre outros.
Foi indicada ao Grammy Awards diversas vezes, entre elas, pelo musical Mamma Mia!. Além de Berlim, também foi homenageada nos festivais de San Sebastián, Toronto, Telluride, entre outros.
Nas telonas, também se destacou em: Entre Dois Amores, de Sydney Pollack; Lembranças de Hollywood, de Mike Nichols; A Morte lhe Cai Bem, de Robert Zemeckis; The Post: A Guerra Secreta, de Steven Spielberg; Adaptação, de Spike Jonze; As Pontes de Madison, de Clint Eastwood; Música do Coração, de Wes Craven; A Última Noite, de Robert Altman; entre muitos outros.
Ao longo de sua carreira, Meryl Streep nunca se esquivou de denunciar publicamente a posição precária das mulheres na indústria cinematográfica. Consciente das questões que envolvem a representação das mulheres nos filmes de Hollywood, e ansiosa por encarnar todas as suas facetas em toda a sua complexidade e fragilidade, Meryl desempenha uma grande variedade de papéis e gêneros.
Sua trajetória conta também com alguns filmes biográficos, como Florence: Quem é Essa Mulher?, de Stephen Frears; sátiras políticas como Leões e Cordeiros, de Robert Redford e Não Olhe para Cima, de Adam McKay; e filmes familiares como Caminhos da Floresta, de Rob Marshall. Sua carreira na sétima arte segue com: Amor à Primeira Vista, A Casa dos Espíritos, As Filhas de Marvin, Sob o Domínio do Mal, Desventuras em Série, Álbum de Família, Ricki and the Flash: De Volta para Casa, As Sufragistas, Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo, entre outros. Na TV e streaming também ganhou destaque em produções como Only Murders in the Building, Big Little Lies e Angels in America.
Atriz ovacionada no Festival de Cannes
Em comunicado oficial, Iris Knobloch, presidente do festival, e Thierry Frémaux, diretor geral do Festival de Cannes, disseram: “Todos nós temos algo de Meryl Streep em nós! Porque ela atravessou quase 50 anos de cinema e incorporou inúmeras obras-primas. Meryl Streep faz parte da nossa imaginação coletiva, do nosso amor partilhado pelo cinema”.
Além da entrega da Palma de Ouro Honorária, a noite de abertura contou também com a exibição do longa Le Deuxième Acte, de Quentin Dupieux, fora de competição, com Léa Seydoux, Louis Garrel, Vincent Lindon, Raphaël Quenard, Manuel Guillot e Françoise Gazio no elenco.
No dia seguinte à homenagem, Streep participou de uma conversa com convidados e falou sobre a noite anterior: “Tive uma onda de emoção. Todas aquelas lágrimas na plateia, foram muitas. Fiquei emocionada com todo esse amor aqui em Cannes porque lá em casa ninguém me respeita!”.
Sobre sua relação com o cinema francês, comentou: “Tenho um pouco de vergonha de dizer que não vejo filmes suficientes. Não há horas suficientes no dia e na maior parte do tempo estou ocupado com minha vida familiar. Além disso, estou tão velha que já trabalhei com todo mundo. E se eu não ver os filmes deles primeiro, isso realmente me torna um idiota! Mas adorei Camille Cottin em todos os episódios de Ten Percent, e fui dormir muito tarde ontem à noite por causa do filme de Dupieux que adorei!”.
Outro assunto abordado foi o protagonismo feminino nos filmes: “Hoje, as maiores estrelas do mundo são as mulheres. Foi muito diferente quando comecei. Naquela época, tudo sempre girava em torno de um superstar masculino. Os papéis femininos eram secundários. Os filmes são projeções dos sonhos de quem os realiza. Até os grandes produtores têm sonhos! Para as mulheres não era muito difícil imaginar-se com uma contraparte masculina, enquanto era extremamente desafiador para os homens sonhar com uma personagem feminina”. Meryl finalizou a conversa com um conselho para jovens atores e atrizes: “Não desista! Não desista! Não desista!”.
O 77º Festival de Cannes segue até 25 de maio com uma programação intensa com filmes em competição, exibições especiais, debates, mostras paralelas e outras atividades.
Fotos: Pascal Le Segretain, Andreas Rentz e Daniele Venturelli/Getty Images.