Depois de anunciar os primeiros filmes, a 75ª edição do Festival de Berlim, que acontecerá entre os dias 13 e 23 de fevereiro, revelou os títulos selecionados para as mostras Forum Expanded e Forum Special.
Neste ano, o cinema brasileiro marca presença na Forum Expanded com duas obras: Cartas do Absurdo, de Gabraz Sanna, com Sara Não Tem Nome e Eliakin, que traz o fim do mundo descrito em quatro cartas escritas por indígenas brasileiros no século XVII; o filme trata dos efeitos devastadores do genocídio dos povos indígenas do Brasil nos últimos cinco séculos. E também: Zizi (ou oração da jaca fabulosa), de Felipe M. Bragança, com Leo Tucherman, que traz cenas documentais e encenadas que se misturam nesta história muito pessoal de uma família da periferia do Rio, através das memórias de um quintal, de uma árvore gigante e da mulher que a plantou.
Na 20ª edição da Forum Expanded, que em 2025 apresenta o tema Methods of Translucence, a seleção conta com 24 obras, de 21 países. Empregando práticas que abrangem instalação, filme, vídeo e escultura, os artistas e cineastas selecionados empregam a translucidez como um meio de se envolver com as realidades cataclísmicas do presente. Seja lidando com histórias pessoais ou coletivas, guerras em andamento, extrativismo, legados do colonialismo ou desigualdades sociais, suas abordagens frequentemente dependem da intervenção em vez da observação. Seja por meio de vidro colorido, realidade virtual, especulação histórica ou aumento sônico: suas obras projetam ativamente ideias, imagens e sons que alteram como percebemos a realidade e refratam nossa visão do mundo. Eles tornam o que está faltando ainda mais tangível, redirecionando nosso olhar e, como resultado, lançam o que está além ou fora de nossa percepção em um relevo cada vez mais nítido.
Enquanto isso, na mostra Forum Special, organizada por Barbara Wurm, a seleção exibirá um programa de filmes históricos e atuais, com curadoria em torno de um conjunto de temas relacionados. A seleção corresponde ao programa principal da Forum e confronta o estado devastador do presente ao olhar conscientemente para o passado. Com a temática Open Wounds, Open Words, a mostra forma uma continuação lógica dessas ideias de programação, voltando sua atenção desta vez para as posições da geração mais jovem: crescimento, despertares juvenis, tornar-se adulto e parte da sociedade; em contextos marcados por normas culturais, desigualdade social e injustiça política.
Edna de Cássia em Iracema, Uma Transa Amazônica
Aqui, o Brasil aparece com uma cópia restaurada em 4K de um clássico do Cinema Novo: Iracema, Uma Transa Amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, lançado em 1975. Na trama, um caminhoneiro que trafega pela Transamazônica, a grande rodovia brasileira que atravessa a Floresta Amazônica, conhece uma prostituta e aos poucos percebe os problemas daquela região; o elenco conta com Paulo César Peréio e Edna de Cássia.
Além disso, na Berlinale Co-Production Market, 35 projetos de filmes, de 27 países, foram selecionados, entre eles, dois brasileiros: O Funeral, de Carolina Markowicz, da Biônica Filmes; e Serpente, de Diogo Hayashi, da Quarta-Feira Filmes, com produção de Julia Alves.
O festival também anunciou anteriormente que o cineasta Todd Haynes será o presidente do Júri Internacional desta edição; diretor de filmes como Longe do Paraíso, Carol, Não Estou Lá e Segredos de um Escândalo, foi premiado na Berlinale, em 1991, com seu filme de estreia: Poison, que levou o Teddy Award.
E mais: a consagrada atriz Tilda Swinton será homenageada com o Urso de Ouro Honorário na cerimônia de abertura. Em comunicado oficial, disse: “A Berlinale é o primeiro festival de cinema que fui, em 1986, com Derek Jarman e o primeiro filme que fiz, seu Caravaggio. Foi meu portal para o mundo em que fiz o trabalho da minha vida, o mundo do cinema internacional, e nunca esqueci a dívida que tenho com ele. Ser homenageada dessa forma por este festival em particular é profundamente tocante para mim: será um privilégio e prazer celebrar, mais uma vez em fevereiro, a sementeira que é esta reunião de olhos arregalados e confiavelmente maravilhosa”.
Tricia Tuttle, diretora do festival, também comentou: “A gama de trabalhos de Tilda Swinton é de tirar o fôlego. Ao cinema, ela traz muita humanidade, compaixão, inteligência, humor e estilo, e expande nossas ideias do mundo por meio de seu trabalho. Tilda é um dos nossos ídolos do cinema moderno e também faz parte da família Berlinale há muito tempo. Estamos muito felizes em poder presenteá-la com este Urso de Ouro Honorário”.
Conheça os novos títulos selecionados para o Festival de Berlim 2025:
FORUM EXPANDED
Akher Youm, de Mahmoud Ibrahim (Egito)
Al Basateen, de Antoine Chapon (França/Áustria)
Alternatives Denkmal für Deutschland (ADfD), de Alternative Monument (Alemanha)
beneath the placid lake, de Kush Badhwar e Vyjayanthi Rao (Índia/Finlândia)
Cartas do Absurdo, de Gabraz Sanna (Brasil)
Chang Gyeong, de Jangwook Lee (Coreia do Sul)
Extra Life (and Decay), de Stéphanie Lagarde (Holanda/França)
J-N-N, de Ginan Seidl (Alemanha)
Mikuba, de Petna Ndaliko Katondolo (República Democrática do Congo/EUA)
Miraculous Accident, de Assaf Gruber (Alemanha/Áustria)
Mirage: Eigenstate, de Riar Rizaldi (Indonésia/Reino Unido/Portugal)
Mountain Roars, de Chonchanok Thanatteepwong e Pobwarat Maprasob (Tailândia)
Mua besoj më shpëtoj portreti, de Alban Muja (Kosovo/Holanda)
Photosynthesizing Dead in Warehouse, de Jeamin Cha (Coreia do Sul)
Pidikwe, de Caroline Monnet (Canadá)
Portales, de Elena Duque (Espanha)
RAPTURE, de Alisa Berger (França/Alemanha)
Sinking Suns, de Neda Saeedi (Áustria/Alemanha)
Spetsialna Operatsiia, de Oleksiy Radynski (Ucrânia/Lituânia)
STARS, de STARS Collective (Reino Unido/Alemanha)
Tin City, de Feargal Ward (Irlanda)
When the Sun is Eaten (Chi’bal K’iin), de Kevin Jerome Everson (EUA)
Wilfred Buck’s Star Stories, de Lisa Jackson e The Macronauts (Canadá)
Zizi (ou oração da jaca fabulosa), de Felipe M. Bragança (Brasil)
FORUM SPECIAL
Das falsche Wort, de Katrin Seybold (1987) (Alemanha)
Guochang, de Nana Xu (2025) (Alemanha/China)
Iracema, Uma Transa Amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna (1975) (Brasil/Alemanha)
Mes fantômes arméniens, de Tamara Stepanyan (2025) (França/Armênia)
Nagota, de Sabina Bakaeva (2025) (Uzbequistão/França)
Scars of a Putsch, de Nathalie Borgers (2025) (Áustria/Bélgica)
Shinagani gazapkhulebis q’vaviloba, de Tiku Kobiashvili (2025) (Geórgia)
The Long Road to The Director’s Chair, de Vibeke Løkkeberg (2025) (Noruega)
Fotos: Duas Mariola Filmes/Arquivo Jorge Bodanzky IMS.