A 28ª edição do Cine PE – Festival do Audiovisual começou nesta quinta-feira, 06/06, no Teatro do Parque, no Recife. A cerimônia, apresentada pela atriz pernambucana Nínive Caldas, contou com uma emocionante homenagem às trilhas sonoras de filmes brasileiros.
A Orquestra Bravo, sob a batuta do maestro Dierson Torres, executou as músicas Mulher Rendeira, do filme O Cangaceiro, de Lima Barreto; O Que Será?, de Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto; Bye Bye Brasil, do longa de mesmo título de Cacá Diegues; Esperando na Janela, de Eu Tu Eles, de Andrucha Waddington; Bicho de Sete Cabeças, do filme homônimo de Laís Bodanzky; O Tempo Não Pára, de Cazuza: O Tempo Não Pára, de Sandra Werneck e Walter Carvalho; e Tempo Perdido, de Somos Tão Jovens, de Antonio Carlos da Fontoura.
Nos momentos finais do concerto, a orquestra recebeu convidados especiais que abrilhantaram a apresentação com seus vocais: o cantor e compositor Silvério Pessoa, que cantou Você Não Me Ensinou a Te Esquecer, de Lisbela e o Prisioneiro, de Guel Arraes; Carlos Filho, ex-participante do The Voice Brasil, que cantou Beatriz, de O Grande Circo Místico, de Cacá Diegues; e Mariana Rocha, do The Voice Kids, que deu voz a Como Nossos Pais, de Ainda Somos os Mesmos, de Paulo Nascimento, filme de abertura do Cine PE do ano passado. Enquanto a música preenchia a sala, cenas dos filmes homenageados foram projetadas na tela.
A noite também foi marcada por uma homenagem à atriz e cantora Tania Alves, por sua inestimável contribuição ao cinema e à música brasileira. Ela recebeu a Calunga de Ouro das mãos do Maestro Spok, do prefeito do Recife, João Campos, e da governadora do estado de Pernambuco, Raquel Lyra.
Ovacionada pelo público, fez um discurso emocionante e agradeceu pelo reconhecimento citando alguns dos pernambucanos que marcaram sua carreira artística, começando pelo seu pai, recifense de Casa Amarela: “Eu sou atriz graças a um pernambucano que me ensinou a pisar no palco de forma visceral e despudoradamente brasileira. Seu nome é Luiz Mendonça”, declarou, relembrando ainda Robertinho do Recife, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Carlos Fernando e Dominguinhos, além dos paraibanos Elba Ramalho e Zé Ramalho. Entre risos e lágrimas, a homenageada contou que sua primeira vez no carnaval de Recife e Olinda foi a convite de Spok, para cantar com sua orquestra.
Ainda no palco, relembrou sucessos de sua carreira nas telonas, como os filmes: Cabaret Mineiro, de Carlos Alberto Prates Correia, que lhe rendeu o kikito de melhor atriz coadjuvante em Gramado; O Olho Mágico do Amor, de José Antônio Garcia e Ícaro Martins, vencedora do Prêmio APCA; Parahyba Mulher Macho, de Tizuka Yamasaki, no qual foi consagrada no Festival de Havana e no Festival de Cartagena; e O Mágico e o Delegado, de Fernando Coni Campos, exibido no Festival de Brasília. Lembrou também alguns trabalhos na TV, entre eles, a minissérie Lampião e Maria Bonita e o especial Morte e Vida Severina, da Rede Globo.
Aplaudida, finalizou o discurso: “Ser ator, que missão sagrada é a nossa! Tenho certeza que teremos momentos inesquecíveis. Contem comigo! Estarei por inteira recebendo essa graça por todos os poros. Minha gratidão eterna”.
Equipe de Grande Sertão no Cineteatro do Parque
O prefeito João Campos aproveitou a ocasião para comentar a recente desapropriação dos edifícios Trianon e do Art Palácio, extintos cinemas de rua localizados na Avenida Guararapes, para a construção de um Instituto Federal: “Vamos fazer as salas de aula no Trianon e uma sala de audiovisual, que será usada como auditório do Instituto Federal e também um cinema aberto à população do Recife, no Art Palácio”. E brincou: “É uma alegria receber a 28ª edição do Cine PE. Fui dar uma entrevista antes e a repórter comentou que o festival é da minha idade. É quase isso. Eu tenho 30 e o Cine PE tem 28. Quase empatamos, mas estamos diante de um grande patrimônio recifense”.
Raquel Lyra comentou sobre a importância de fomentar a arte, a cultura e a economia criativa: “A gente não quer artista pedindo esmola. A gente quer artista que possa viver da sua arte o ano inteiro”, pontuou a governadora de Pernambuco.
Na sequência da homenagem, a equipe do longa-metragem Grande Sertão, de Guel Arraes, subiu ao palco para apresentar o filme de abertura do Cine PE 2024: “É uma honra, uma alegria e uma emoção muito grande mostrar esse filme aqui. Queria saudar dois grandes homens pernambucanos da minha família: meu pai Miguel Arraes e meu sobrinho Eduardo Campos”. E continuou: “O filme Grande Sertão transpõe a história contada por Guimarães Rosa, esse monumento da literatura brasileira, para a guerra da favela, entre polícia e bandidos, essa guerra que até hoje a gente tem dificuldade de entender. Eu não vejo solução nem à direita nem à esquerda. A direita tem uma solução ruim a curto prazo, a esquerda tem uma solução boa a longo prazo demais. E a arte não tem uma solução prática pra vida, como a política, mas a arte pode dar uma visão mais profunda, mais humana de uma realidade”.
A adaptação cinematográfica do clássico literário Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, atraiu uma audiência ansiosa, que lotou o Cineteatro do Parque. Além do cineasta pernambucano, o evento contou com a presença ilustre do elenco principal, incluindo Luisa Arraes, Caio Blat, Eduardo Sterblitch, Rodrigo Lombardi e Luis Miranda, que fizeram questão de prestigiar a première.
Estrelado por Caio Blat (Riobaldo) e Luisa Arraes (Diadorim), o filme transpõe o universo da violência dos jagunços do sertão para o território das organizações criminosas de uma periferia urbana, cercada por muros gigantescos, em um tempo indeterminado. A história, narrada em tom épico, segue a trajetória de Riobaldo, professor que ingressou no bando por amor a Diadorim, um dos bandidos.
Grande Sertão, produzido por Manoel Rangel, Egisto Betti e Heitor Dhalia, já foi exibido na 27ª edição do Tallinn Black Nights Film Festival (PÖFF), na Estônia, em novembro de 2023, e recebeu o prêmio de melhor direção na categoria Critic’s Picks. Uma das grandes apostas do cinema brasileiro deste ano, o filme é produzido pela Paranoïd Filmes em coprodução com a Globo Filmes e distribuição da Paris Filmes.
A 28ª edição do Cine PE segue até 11 de junho com exibições de filmes e diversas atividades paralelas na capital pernambucana.
*Clique aqui e confira as entrevistas com o elenco de Grande Sertão
*O CINEVITOR está no Cine PE e você acompanha a cobertura do evento por aqui, pelo canal do YouTube e pelas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.
Fotos: Felipe Souto Maior.