19ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto anuncia 153 títulos na programação

por: Cinevitor
Cena do curta-metragem Big Bang Henda, de Fernanda Polacow

A 19ª edição da CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto acontecerá entre os dias 19 e 24 de junho na cidade de Ouro Preto, Patrimônio Histórico da Humanidade. Trata-se do único evento brasileiro com enfoque no cinema como patrimônio e a estruturar a programação em três temáticas: preservação, história e educação. Cada uma delas têm atividades complementares, em sessões de filmes, debates, rodas de conversa, estudos de caso e lançamentos de livros.

Durante seis dias de programação intensa e gratuita, o público vai conferir mais de 32 sessões de cinema com exibições para todas as idades em dois cinemas instalados especialmente para o evento: o Cine-Praça, ao ar livre, na Praça Tiradentes com plateia de 500 lugares; e o Cine-Teatro no Centro de Convenções com plateia de 510 lugares. Para além das sessões, as atividades incluem debates, masterclasses, rodas de conversas, oficinas, Mostrinha, atrações musicais e várias outras atividades espalhadas pela cidade, pelo Centro de Artes e Convenções e na Praça Tiradentes.

Na programação audiovisual, serão 153 filmes em pré-estreias e mostras temáticas; 15 longas, 1 média e 122 curtas-metragens vindos de sete países e 18 estados brasileiros distribuídos em diversas mostras: Contemporânea, Homenagem, Preservação, Histórica, Educação, Mostrinha, Cine-Escola, Contemporânea TV UFOP e IC Play.

“A CineOP tem se destacado não apenas pelo enfoque conceitual diferenciado de abordar o cinema de maneira ampla em três frentes temáticas – preservação, história e educação, mas também por ser um espaço privilegiado de discussões de políticas públicas para a preservação audiovisual e as conexões entre o cinema e a educação; duas linguagens que se enriquecem mutuamente realizando encontros, incentivando reflexões, provocando discussões, apresentando projetos, iniciativas e filmes instigantes e fortes na relação com o seu tempo e pelo que representam. Ao longo de sua trajetória sempre esteve atenta às mudanças no campo da preservação, ao mesmo tempo, que propõe olhar para a história com perspectiva de futuro e, ainda, aproximou a educação do cinema criando espaços de construção coletiva para contribuir com o momento atual e urgente para a presença do audiovisual nas escolas”, relata Raquel Hallak, coordenadora geral da CineOP.

A ser realizado na CineOP, o 19º Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros e o Encontro da Educação: XVI Fórum da Rede Kino seguem como ambientes referenciais de discussões e definições a profissionais e educadores. No total estão previstos 31 debates e rodas de conversa, com a participação de mais de 120 profissionais nacionais e internacionais nas mais variadas atividades e encontros.

O evento oficial de abertura acontecerá na noite de 20 de junho, às 19h30, na Praça Tiradentes. O homenageado dessa edição, dentro da temática Cinema de animação no Brasil: uma perspectiva histórica, será o cineasta e animador Alê Abreu, que receberá o Troféu Vila Rica e terá uma retrospectiva de seus trabalhos ao longo do evento.

Com 30 anos de carreira dedicados à linguagem da animação, Alê Abreu se tornou emblema e sinônimo de criatividade na área, inclusive tendo seu segundo longa-metragem, O Menino e o Mundo (2014), indicado ao Oscar da categoria em 2016: “A homenagem está ancorada no percurso autoral de um criador que, se tem ainda poucos filmes, é especialmente coerente e obsessivo”, diz Cléber Eduardo, curador da Temática Histórica junto, este ano, com o professor e animador Fábio Yamaji.

Edifício Tatuapé Mahal: curta-metragem de Fernanda Salloum e Carolina Markowicz

Além da homenagem a Abreu, a sessão de abertura vai contar com a exibição de seis curtas-metragens animados que irão fazer um breve percurso histórico para ilustrar, logo de início, o recorte desse ano na CineOP: Passo, de Alê Abreu (2007); Respeitável Público, de Irmãos Wagner (1987); A Saga da Asa Branca, de Lula Gonzaga (1979); Até a China, de Marão (2015); Novela, de Otto Guerra (1992); e Castelos de Vento, de Tania Anaya (1999).

No caso de Alê Abreu, a retrospectiva de sua obra vai ocupar outras sessões ao longo da CineOP, incluindo seus três longas-metragens: Garoto Cósmico (2007); O Menino e o Mundo (2014); e Perlimps (2023); e diversos curtas desde o começo de sua carreira, há três décadas.

As curadorias de cada eixo da 19ª CineOP prepararam uma vasta programação que conecta filmes, aprendizados, pesquisas e conhecimentos para debates e exibições ao longo da semana. Na Temática Histórica, o conceito Cinema de animação no Brasil: uma perspectiva histórica propõe um retrospecto, em perspectiva, de uma das formas audiovisuais mais expressivas e também desafiadoras do país.

A dupla de curadoria Cléber Eduardo e Fábio Yamaji coloca em pauta um estilo de produção que há mais de um século vem existindo e resistindo, sobrevivendo contra limitações técnicas e econômicas no país e sendo movida pela paixão heroica e autodidata de algumas iniciativas ao longo da maior parte de sua história: “A animação brasileira é marcada por descontinuidades nas carreiras da grande maioria de seus realizadores e por casos de títulos isolados de alguns; mesmo assim, segue persistente e permanente, sobretudo no curta metragem, seu principal meio expressivo, com uma dimensão estética e cultural considerável”, diz Yamaji.

De forma a permitir que o espectador da CineOP se familiarize com a trajetória da animação brasileira, a Mostra Histórica terá subdivisões, com exibições de filmes específicos a cada recorte: Percurso histórico, com o longa Luz, Anima, Ação, de Eduardo Calvet (2013), documentário que repassa a história dessa linguagem no país; Homenagem, com trabalhos do diretor Alê Abreu; Anima docs, com uma série de curtas-metragens documentais feitos em animação; Repercussão internacional, com curtas que tiveram ampla circulação fora do Brasil ao longo dos anos; Animação de invenção, com trabalhos de pegada mais experimental; e Contemporânea, com o mais recente longa de Marão, Bizarros Peixes das Fossas Abissais (2023).

Na Mostra Contemporânea de Longas serão exibidos: A Portas Fechadas, de João Pedro Bim (SP); Agudás: os Brasileiros do Benin, de Aída Marques (Brasil/Benin/França); Boom Shankar: O Filme Perdido do Guará, de Sergio Gag (SP); Othelo, O Grande, de Lucas H. Rossi dos Santos (RJ); e Peréio, Eu te Odeio, de Allan Sieber e Tasso Dourado (RJ/SP).

Documentário sobre Paulo César Pereio, que morreu em maio deste ano

Já a Mostra Contemporânea de Curtas contará com: A Sua Imagem na Minha Caixa de Correio, de Silvino Mendonça (DF); Big Bang Henda, de Fernanda Polacow (Angola/Portugal/Brasil); Curacanga, de Mateus Di Mambro (BA); Dona Beatriz Ñsîmba Vita, de Catapreta (MG); Dona Biu, de Gabriela Taulois (RJ); Estrela da Tarde, de Francisco Rio (DF); Estudo pra uma pintura o lavrador de café, de Desali e Rafael dos Santos Rocha (MG); Histórias que Nos Contam, de Luan Santos (BA); Lulina e a Lua, de Alois Di Leo e Marcus Vinicius Vasconcelos (SP); Olha a hora de entrar na roda, de Rodrigo Carvalho (BA); Oração, de Haroldo Saboia (SP); Pororoca, de Fernanda Roque e Francis Frank (MG); Sertão, América, de Marcela Ilha Bordin (PI/ES/RS); e SPELL (Feitiço), de Khalil Charif (RJ).

Na Temática Educação, a curadoria de Adriana Fresquet e Clarisse Alvarenga propõe o Plano Nacional de Cinema na Escola: Comunicação, Cultura e Educação. O objetivo será elaborar diretrizes e recomendações para a criação de políticas públicas que venham subsidiar o contato de educadores e também de crianças, da educação infantil ao ensino fundamental, e jovens do ensino médio, com as imagens e os sons de forma a garantir a qualidade social dessa experiência.

Na programação, masterclasses internacionais, sessões de filmes, apresentações de projetos audiovisuais educativos, debates e reuniões de trabalho da Rede Latino-Americana de Educação, Cinema e Audiovisual, além de quatro GTs (grupos de trabalho): formação docente; infraestrutura e equipamentos; acervos e curadorias; e pedagogias.

“A emergência das tecnologias digitais possibilita ampliar e diversificar as experiências pedagógicas, sonhar com escolas cada vez mais engajadas na produção coletiva e sensível de conhecimentos, articulando as experiências passadas com as possibilidades de invenção e comunicação atuais, mas a conectividade também deve prever tempos e espaços para a desconexão. O digital não pode ser o palimpsesto do analógico, quando pensamos na educação escolar e na vida”, disse a curadora Adriana Fresquet.

Na Temática Preservação, o eixo proposto pela dupla de curadores José Quental e Vivian Malusá será O Futuro da Preservação Audiovisual Começa no Presente e vai novamente reunir integrantes da ABPA, Associação Brasileira de Preservação Audiovisual, para mais uma rodada de conversas e articulações na luta pelo cinema como patrimônio. Mesas, conversas e seminários pretendem refletir sobre o impacto especialmente da inteligência artificial no ambiente da preservação, tratando dos desafios que ainda persistem na implementação das tecnologias digitais nas diversas áreas do setor: “Dados da FIAT (Federação de Arquivos de TV e Mídias) mostram que grande parte das televisões ao redor do mundo utilizam algum tipo de inteligência artificial generativa em seus trabalhos cotidianos, e a restauração de filmes também já começa a fazer uso desta tecnologia. E no Brasil, em que estágio estamos?”, questiona Quental.

O Encontro de Arquivos, parte da programação da Temática Preservação, contará com a presença de dezenas de profissionais, incluindo convidados internacionais, para levantar aspectos importantes pensados pela curadoria e de como um trabalho coletivo pode auxiliar no avanço desses processos: “A ampliação e desenvolvimento das redes de arquivos também é fundamental para uma perspectiva de futuro da área. Novas associações e redes têm sido criadas com este objetivo. Quais são estas redes e suas propostas de trabalho? Como potencializar as trocas teóricas e técnicas entre as instituições?”, completa o curador.

Cena do curta A Sua Imagem na Minha Caixa de Correio, de Silvino Mendonça

Como em todo ano, a CineOP conta com a participação de importantes profissionais internacionais numa série de masterclasses e mesas de debates voltadas a várias das temáticas. Na 19ª edição, participam: Macarena Bello (Chile), que vai falar sobre ações de preservação Cineteca Nacional do Chile, onde ela é uma das coordenadoras; Cielo Salviolo (Argentina), gestora cultural, pesquisadora e consultora, que vai tratar de Infância e cultura digital na escola; e Sebastian Wiedemann (Colômbia), cineasta, pesquisador e filósofo, para falar sobre Ecologia de imagens em desaceleração.

Além de sessões e discussões, a CineOP tem ainda seu programa de formação, que além das três masterclasses internacionais, conta este ano com sete oficinas gratuitas: A preservação do cinema através dos objetos: diagnóstico e estado de conservação, com a doutora em Artes Jussara Freitas; O Cinema na Sala de Aula, com a doutora em Linguística Vanderlice Sól; Produção audiovisual com inteligência artificial, ministrada pelo cineasta Sergio Rossini; Vídeo-maleta: Criação Audiovisual, com o artista gráfico francês Jérôme Lopez; Da ideia à tela: processo de realização de um filme de animação, com a diretora e animadora Rosana Urbes; Direção de Arte: A Estética da Cena, com a diretora de arte Maria Cecília Amaral; e Narrativas Sonoras, a ser oferecida pela diretora de som Bianca do Nascimento Martins.

A Mostra de Cinema de Ouro Preto leva o universo cinematográfico para próximo das crianças, adolescentes e educadores da rede pública de Ouro Preto, graças ao programa Cine-Expressão: A Escola vai ao cinema. É oferecida programação gratuita para criar um espaço de aprendizado entre estudantes e mesclar o audiovisual e a educação. Serão sete sessões de cinema seguidas de debates, elaboração de material didático para trabalhar os filmes na sala de aula e lançamento de livros.

As escolas participantes recebem ainda o material pedagógico de cada filme elaborado exclusivamente para o programa visando contribuir para o debate e a reflexão na sala de aula sobre os temas e abordagens que os filmes oferecem em suas histórias.

Aberta a todas as idades, a Mostrinha de Cinema acontecerá no domingo, dia 23/6, com a exibição de Chef Jack (2023), primeiro longa-metragem em animação de Minas Gerais. O filme foi realizado por Guilherme Fiúza Zenha, recentemente falecido, e que terá essa exibição também como tributo a seu trabalho e sua memória.

O Menino e o Mundo, de Alê Abreu: longa brasileiro indicado ao Oscar 

Repetindo a bem-sucedida parceria cultural com o Sesc em Minas, a programação artística da CineOP vai acontecer no Sesc Cine-Lounge Show que será instalado no Centro de Artes e Convenções e se estabelece como um espaço de múltiplas e amplas possibilidades de encontro, entretenimento e diálogo do cinema com as outras artes.

Além do tradicional Cortejo da Arte que percorre as ruas tricentenárias de Ouro Preto, no dia 22 de junho, sábado, às 11h30, com saída da Praça Tiradentes, o público vai poder curtir várias atrações: performances, DJs, shows que prometem agitar as noites ouropretanas e valorizar grupos locais, além de artistas de destaque na cena mineira que se relacionam com as temáticas e debates propostos.

E, pelo segundo ano consecutivo, acontecerá a Festa Junina da CineOP, que será promovida no domingo, dia 23 de junho, a partir das 18 horas, no Centro de Convenções como parte da programação da Mostra Valores e vai reunir três quadrilhas da cidade, além de barraquinhas de comes e bebes, brincadeiras e música.

A CineOP é uma mostra audiovisual pioneira desde sua criação a enfocar o cinema como patrimônio em intercâmbio com o mundo e reafirma anualmente seu propósito de ser um empreendimento cultural de reflexão e luta pela salvaguarda do rico e vasto patrimônio audiovisual brasileiro. Estrutura sua programação em três temáticas, presta homenagens, realiza exibição de filmes brasileiros e internacionais, oficinas, debates, seminário, Mostrinha, sessões Cine-Escola, atrações artísticas e promove anualmente o Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros e o Encontro da Educação: Fórum Rede Kino.

Durante seis dias de evento, o público terá oportunidade de vivenciar um conteúdo inédito, descobrir novas tendências, assistir aos filmes, aproveitar as atrações artísticas, trocar experiências com importantes nomes da cena cultural, do audiovisual, da preservação e da educação, participar do programa de formação e debates temáticos de forma gratuita.

Fotos: Divulgação.

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