A 48ª edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo acontecerá entre os dias 17 e 30 de outubro com 415 filmes, de 82 países, na programação. As exibições serão realizadas em 29 salas de cinema, em espaços culturais e CEUS espalhados pela capital paulista, incluindo exibições gratuitas e ao ar livre.
Como anunciado anteriormente, o novo longa do cineasta chileno Pablo Larraín, Maria Callas, que disputou o Leão de Ouro recentemente no Festival de Veneza, será o filme de abertura deste ano. A trama faz um relato fictício dos últimos dias de vida de uma das mais celebradas cantoras de ópera da história. Angelina Jolie interpreta a soprano greco-americana Maria Callas nesta obra que mostra sua última semana na Paris dos anos 1970 e perpassa memórias, retratando seus amigos, seus amores e sua voz. O longa é o terceiro de Larraín que faz um retrato de um ícone feminino do século 20, seguindo Jackie (2016) e Spencer (2021). O cineasta chileno também dirigiu No, que abriu a 36ª Mostra, em 2012.
A cerimônia de abertura acontecerá na quarta-feira, 16/10, às 20h, na Sala São Paulo, com apresentação de Renata de Almeida e Serginho Groisman. O evento vai contar com a presença de profissionais do setor audiovisual, autoridades e patrocinadores.
Como de costume, a Mostra de São Paulo traz títulos de cineastas consagrados e exibidos recentemente em importantes festivais internacionais, como: Anora, de Sean Baker, vencedor da Palma de Ouro em Cannes este ano; Grand Tour, do cineasta português Miguel Gomes, que traz os brasileiros Thales Junqueira e Marcos Pedroso na direção de arte; Dahomey, de Mati Diop, vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim deste ano; Tudo que Imaginamos como Luz, da diretora indiana Payal Kapadia; Levados pelas Marés, de Jia Zhangke, exibido em competição em Cannes; Misericórdia, do francês Alain Guiraudie; duas obras do israelense Amos Gitai, Shikun e Por que a Guerra?; Abril, de Dea Kulumbegashvili, vencedor do Prêmio Especial do Júri em Veneza; entre outros.
Além disso, filmes inéditos que se destacaram nos principais festivais internacionais deste ano compõem a programação da 48ª Mostra. Do Festival de Veneza, o evento exibe Vermiglio, de Maura Delpero, vencedor do Grande Prêmio do Júri; o brasileiro Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, que levou o prêmio de melhor roteiro para Murilo Hauser e Heitor Lorega; Não Chore, Borboleta, de Duong Dieu Linh, vencedor do prêmio de melhor filme da Semana da Crítica; O Brutalista, de Brady Corbet, que recebeu o Leão de Prata de melhor direção; April, de Dea Kulumbegashvili; o brasileiro Manas, de Marianna Brennand, grande vencedor da mostra Giornate degli Autori; e Taxi Monamour, de Ciro De Caro, vencedor do Prêmio do Público da mesma mostra.
Ainda de Veneza, da mostra Orizzonti: Happy Holidays, de Scandar Copti, premiado como melhor roteiro; O Ano Novo que Nunca Veio, de Bogdan Mureşanu, eleito o melhor filme; Familiar Touch, de Sarah Friedland, que recebeu o prêmio de melhor direção; Um Daqueles Dias em que Hemme Morre, de Murat Firatoglu, vencedor do Prêmio Especial do Júri; e A Testemunha, de Nader Saeivar, que recebeu o Prêmio do Público da Orizzonti Extra.
De Cannes, além do vencedor da Palma de Ouro, serão exibidos na Mostra SP: Tudo que Imaginamos Como Luz, da indiana Payal Kapadia, que venceu o Grande Prêmio do Júri; Grand Tour, de Miguel Gomes, que recebeu o prêmio de melhor direção; Os Malditos, de Roberto Minervini, vencedor do prêmio de melhor direção da mostra Un Certain Regard; Vira-Lata, de Chiang Wei Liang, que recebeu Menção Especial do prêmio Caméra d’Or; Esta Minha Vida, de Sophie Fillières, vencedor do Prêmio SACD da Quinzena de Cineastas; o brasileiro Baby, de Marcelo Caetano, que rendeu o prêmio de ator revelação para Ricardo Teodoro na Semana da Crítica; Holy Cow, de Louise Courvoisier, vencedor do Prêmio da Juventude da Un Certain Regard; Ao Contrário, de Jonás Trueba, vencedor do prêmio de melhor filme europeu da Quinzena de Cineastas; Ernest Cole: Achados e Perdidos, de Raoul Peck, premiado como melhor documentário; e o japonês Sol de Inverno, de Hiroshi Okuyama, exibido na Un Certain Regard.
Kani Kusruti em Tudo que Imaginamos como Luz, da diretora indiana Payal Kapadia
Do Festival de Berlim, além do filme Pequenas Coisas como Estas, de Tim Mielants, longa de abertura do evento que rendeu o prêmio de melhor atriz coadjuvante para Emily Watson, estão confirmados nesta edição: Dahomey, de Mati Diop, consagrado com o Urso de Ouro; Dying: A Última Sinfonia, de Matthias Glasner, vencedor do prêmio de melhor roteiro; O Maior Bocejo da História, de Aliyar Rasti, vencedor do Prêmio Especial do Júri da mostra Encounters; e No Other Land, de Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor, vencedor do prêmio de melhor documentário e do Prêmio do Público da mostra Panorama.
Dos premiados no Festival de San Sebastián, terão sessões os filmes: Os Vislumbres, de Pilar Palomero, que rendeu o prêmio de melhor atriz para Patricia López Arnaiz; o já citado April, de Dea Kulumbegashvili, vencedor do Prêmio Zabaltegi-Tabakalera; Sujo, de Astrid Rondero e Fernanda Valadez, que recebeu o Prêmio Spanish Cooperation; e Eu Sou Nevenka, de Iciar Bollain, Euskadi Basque Country 2030 Agenda Award.
Do Festival de Locarno, a 48ª Mostra exibe: Afogamento Seco, de Laurynas Bareiša, vencedor do prêmio de melhor direção e melhor atuação para Gelminė Glemžaitė, Agnė Kaktaitė, Giedrius Kiela e Paulius Markevičius; Salve Maria, de Mar Coll, que recebeu Menção Especial do Júri; Lua, de Kurdwin Ayub, vencedor do Prêmio Especial do Júri; Através do Fluxo, de Hong Sang-soo, vencedor do prêmio de melhor atuação para Kim Minhee; Hanami, de Denise Fernandes, vencedora do prêmio de melhor cineasta emergente; Agora, de Ala Eddine Slim, vencedor do prêmio Pardo Verde; Linha Verde, de Sylvie Ballyot, que recebeu o Prêmio MUBI de filme de estreia; e Escute as Vozes, de Maxime Jean Baptiste, vencedor do Prêmio Especial do Júri Ciné+.
Do Festival de Sundance, integram a seleção da Mostra de São Paulo 2024: o já citado Sujo, de Astrid Rondero e Fernanda Valadez, vencedor do Grande Prêmio do Júri da Competição Internacional de Drama; Lidando com os Mortos, de Thea Hvistendahl, vencedor do Prêmio Especial do Júri para música original; Gaucho Gaucho, de Michael Dweck e Gregory Kershaw, vencedor do Prêmio Especial do Júri de melhor documentário norte-americano; Noturnos, de Anupama Srinivasan e Anirban Dutta, que recebeu o Prêmio Especial do Júri da mostra World Cinema Documentary; Sugarcane, de Julian Brave NoiseCat e Emily Kassie, vencedor do prêmio de melhor direção de documentário norte-americano; e Guerra de Porcelana, de Brendan Bellomo e Slava Leontyev, vencedor do Grande Prêmio do Júri da Competição Americana de Documentário.
Do Festival Internacional de Cinema de Animação de Annecy, serão exibidos: Memórias de um Caracol, de Adam Elliot, vencedor do prêmio de melhor filme; Vivendo em Excesso, de Kristina Dufková, Prêmio Contrechamp do Júri; e Totto-Chan: A Menina na Janela, de Shinnosuke Yakuwa, vencedor do Prêmio Paul Grimault.
Serão exibidas também 13 obras já indicadas por seus respectivos países para concorrer a uma vaga ao Oscar 2025 na categoria de melhor filme internacional: da Áustria, O Banho do Diabo, de Veronika Franz e Severin Fiala, que venceu o Urso de Prata de Contribuição Artística para a fotografia de Martin Gschlacht no Festival de Berlim; Julie Permanece em Silêncio, de Leonardo Van Dijl, representante da Bélgica, premiado na Semana da Crítica em Cannes; do Brasil, o já consagrado internacionalmente Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, com Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro; o espanhol Segundo Prêmio, de Isaki Lacuesta e Pol Rodríguez, premiado no Festival de Málaga; da Geórgia, As Antiguidades, de Rusudan Glurjidze, exibido na Giornate degli Autori em Veneza; Vermiglio, de Maura Delpero, representante da Itália e premiado em Veneza; da Lituânia, Afogamento Seco, de Laurynas Bareiša; o mexicano Sujo, de Astrid Rondero e Fernanda Valadez; do Paquistão, a animação O Vidreiro, de Usman Riaz, exibido no Festival de Annecy; da Polônia, Sob o Vulcão, de Damian Kocur, exibido no London Film Festival; o português Grand Tour, de Miguel Gomes; da República Tcheca, Ondas, de Jirí Mádl, vencedor do Prêmio do Público no Festival de Karlovy Vary; e do Senegal, Dahomey, de Mati Diop.
Também integram a seleção da 48ª Mostra mais de 80 filmes brasileiros, entre obras contemporâneas, clássicas e infantis. Os filmes da Mostra Brasil estão divididos nas seções Apresentação Especial e Competição Novos Diretores. Os que estão na Mostra Brasil são inéditos em São Paulo, assim como os da Competição Novos Diretores, que exibe obras de cineastas que já dirigiram no máximo dois longas. Os filmes da competição concorrem ao Troféu Bandeira Paulista de melhor filme, entregue pelo Júri Internacional. Além disso, todos os brasileiros da Perspectiva Internacional e da Competição Novos Diretores concorrem ao Prêmio do Público, que inclui o Troféu Bandeira Paulista de melhor filme brasileiro.
Ia Sukhitashvili em Abril, de Dea Kulumbegashvili: filme premiado em Veneza
A seleção nacional traz títulos como: Baby, de Marcelo Caetano, e Malu, de Pedro Freire, recentemente consagrados no Festival do Rio; o pernambucano Lispectorante, de Renata Pinheiro, com Marcélia Cartaxo; Filhos do Mangue, de Eliane Caffé, premiado no Festival de Gramado; o documentário 3 Obás de Xangô, de Sergio Machado, premiado com o Troféu Redentor no Rio; A Queda do Céu, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, exibido na Quinzena de Cineastas, em Cannes; Betânia, de Marcelo Botta, exibido na mostra Panorama em Berlim; o cearense Centro Ilusão, de Pedro Diogenes, premiado no Festival do Rio; Apocalipse nos Trópicos, de Petra Costa, exibido em Veneza fora de competição; Entrelaços, de Fernando Grostein Andrade e Fernando Siqueira; Dormir de Olhos Abertos, de Nele Wohlatz, produzido por Emilie Lesclaux e Kleber Mendonça Filho, e exibido na mostra Encounters em Berlim; O Palhaço de Cara Limpa, de Camilo Cavalcante.
E mais: Os Enforcados, de Fernando Coimbra, com Leandra Leal e Irandhir Santos, e exibido no Festival de Toronto; Enterre Seus Mortos, de Marco Dutra, com Selton Mello, Marjorie Estiano, Danilo Grangheia e Betty Faria, exibido em competição no Rio; o documentário Mambembe, de Fabio Meira; Kasa Branca, de Luciano Vidigal, consagrado no Festival do Rio; Malês, de Antonio Pitanga; o documentário No Céu da Pátria Nesse Instante, de Sandra Kogut, exibido no Festival Biarritz Amérique Latine e vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival de Brasília; Oeste Outra Vez, de Erico Rassi, o grande vencedor do Festival de Gramado; o documentário Parque de Diversões, de Ricardo Alves Jr.; Praia Formosa, de Julia De Simone, premiado no Olhar de Cinema e exibido no Festival de Roterdã; Precisamos Falar, de Pedro Waddington e Rebeca Diniz, com Marjorie Estiano, Alexandre Nero, Emílio de Mello e Hermila Guedes; o documentário Topo, de Eugenio Puppo; Alma do Deserto, de Mónica Taboada Tapia, vencedor do Queer Lion em Veneza; Salão de Baile, de Juru e Vitã, premiado no Rio; Serra das Almas, de Lírio Ferreira; Bicho Monstro, de Germano de Oliveira; entre outros.
A 48ª Mostra fez uma seleção especial com cerca de 30 longas indianos contemporâneos e clássicos para apresentar ao público brasileiro o Foco Índia, que inclui também a retrospectiva ao cineasta Satyajit Ray. A programação oferece uma visão abrangente da cinematografia do país, líder mundial na produção de filmes. A Índia e seu cinema são muitos. Para além de Bollywood, termo que designa os filmes de estúdios produzidos em Bombaim, outras regiões do país, étnica e linguisticamente distintas, preferem filmar histórias locais e narrativas menos codificadas.
Compõem o Foco Índia um dos filmes mais comentados do ano, Tudo que Imaginamos como Luz, segundo longa da diretora Payal Kapadia, premiado em Cannes. E mais: Vivendo de Mentiras, de Ishan Shukla, premiado no Festival de Roterdã; Segunda Chance, de Subhadra Mahajan, exibido na competição do Festival de Karlovy Vary; o documentário Marchando na Escuridão, de Kinshuk Surjan, premiado no CPH:DOX; Roubado, do estreante Karan Tejpal, exibido no Festival de Veneza; Noturnos, de Anupama Srinivasan, premiado no Festival de Sundance; A Fábula, de Raam Reddy, exibido na mostra Encounters da Berlinale; e Na Barriga de um Tigre, de Siddhartha Jatla.
O cartaz da 48ª edição da Mostra é assinado pelo cineasta indiano Satyajit Ray (1921-1992), que além de diretor foi também artista gráfico, compositor, roteirista, publicitário, escritor, diretor de arte, de fotografia, de som, editor, entre outros. O desenho escolhido para a arte desta edição faz parte do storyboard criado por Ray durante a preparação de A Canção da Estrada (1955), seu primeiro longa, que foi premiado em Cannes e indicado ao BAFTA.
A Mostra também preparou uma retrospectiva que reúne sete filmes da primeira e mais decisiva década da filmografia de Ray; A Canção da Estrada é um dos longas que compõem a programação. O filme inaugura a trilogia Apu, que já foi descrita como uma das séries mais luminosas da história do cinema. Os dois trabalhos posteriores, O Invencível (1956), vencedor do Leão de Ouro em Veneza, e O Mundo de Apu (1959), que entrou na lista da National Board of Review, finalizam o tríptico e também integram a retrospectiva. Completam a retrospectiva: O Covarde, de 1965, retrato das mudanças comportamentais na Índia; O Herói, de 1966, que junto com A Grande Cidade, de 1963, traduz os riscos da modernidade e do fardo das tradições; e A Esposa Solitária, de 1964, considerado uma obra-prima sobre a condição feminina.
Além do cartaz principal da Mostra, Satyajit Ray também assina o pôster da 1ª Mostrinha, que vai apresentar uma seleção de filmes voltados às crianças como parte da 48ª edição do evento. A programação voltada ao público que está descobrindo o cinema tem abertura no dia 17 de outubro, com a exibição da coprodução entre Brasil e Índia: Arca de Noé, de Sergio Machado e Alois di Leo. A animação, que conta uma versão do dilúvio bíblico inspirada na obra de Vinicius de Moraes, conta com as vozes de Rodrigo Santoro, Marcelo Adnet, Alice Braga, Lázaro Ramos, Gregorio Duvivier, Julio Andrade, Bruno Gagliasso, Giovanna Ewbank, Eduardo Sterblitch, Ingrid Guimarães e Heloisa Périssé.
Fernanda Torres em Ainda Estou Aqui, de Walter Salles: filme brasileiro aclamado no exterior
Também integram a programação outros filmes inéditos no Brasil que passaram em festivais internacionais, como: a coprodução holandesa e belga Corações Jovens, de Anthony Schatteman, que recebeu Menção Especial da mostra Generation Kplus do Festival de Berlim; o francês O Grande Natal dos Animais, de Caroline Attia, Ceylan Beyoğlu, Olesya Shchukina, Haruna Kishi, Camille Alméras e Natalia Chernysheva, exibido no Festival de Annecy; a coprodução entre Luxemburgo e França, Um Barco no Jardim, de Jean-François Laguionie, exibido nos festivais de Cannes e Annecy; o alemão Vencedores, de Soleen Yusef, exibido no Festival de Berlim; a coprodução entre República Tcheca, Eslováquia e França, Vivendo em Excesso, de Kristina Dufková, exibido no Festival de Annecy; o francês Angelo na Floresta Misteriosa, de Vincent Paronnaud e Alexis Ducord, exibido nos festivais de Cannes e Annecy; a coprodução entre Holanda, Luxemburgo e Bélgica, A Raposa e a Lebre Salvam a Floresta, de Mascha Halberstad, exibido no Festival de Berlim e no BAFICI; e o indiano Boong, de Lakshmipriya Devi, exibido no Festival de Toronto.
A Mostrinha também vai homenagear as três décadas do programa Castelo Rá-Tim-Bum, da TV Cultura, e os 25 anos do longa homônimo de Cao Hamburger baseado na série. A programação também faz um tributo a Ziraldo (1932-2024), com a exibição de Menino Maluquinho: O Filme (1995), de Helvécio Ratton, e Menino Maluquinho 2: A Aventura (1998), de Fernando Meirelles, que contam a história do personagem mais famoso criado pelo cartunista.
A Mostrinha também revisita o japonês Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar (2008), de Hayao Miyazaki, premiado em Veneza, e a versão restaurada do indiano Kummatty (1979), de Govindan Aravindan, que integra também o Foco Índia.
Todos os anos a Mostra concede o Prêmio Humanidade para personalidades que demonstram questões humanistas, sociais e políticas pertinentes ao seu tempo de forma corajosa e sensível. Nesta 48ª edição, o cineasta haitiano Raoul Peck vai receber a honraria por sua obra que combate o racismo, engajada em uma luta que não separa indignação e beleza. Peck nasceu no Haiti e foi criado entre Congo, Estados Unidos, França e Alemanha. Ensinou roteiro e direção na Tisch School of the Arts da Universidade de Nova York e foi presidente da La Fémis, em Paris. Além disso, foi ministro da Cultura do Haiti entre 1996 e 1997.
É diretor, entre outros, de O Homem nas Docas (1993), exibido no Festival de Cannes, Lumumba (2000), que estreou na Quinzena dos Realizadores, também em Cannes, e Abril Sangrento (2005), que participou da competição do Festival de Berlim. Seu filme Eu Não Sou Seu Negro (2016), que tem James Baldwin como tema, foi indicado ao Oscar de melhor documentário e ganhou o Prêmio do Público no Festival de Toronto e de Berlim. O Jovem Karl Marx (2017), exibido na 41ª Mostra, foi apresentado no Festival de Berlim e Silver Dollar Road (2023), no Festival de Toronto. Peck é também diretor da série Extermine Todos os Brutos (2021), que investe contra a crença da história como progresso.
E mais: a 48ª Mostra exibe o filme mais recente do cineasta: Ernest Cole: Achados e Perdidos, premiado como melhor documentário no Festival de Cannes. O longa conta a história do fotógrafo sul-africano Ernest Cole (1940-1990), o primeiro a expor os horrores do apartheid para além das fronteiras da África do Sul.
Além disso, três longas com roteiro e direção do cineasta palestino Michel Khleifi serão revisitados na Mostra: A Memória Fértil (1980); Núpcias na Galiléia (1987), vencedor do Prêmio da Crítica no Festival de Cannes e do prêmio de melhor filme no Festival de San Sebastián; e O Conto das Três Joias Perdidas (1995).
Gonçalo Waddington em Grand Tour, do cineasta português Miguel Gomes
A Mostra também exibe títulos que trazem diversos olhares sobre o Oriente Médio, como: Contos de Gaza, do palestino Mahmoud Nabil Ahmed; Happy Holidays, do palestino Scandar Copti; Israel Palestina na TV Sueca 1958-1989, do sueco Göran Olsson; A Lista, da iraniana Hana Makhmalbaf; No Other Land, dos palestinos Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor; o libanês Linha Verde, de Sylvie Ballyot, premiado em Locarno; Por Que a Guerra? e Shikun, ambos do diretor israelense Amos Gitai.
Integra a programação de obras restauradas: o brasileiro Também Somos Irmãos (1949), de José Carlos Burle, restaurado pela Cinemateca Brasileira e um dos primeiros filmes a abordar o racismo no Brasil. Também serão exibidas cópias restauradas de: Onda Nova: Gayvotas Futebol Clube (1983), de Ícaro (Francisco) C. Martins e José Antonio Garcia, exibido na 7ª Mostra e logo em seguida proibido pela censura, que traz Carla Camurati, Cristina Mutarelli, Cida Moreira, Regina Casé, Tânia Alves, Neide Santos e Patrício Bisso no elenco; Um é Pouco, Dois é Bom (1970), de Odilon Lopez; Brincando nos Campos do Senhor (1991), de Hector Babenco e indicado ao Globo de Ouro; e o curta inédito Auto de Vitória (1966), do baiano Geraldo Sarno, com sessão com debate com o cantor Tom Zé. Em homenagem a Rogério Sganzerla, morto há 20 anos, a Mostra exibe a versão digitalizada do longa Abismu (1977), que teve roteiro e direção do catarinense. A nova cópia do filme foi exibida no Festival de Locarno em 2023.
A Mostra também celebra os 40 anos de lançamento de Paris, Texas (1984), de Wim Wenders, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes, com a exibição da restauração digital do negativo original. Além dele, homenageia os 20 anos de Edukators: Os Educadores (2004), dirigido por Hans Weingartner, exibido em Cannes, que estará presente no evento, com sessões do longa restaurado. Também exibirá a nova cópia do documentário Tokyo Melody: Um Filme sobre Ryuichi Sakamoto (1985), de Elizabeth Lennard. Também será exibida em memória aos 50 anos da Revolução dos Cravos a cópia restaurada de Capitães de Abril (2000), de Maria de Medeiros, vencedor do Prêmio do Júri de melhor filme da 24ª Mostra. A exibição será seguida de uma conversa com a diretora.
Os 100 anos de nascimento do italiano Marcello Mastroianni serão celebrados com a exibição de Marcello Mio (2024), de Christophe Honoré, exibido no Festival de Cannes. Cópias restauradas de seis filmes com o ator produzidos em diferentes países completam a homenagem pelo centenário: Um Homem em Estado… Interessante (1973), de Jacques Demy; O Apicultor (1986), de Theo Angelopoulos; Olhos Negros (1987), de Nikita Mikhalkov, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar; Três Vidas e Só uma Morte (1996), de Raúl Ruiz; e Viagem ao Princípio do Mundo (1997), de Manoel de Oliveira.
Após o sucesso das exibições da Mostra em Manaus no ano passado, filmes da seleção partem nesta 48ª edição para Belém. As sessões na capital paraense, uma parceria com o Cine Líbero Luxardo, equipamento de cultura vinculado à Fundação Cultural do Estado do Pará, ocorrem entre os dias 31 de outubro e 6 de novembro. Entre os filmes que integram a programação da itinerância está Retrato de um Certo Oriente, de Marcelo Gomes, exibido no Festival de Roterdã. A sessão contará com a participação do diretor. A tradicional itinerância promovida pelo Sesc por cidades paulistas ocorrerá em 10 unidades, de 15 de novembro a 15 de dezembro; os filmes da Mostra serão exibidos nos Sesc Araraquara, Piracicaba, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Rio Preto, São Carlos, Birigui, Sorocaba, Jundiaí e Campinas.
A exibição de filmes acompanhados por apresentações musicais já é uma tradição na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Nesta edição, a Mostra apresenta o formato Cine-Concerto, uma apresentação com trilha sonora tocada ao vivo e em tempo real, que ocorrerá durante exibições especiais de cada um dos filmes dirigidos por Rodrigo Areias presentes na programação; todas as apresentações ocorrerão na Sala Grande Otelo, na Cinemateca Brasileira.
Pelo sexto ano, produções em realidade virtual ganham espaço na Mostra. As exibições especiais de filmes no formato estarão disponíveis no Sesc 14 Bis, na Cinemateca Brasileira e no Metrô Itaquera. Entre os trabalhos internacionais estão obras exibidas no Festival de Veneza, como The Art of Change, de Simone Fougnier e Vincent Rooijers; A Simple Silence, de Craig Quintero; e a animação Mamie Lou, de Isabelle Andreani. Já entre os filmes brasileiros, além de diversos trabalhos da produção recente do realizador Tadeu Jungle, acompanhamos a trajetória emocional de uma família pelo olhar de uma menina na animação brasileira 40 Dias sem o Sol, de João Carlos Furia.
A animação Arca de Noé, de Sergio Machado e Alois Di Leo: coprodução entre Brasil e Índia
O IV Encontro de Ideias Audiovisuais, dedicado a fomentar o mercado audiovisual, acontecerá entre os dias 24 e 26 de outubro, na Cinemateca Brasileira. As salas de cinema Oscarito e Grande Otelo, o Espaço Petrobras na Mostra, exclusivamente montado para o evento, e o jardim do local abrigam a programação; o evento é gratuito e aberto ao público em geral. O Encontro é formado por três eventos: III Mercado, o VIII Fórum e o VIII Da Palavra à Imagem e traz mais de 60 convidados.
Para finalizar, a 48ª Mostra concederá o Troféu Bandeira Paulista, uma criação da artista plástica Tomie Ohtake, aos filmes da seção Competição Novos Diretores. Os longas desta seção mais bem votados pelo público após as exibições são submetidos ao júri, que escolherá os vencedores nas categorias melhor filme de ficção, melhor documentário e outras categorias que os jurados desejarem.
O júri deste ano será formado: pela produtora argentina Hebe Tabachnik, pelo ator português Gonçalo Waddington, pelo norte-americano Kyle Stroud (produtor de O Brutalista, Harvest, Eephus e The Line, que integram a seleção da Mostra), pelo crítico francês Thierry Meranger, pela atriz brasileira Camila Pitanga e pelo cineasta iraniano Mohsen Makhmalbaf, que terá seus mais recentes filmes, Aqui as Crianças Não Brincam Juntas e Falando com Rios, exibidos no evento.
Outras duas premiações também serão entregues no encerramento do festival. Prêmio da Crítica | Cinema Internacional: desde 2001, o vencedor é escolhido por um grupo de jornalistas especializados em cinema que cobrem o evento e que escolhem o melhor filme estrangeiro. E o Prêmio Abraccine | Cinema Brasileiro: desde 2012, um júri indicado pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema escolhe o melhor filme brasileiro de diretores estreantes exibido na Mostra, que não tenha sido premiado pela Abraccine em outros festivais pelo país.
Além deles, a Netflix entregará pelo segundo ano consecutivo um prêmio, concedido a um filme brasileiro participante da 48ª Mostra que ainda não tenha contrato com um serviço de streaming, a partir da escolha de uma comissão julgadora liderada pela plataforma. O filme vencedor será adquirido pela Netflix e exibido em diversos países. No ano passado, o premiado foi Saudade Fez Morada Aqui Dentro, de Haroldo Borges.
O Projeto Paradiso também volta a oferecer o Prêmio Paradiso de apoio à distribuição nos cinemas a um dos filmes selecionados para a seção Mostra Brasil. O objetivo é apoiar o lançamento comercial da obra escolhida e estimular a conexão do longa com o público. A escolha do vencedor será feita por meio de uma comissão externa a partir dos títulos mais bem votados pelo público; também será entregue o 3º Prêmio Brada de Direção de Arte.
Vale destacar que nesta edição 109 filmes dirigidos por mulheres serão exibidos na programação. E mais: ao todo, 28 títulos da 48ª Mostra terão recursos de acessibilidade (para pessoas com deficiência auditiva ou visual) por meio da plataforma Mobi LOAD.
Fotos: Divulgação/Courtesy of Neon.