Documentário autobiográfico: premiado ao redor do mundo.
O documentário A Meia Voz (A Media Voz), dirigido pelas cineastas cubanas Heidi Hassan e Patricia Pérez Fernández, encerrou, na quinta-feira, 10/12, a Mostra Competitiva ibero-americana de longas-metragens da 30ª edição do Cine Ceará.
Através da correspondência audiovisual entre duas cineastas cubanas radicadas na Galiza e Genebra, articula-se o diálogo deste documentário etnoautobiográfico. Duas mulheres à beira dos 40 anos enfrentam os desafios da emigração, tentando se reconstruir longe do seu país natal. Duas histórias em que identidade, maternidade e criação se entrelaçam e impulsionam.
Vencedor do principal prêmio no IDFA, Festival Internacional de Documentários de Amsterdã, A Meia Voz também foi consagrado no Festival de Havana, Málaga, Atenas, Ventana Sur e CinéMartinique. Para falar mais sobre o filme, as diretoras participaram, direto de Madri, na Espanha, do debate mediado pela crítica de cinema Neusa Barbosa, que aconteceu no dia seguinte à exibição no Cineteatro São Luiz, em Fortaleza.
Sobre o começo do projeto, Patricia Pérez Fernández falou: “Foram quatro anos em fase de financiamento para conquistar os produtores sobre um projeto com caráter tão pessoal. Queríamos convencê-los de que, embora fosse um filme autobiográfico, falava também de um contexto geral. Tivemos que encontrar as palavras certas que dessem sentido ao projeto. Quando, finalmente, conseguimos o dinheiro, decidimos começar essa comunicação entre nós duas, que aparece já no começo do filme em tempo real. Passamos oito meses em intercâmbio de vídeo-cartas; demorou um pouco para encontrar a voz que precisávamos para traças esse arco entre nós”.
E completou: “A motivação principal para realizar o filme era entender como nos sentíamos com 40 anos, mulheres, imigrantes cubanas e cineastas. Todas essas respostas foram encontradas durante o processo do filme. Essa busca pela identidade, foi, pelo menos, o ponto de partida do processo criativo”.
Patricia e Heidi: as cineastas participaram virtualmente do debate.
Heidi Hassan comentou sobre a linguagem do documentário: “Durante o processo do roteiro, enxergamos diversas possibilidades. Mas, encontramos a linguagem no momento da montagem, pois essa construção é complexa. O processo anterior de escrita era muito teórico e só ganhou sua forma real quando encontrou esse vínculo pessoal”. Patricia completou: “Esse processo foi feito de maneira separada. Eu escrevia, editava e pensava nas imagens e nos sons. A outra respondia da mesma maneira. Depois disso, o processo foi resolvido na própria edição com a montadora Diana Toucedo”.
Consagrado em festivais, Heidi lembrou da exibição em Cuba: “O filme tem feito uma carreira muito bonita por onde passa e consegue chegar aos corações de públicos diferentes. Certamente, a apresentação no Festival de Havana foi muito especial. Na sala, todos identificaram algum conhecido que tinha vivido uma história parecida. A questão da imigração é um tema muito recorrente em Cuba, porém pouco tratada no cinema”.
Questionada sobre a presença feminina nos filmes e festivais, Patricia comentou: “A participação hoje em dia é muito mais presente. Tenho visto muitos júris formados por várias mulheres, além de filmes premiados e dirigidos por mulheres. Na Europa, alguns editais apoiam projetos onde a equipe principal é feminina”. Heidi completou: “Isso é necessário e espero que em algum momento seja um cenário mais aberto, natural e equilibrado. Eu acredito que realizar esse filme é um ato de resistência; é um canto à resistência para defender nossa profissão”, finalizou.
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Fotos: Divulgação.