28ª Mostra de Cinema de Tiradentes exibirá 140 filmes na programação

por: Cinevitor
Cena do curta potiguar Mukunã: Aprendiz de Pajé, de Rodrigo Sena

A 28ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, que acontecerá entre os dias 24 de janeiro e 1º de fevereiro, contará com 140 filmes brasileiros: 43 longas, 1 média e 96 curtas-metragens, vindos de 21 estados. Os títulos serão exibidos, com programação gratuita, em 62 sessões divididas em vários recortes, além de debates, encontros e rodas de conversa.

A curadoria teve coordenação geral de Francis Vogner dos Reis. A comissão de longas-metragens contou com as presenças de Juliano Gomes e Juliana Costa, além de Francis. A de curtas-metragens teve participações de Camila Vieira, Mariana Queen Nwabasili, Leonardo Amaral, Lorenna Rocha e Rubens Fabricio Anzolin.

A Mostra de Cinema de Tiradentes 2025 abre na noite de 24 de janeiro com a pré-estreia de Girassol Vermelho, novo longa-metragem do diretor mineiro Éder Santos, extensão de um de seus trabalhos mais aclamados que se tornou uma ficção protagonizada por um elenco estrelado formado por Daniel de Oliveira, Chico Diaz e Bárbara Paz.

Como já anunciado, em 2025 a Mostra homenageará a atriz catarinense Bruna Linzmeyer, um dos nomes mais representativos de sua geração. Com uma carreira marcada pela coragem e versatilidade, Bruna transita entre o cinema independente e produções televisivas de grande alcance. A homenagem celebra não apenas sua trajetória como atriz, mas também o engajamento com um cinema inventivo, poético e provocador. A Mostra vai promover um recorte de títulos com a atriz para ser exibido ao longo do evento; os filmes são: o recente e premiado Baby, de Marcelo Caetano; A Frente Fria que a Chuva Traz, de Neville d’Almeida; Cidade; Campo, de Juliana Rojas; o sexto episódio da série Notícia Populares, de Marcelo Caetano; Uma Paciência Selvagem me Trouxe até Aqui, de Eri Sarmet; Se Eu to Aqui é por Mistério, de Clari Ribeiro; Medusa, de Anita Rocha da Silveira; O Filme da Minha Vida, de Selton Mello; O Grande Circo Místico, de Cacá Diegues; e Alfazema, de Sabrina Fidalgo.

A mostra Olhos Livres passa a ser avaliada pelo Júri Oficial com exibições no horário noturno, enquanto a Mostra Aurora será avaliada pelo Júri Jovem com sessões no fim da tarde. Além disso, a Aurora agora passa a contar com filmes exclusivamente de cineastas em seu primeiro longa-metragem.

A Olhos Livres tem se destacado nos últimos anos ao exibir filmes que resgatam o espírito original da Aurora, quando a proposta era desbravar novos caminhos na produção autoral. Muitos desses filmes são de nomes que, apesar de se firmarem como jovens veteranos, continuam a apostar na radicalidade inventiva que marca suas obras. Em sua 18ª edição, a Aurora é espaço exclusivo de primeiros longas-metragens. Com isso, a curadoria preserva o conceito original do recorte, que é o de apontar e descobrir realizadores em trabalhos iniciais na direção e os rumos do cinema contemporâneo brasileiros. Clique aqui e saiba mais.

Everaldo Pontes e Tavinho Teixeira em Batguano Returns: Roben na Estrada

Neste ano, dois filmes fazem parte do recorte temático Que cinema é esse?: os longas-metragens Relâmpagos de Críticas, Murmúrios de Metafísicas, de Julio Bressane e Rodrigo Lima; e Odradek, de Guilherme de Almeida Prado. Quantas imagens podem existir em um plano? O quanto o princípio de organização de uma montagem tem como destino poético a desorganização, a fim de criar ou encontrar algo que não está dado, seja no texto do filme, seja na própria materialidade das coisas que filma ou e na nossa percepção? Em uma época em que se discute, se pratica e se demanda objetos audiovisuais pensados a partir de uma economia de tempo que facilite a produção serial (e industrial) de padrões e que trabalhe, junto ao espectador, com o imperativo da eficiência cognitiva que dispensa a concentração da atenção, esses dois filmes, não só por suas durações (duas hora e meia no filme de Lima e Bressane, quatro horas e meia no de Almeida Prado), mas principalmente pelo caráter de seus trabalhos de concepção do tempo na relação, na duração e na intervenção nas imagens.

O sentido que soa mais latente no conjunto da Mostra Autorias em 2025 é o de uma ênfase nas trocas e nas transformações. Seja na duplicidade dos músicos que conduzem Centro Ilusão (CE), de Pedro Diogenes, cuja permuta (histórica, estética, libidinal) é central como tarefa do trajeto fílmico; ou na fantasmagoria da correspondência de Lota de Macedo Soares habitando a escuridão presente do parque urbano carioca em Para Lota (RJ), de Bruno Safadi e Ricardo Pretti; nas variações entre contar e ver, simbolizar e ser, entre humano e coisa, textura e vida, entre si e outro, que experimentamos em Uma Montanha em Movimento (SP), de Caetano Gotardo; ou nas interações corporais e subjetivas tornadas jogos de montar e desmontar, em Parque de Diversões (MG), de Ricardo Alves Jr. As peças se apresentam para, no trajeto dos filmes, tornarem-se outras. E a possível autobiografia familiar de Sueli Maxakali se torna uma jornada essencialmente coletiva em Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá (MG/MS), de Isael Maxakali, Luisa Lanna, Sueli Maxakali e Roberto Romero, em que toda uma comunidade humana e extra-humana participa, entre presenças e projeções.

As exibições da Mostra Praça são um dos pontos de culminância do aspecto coletivo e comunitário que marca a Mostra de Tiradentes. As centenas de pessoas que se juntam na Praça Tiradentes estão ao mesmo tempo interagindo e experimentando o espaço da cidade, seu contexto imediato, às vezes envolvidos em outras atividades simultaneamente, o que exige da curadoria refletir e trabalhar ideias de coletividade que aparecem nos próprios filmes de diferentes formas.

Este ano, a programação de longas e curtas-metragens da Praça inclui:

LONGAS-METRAGENS

3 Obás de Xangô, de Sérgio Machado (RJ/BA)
Alma Negra: Do Quilombo ao Baile, de Flavio Frederico (SP)
Kasa Branca, de Luciano Vidigal (RJ)
Malês, de Antonio Pitanga (RJ)
Milton Bituca Nascimento, de Flavia Moraes (SP)

CURTAS-METRAGENS

A Fumaça e o Diamante, de Bruno Villela, Fábio Bardella e Juliana Almeida (DF)
Canto das Areias, de Maíra Tristão (ES)
Cavaram uma Cova no Meu Coração, de Ulisses Arthur (AL)
Daimara y el Baile Zombie, de Natália Keiko e Tom Hamburger (SP)
Fluxo: O Filme, de Filipe Barbosa (SP)
Fulano de Tal, de André P. Barata, Reinê Pires Muzzi e Vane Ferreira (SP)
Goiânia: Notas Pendulares sobre a Metrópole, de O. Juliano Gomez (GO)
Junho de 2002, de Tainá Lima (MG)
Mukunã: Aprendiz de Pajé, de Rodrigo Sena (RN)
Phoenix Club, de Gabriela Araújo (AL)
Procura-se uma Rosa, de Julia Moraes (RJ)
Reciclos, de Diego Guerra (RJ)
Stella do Patrocínio e a Gênese da Poesia, de Milena Manfredini (RJ)
Travessia, de Karol Felicio e Isadora Carneiro (ES)
Yby Katu, de Kaylany Cordeiro, Jessé Carlos, Ladivan Soares, Geyson Fernandes e Rodrigo Sena (RN)

Novidade em 2024, a mostra Clássicos de Tiradentes traz um recorte que pretende revelar um universo de filmes que atentam contra duas noções vulgares mais convencionais sobre a ideia clássico: a de filmes amplamente conhecidos e que fazem parte de uma memória em comum do público e a que parasita a ideia de obras de arte que primam pelo equilíbrio e por uma forma de expressão ideal. Nesta segunda edição, serão apresentados filmes que deram rumos fundamentais à Mostra de Tiradentes como espaço de invenção e projeção visionária: Conceição: Autor bom é Autor Morto (RJ), de André Sampaio, Cynthia Sims, Daniel Caetano, Guilherme Sarmiento e Samantha Ribeiro, exibido no evento em 2007 e que serviu de prévia do que viria a ser a Mostra Aurora, criada no ano seguinte; e o curta-metragem Maldição Tropical (RJ), de Luísa Marques e Darks Miranda, que em 2017 disputou a Mostra Foco no ano seguinte à derrubada da presidente Dilma Rousseff e trouxe a impressão amarga de que o Brasil é, e sob certo aspecto sempre foi, uma ruína do futuro.

Vitória Vasconcellos: atriz e diretora do curta Esconde-Esconde

Na Mostra de Curtas serão exibidos 96 títulos escolhidos e distribuídos nas mostras Foco (13), Formação (13), Panorama (24), Praça (15), Homenagem (3) Jovem (5), Valores (4), CineEmbraturLab (4), Mostrinha (6), Clássicos de Tiradentes (1) e Território Mineiro (8). Entre elas, a Foco tem avaliação do Júri da Crítica e mantém o perfil da pluralidade e radicalidade, atenta à emergência de expressões sofisticadas de quem está começando pelo curta ou de cineastas experientes que continuam explorando o formato como meio de experimentação e refinamento. Clique aqui e saiba mais.

Em Sessões Debate, serão dois filmes que, além de provocarem discussões sobre a atualidade, se debatem internamente em seus temas e formas. Enquanto Tijolo por Tijolo (PE), de Victoria Alvares e Quentin Delaroche, opta por uma narrativa documental de observação para buscar uma síntese fragmentada de um recorte da sociedade brasileira contemporânea, Trópico de Leão (SP), de Luna Alkalay, apresenta a subjetividade da diretora em um filme ensaio complexo que tem na palavra sua base de expressão.

Na mostra Vertentes, dois filmes dialogam com estruturas consolidadas do cinema e se integram às narrativas da história da arte para rever os gêneros aos quais se remetem explicitamente. Oeste Outra Vez (GO), de Erico Rassi, explora o sertão de Goiás com referências ao faroeste, mas troca o embate mortal pelo tédio da escassez; em vez do ouro e da conquista típicos do western clássico, o filme aborda a ausência de perspectivas no coração do Brasil. Já Sem Vergonha (RJ), de Rafael Saar, tem Maria Alcina interpretando sua própria biografia, em uma celebração de exuberância e teatralidade. Incorporando a chanchada e o teatro de revista, o filme resgata a irreverência dessas formas artísticas enquanto questiona os limites entre arte e realidade. A pungência de Alcina dá profundidade à encenação, evocando reflexões sobre identidade e autobiografia

Com parte de sua programação voltada às crianças, visando o entretenimento e a educação como parte das ações do evento em atenção à comunidade, a Mostra de Tiradentes exibe em 2025 na Mostrinha: Dentro da Caixinha: Mundo de Papel (MG), de Guilherme Reis, e A Mensagem de Jequi (MG), de Igor Amin, além de curtas-metragens. Ambos os filmes buscam conectar ou reconectar as crianças aos temas e questão do mundo à sua volta e desperta a atenção delas para a responsabilidade com o contexto no qual vivem.

Na programação da Mostra acontece um recorte dedicado a atividades do Brasil CineMundi, encontro internacional de coprodução realizado anualmente na CineBH – Mostra de Cinema de Belo Horizonte. Em Tiradentes, a Conexão BCM promove sessões Work in Progress, com filmes em processo de finalização que são vistos por consultores e convidados especializados na indústria do audiovisual. Em 2025, os filmes WIP são: Nós a Sós (RS), de Márcio Picoli e Victor Di Marco; Morte e Vida Madalena (CE), de Guto Parente; A Voz de Deus (SP), de Miguel Antunes Ramos; Não Estamos Sonhando (CE), de Ulisses Arthur; e O Monstro (SP), de Helena Guerra.

Milton Bituca Nascimento: documentário de Flavia Moraes

Sobre o encerramento: Suçuarana, mais recente projeto da produtora mineira Anavilhana Filmes, é a primeira direção compartilhada de Clarissa Campolina e Sérgio Borges no formato de longa-metragem. Exibido nos festivais de Chicago, Roterdã e Brasília, o filme encerra a 28ª Mostra de Tiradentes. Na narrativa, acompanhamos Dora em uma aventura solitária a caminho da terra que teria pertencido a sua mãe e leva o nome do título: Suçuarana. Como uma Alice no País das Maravilhas na estrada, no percurso em direção a sua Shangri-Lá, a protagonista encontra e desencontra personagens que auxiliam e confundem o trajeto em direção ao seu retorno ao lar.

Diversos títulos da 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes integrarão a programação on-line do evento, que vai reunir títulos, alguns exibidos apenas neste formato, na plataforma do evento. A seleção inclui títulos da Mostra Panorama e da Mostra Homenagem e serão disponibilizados para visualização entre os dias 24 de janeiro e 1 de fevereiro, simultaneamente à realização da programação presencial da Mostra na cidade histórica mineira. Além disso, um recorte especial da Mostra estará disponível na plataforma IC Play, entre os dias 3 e 16 de fevereiro.

Nesta edição, a Universo Produção irá oferecer premiação em dinheiro para os vencedores das mostras Aurora, Olhos Livres, Foco e Formação. Além disso, a 28ª Mostra Tiradentes conta com uma rede de parceiros que distribuem premiações em várias categorias.

A Universo Produção em parceria com a plataforma Festival Scope Pro oferece o Prêmio Festival Scope para filmes da programação da 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Essa premiação tem o objetivo de criar oportunidades de distribuição e programação para filmes e talentos independentes do cinema brasileiro. O prêmio consiste na divulgação e disponibilização dos filmes na plataforma para profissionais da indústria cinematográfica no mundo todo. Ao todo, vinte filmes serão premiados: os longas das mostras Aurora e Olhos Livres, os filmes vencedores das mostras Autorias, Foco e Formação, os vencedores dos prêmios Canal Brasil de Curtas e Helena Ignez, e o curta e o longa escolhidos pelo Júri Popular.

Maior evento do cinema brasileiro contemporâneo em formação, reflexão, exibição e difusão realizado no país, apresenta, exibe e debate, em edições anuais, o que há de mais inovador e promissor na produção audiovisual brasileira, em pré-estreias mundiais e nacionais; uma trajetória rica e abrangente que ocupa lugar de destaque no centro da história do audiovisual e no circuito de festivais realizados no Brasil.

Fotos: Bobox Produções/Casa da Praia Filmes/Divulgação.

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