Diretora: Anna Muylaert
Elenco: Ary França, Etty Fraser, Isabela Guasco, Marisa Orth, Letícia Sabatella, Rita Lee, André Abujamra, Theo Werneck, Chico Américo, Tânia Bondezan, Claudia Juliana, Bicudo Júnior, Ken Kaneko, Marcelo Mansfield, Beto Mello, Primo Preto, Regina Remencius, Wilson Sampson, Fábio Sleiman, Kadu Torres.
Ano: 2002
Sinopse: Solteirão, com jeitão de hippie, Durval tem uma loja de discos e ainda mora com a mãe. Com a chegada do CD, se recusa a vendê-los, mantendo-se fiel ao vinil. O inesperado aparecimento de uma menina mudará para sempre as vidas de Durval e de sua mãe dominadora, mostrando que tudo tem um lado A e um lado B, como nos velhos e eternos LPs.
ENTREVISTA COM A DIRETORA:
1. No making-of você conta que sempre gostou de trabalhar com crianças e que se a escolha não for bem feita, ela pode atrapalhar na hora da filmagem. Como foi trabalhar com a atriz Isabela Guasco, que segundo a preparadora de elenco infantil, Dorothy Cross, tem a personalidade muito parecida com a da personagem Kiki?
Foi muito legal. Ela era uma menina muito viva e amorosa. E a mãe dela (quando se trabalha com criança que é atriz, a mãe é parte fundamental) era bem relax e legal. A Isabela sempre foi muito colaborativa.
2. Você conta também que foi realizado um grupo de estudos antes de começar as filmagens e que em um fim de semana foi feito um esboço do filme para se ter uma ideia de como seriam filmadas as cenas. A trilha sonora começou a ser discutida desde o começo ou somente depois quando começaram as filmagens de verdade?
Sempre foi discutida a trilha sonora, mas fomos fechando aos poucos durante a produção com a presença do Pena Schmidt [produtor musical] que me ajudou a definir.
3. Qual o motivo de abordar o tema “apego materno” no filme?
O amor exagerado das mães pelos filhos, o amor que sufoca em vez de libertar. Quis falar disso porque acho um tema super importante, universal.
4. Vivian Golombek, produtora de elenco, disse que foram feitos vários testes para a escolha do Durval. Você acompanhou o processo de seleção dos personagens? E por que escolher Ary França, já que ele interpretava um Durval diferente daquele que estava no roteiro?
Sim, eu fiz todas as leituras com os atores para Durval. Eu escolhi o diferente porque justamente foi isso que deu a eletricidade do personagem. Com o Ary, o Durval viveu.
5. Você disse que quis fazer um filme bem brasileiro e Durval Discos é bem diferente de produções como Central do Brasil e Cidade de Deus, que abordam temas como pobreza e marginalização. Por quê você optou por uma estética diferente, mostrando um outro lado do Brasil?
Eu quis fazer um filme simples, barato, sem pompas, brasileiro na sua textura e sonoridade, mas universal na sua temática.
6. O cinema nacional tem sido bastante reconhecido por aqui e também internacionalmente. Ser o grande vencedor do Festival de Gramado de 2002 ajudou para a distribuição e comercialização do filme?
Sim, ter ganhado Gramado fez o filme circular pela mídia.
7. Por quê escolher para fazer parte da trilha sonora pérolas como “Que Maravilha” do Jorge Ben e “Madalena” de Elis Regina?
Porque a gente gostava, eram músicas boas e importantes. E conseguimos os direitos a um preço acessível. Raul Seixas, por exemplo, não entrou porque a viúva cobrou um preço abusivo.
8. Você disse que as músicas determinariam o visual do Durval. A trilha sonora ajudou a caracterizar o personagem?
Sem dúvida. Quando definimos que as músicas eram só aquelas dos anos 70, fechamos um visual anos 70.
9. Pena Schmidt, produtor musical, escolheu o repertório chamado de Lado A e André Abujamra o Lado B. Qual a importância da trilha sonora no filme Durval Discos?
A trilha do Lado A é a alegria do amor dos três personagens. A do Lado B é composta e dá o clima da tensão que acontece.
10. O filme se passa na década de 1990 e segundo Westerley Dornelles, responsável pela caracterização, Durval tem uma aparência da década de 1970. Por quê essa escolha para o personagem?
Porque tem muita gente na vida real parada nos anos 1970. Foi uma década marcante.
11. Como foi o processo de captação para o filme?
Durou 4 anos. Ganhamos a maioria em concursos públicos.
12. Você estava escrevendo dois roteiros: Que Horas Ela Volta? e As Guerras de Todos Nós. Quando pretende começar a produzir um novo filme? E já escolheu qual será o roteiro?
Escolhi começar por As Guerras de Todos Nós, que agora se chama É Proibido Fumar. Escolhi esse porque está mais pronto. O outro será o próximo. Já comecei a trabalhar no filme novo, acertei a coprodução na semana passada.
13. Quais foram suas maiores influências para fazer cinema?
Não sei. Sempre quis. Gostava de filmar, gostava de cinema. Achava e ainda acho uma coisa bastante difícil e importante.
14. Ganhar sete kikitos aumenta a responsabilidade de fazer cinema?
Creio que sim. No começo mais. Agora já desencanei, esqueci, estou partindo para outro filme com a alma virgem de novo, cheia de medo e desejo como se fosse a primeira vez.
15. Durval Discos foi seu primeiro longa. Valeu a pena? O resultado final foi aquilo que você esperava?
Sim. Super valeu a pena. Agora quero fazer outros. Meu sonho é fazer uma obra coesa, não apenas um filme.
(Entrevista realizada por e-mail, em novembro de 2004).
Nota do CINEVITOR: