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Não Há Mal Algum

por: Cinevitor

naohamalalgumposter1Sheytan vojud nadarad
There Is No Evil

Direção: Mohammad Rasoulof

Elenco: Ehsan Mirhosseini, Shaghayegh Shoorian, Kaveh Ahangar, Alireza Zareparast, Salar Khamseh, Kaveh Ebrahim, Reza Bahrami, Darya Moghbeli, Mohammad Valizadegan, Mahtab Servati, Anahita Eghbalnejad, Hassan Tasiri, Mohammad Seddighimehr, Jila Shahi, Baran Rasoulof, Saliicii, Pouya Mehri, Gholamhosein Taseiri, Parvin Maleki.

Ano: 2020

Sinopse: Todo país que aplica a pena de morte precisa de pessoas para serem os executores. No Irã, quatro homens são colocados diante de uma escolha impensável, mas, ao mesmo tempo, simples. Não importa a decisão que eles tomem, ela irá transformar de maneira corrosiva, direta ou indiretamente, eles mesmos, seus relacionamentos e a vida de cada um. As quatro histórias são variações de temas cruciais ao redor de questões morais e da pena de morte, e que questionam até que ponto a liberdade individual pode ser expressa sob um regime tirânico e suas ameaças aparentemente incontornáveis.

*Filme visto na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Nota do CINEVITOR:

nota-3,5-estrelas

Conheça os curtas-metragens paraibanos selecionados para o 15º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro

por: Cinevitor

remoinhoaruanda2020Cely Farias no curta Remoinho, de Tiago A. Neves.

Depois de revelar os curtas-metragens nacionais em competição e o filme de abertura, a 15ª edição do Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro, que acontecerá entre os dias 10 e 17 de dezembro, em João Pessoa, divulgou a lista com os dez curtas paraibanos que estarão na mostra competitiva Sob o Céu Nordestino.

Além disso, a organização também revelou o primeiro longa-metragem selecionado para a mostra competitiva nacional: o documentário Todas as Melodias, dirigido por Marco Abujamra, sobre o cantor e compositor Luiz Melodia. “É um orgulho muito grande voltar à Paraíba e agora para apresentar esse filme sobre Luiz Melodia, nosso cantor, compositor, dançarino e outras coisas mais”, disse o diretor em um vídeo postado nas redes sociais.

Em comunicado oficial, Amilton Pinheiro, curador do festival, disse: “A seleção reflete novas possibilidades cinematográficas. Do sertão que nunca vira mar, passando pela cidade multifacetada com sua busca de existência de gêneros e geográfica, seja no presente ou em um futuro distópico, até a faceta incomum da animação como expressão, os curtas-metragens entrelaçam organicamente propostas inventivas de linguagem e de elementos narrativos como possibilidades cinematográficas”.

E mais: o documentário Me Chama Que Eu Vou, de Joana Mariani, sobre o cantor Sidney Magal será o filme de encerramento desta edição; Os Quatro Paralamas, de Roberto Berliner e Paschoal Samora, vai abrir o festival este ano.

Conheça os curtas paraibanos selecionados para o Fest Aruanda 2020:

A Pontualidade dos Tubarões, de Raysa Prado
Cura-Me, de Eduardo Varandas Araruna
E agora, Você, de Edson Lemos Akatoy
Makinaria, de Igor Tadeu
Maracastelo Chegou, de Ângela Gaeta
Marília e Arthur, de Astrée Cleyet-Merle
Não Mora Mais em Mim, de Vitor Celso e Bruna Guido
Pranto, de Jaime Guimarães
Reinado Imaginário, de Hipólito Lucena
Remoinho, de Tiago A. Neves

Foto: Divulgação.

A Morte do Cinema e do Meu Pai Também

por: Cinevitor

mortedocinemapaiposter1The Death of Cinema and My Father Too

Direção: Dani Rosenberg

Elenco: Roni Kuban, Marek Rozenbaum, Natan Rosenberg, Ina Rosenberg, Noa Koler, Sabina Rosenberg, Ruth Farhi, Uri Klauzner, Wilma Neubert, Ben Paz, Daniela Doron, Hillel Ben Zeev Perlov, Alex Karol, Gal Rumbak, Tomer Schory, Ravid Maimon, Tzvi Bassin, Yonatan Bar Or, Pini Tavger, Deborah Arushas, Yoav Levi, Stefan Sarkisian, Aviv Soroker, Regev Amar, Yuval Segal, Sagi Leshem, Naomi Yoeli, Dani Muggia, Moran Ifergan, Dana Rosenberg, Miki Rosenberg, Ruthie Rosenberg, Gili Rosenberg, Lida Nerizon, Nadav Malkieli, David Ramzanov, Leonid Vandrov, Grigg Veri Shapira.

Ano: 2020

Sinopse: Misto de ficção e documentário, o filme acompanha o cineasta Assaf, que está prestes a ser pai pela primeira vez. Junto da família, ele recebe a notícia de um ataque iraniano iminente em Tel Aviv. Seu pai, Yoel, quer levar todos a um local seguro, em Jerusalém. Antes de irem, contudo, Assaf consegue convencer Yoel a interpretar o protagonista do seu novo filme, que transforma o mundo da ficção em uma realidade agridoce.

Crítica: Logo no início de A Morte do Cinema e do Meu Pai Também, do cineasta israelense Dani Rosenberg, uma briga entre pai e filho é apresentada ao espectador. Ao que tudo indica, teremos um filme sobre relações conturbadas entre entes queridos. Porém, o caminho escolhido pelo diretor, que também assina o roteiro, é muito mais interessante: ele resolve brincar com o documentário dentro da ficção sem perder a emoção. Entre cenas da vida real, documentadas pelo próprio Rosenberg e que mostram seu pai enfrentando uma doença grave, ele realiza um retrato muito pessoal de sua vivência em relação à situação ao incluir uma narrativa ficcional para criar uma nova forma de contar uma história real. Na trama, um cineasta convence seu pai a protagonizar seu novo filme. Com isso, acompanhamos as dificuldades da produção nas filmagens, o entrosamento do elenco escolhido e os percalços no meio do caminho. A Morte do Cinema e do Meu Pai Também revela várias camadas ao longo dos seus 103 minutos de projeção. Aqui, vemos um filme dentro do filme dentro de outro filme; ou seja, o documentário sugere a ficção e a ficção cria uma atmosfera documental encenada dentro dessa narrativa. O longa traz momentos muito divertidos entre seus protagonistas, tanto os atores como os personagens reais, que mesclam perfeitamente com situações mais zelosas. Tendo sua vida pessoal como pano de fundo, sem cair no narcisismo enervante, Dani Rosenberg também aproveita para contextualizar o espectador em suas escolhas profissionais. Isso fica ainda mais evidente quando insere trechos de curtas-metragens antigos e caseiros, que realizava na infância ou adolescência, provavelmente, com seu pai como ator principal. Essas inserções excepcionais se completam ainda mais nessa atmosfera fictícia e documental proposta pelo diretor. A Morte do Cinema e do Meu Pai Também é uma bela homenagem ao progenitor do cineasta, que, ao mesmo tempo, encontra na própria arte uma maneira de retratar a importância dela em sua vida; e de como o cinema pode ser um antídoto e uma distração para sua própria dor. Mais pessoal e íntimo do que isso, impossível. (Vitor Búrigo)

*Filme visto na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Nota do CINEVITOR:

nota-4-estrelas

Mosquito

por: Cinevitor

mosquitoposter1Direção: João Nuno Pinto

Elenco: João Nunes Monteiro, Miguel Borges, João Lagarto, João Vicente, Aquirasse Nipita, Messias Jose Grachane, Nuno Preto, Filipe Duarte, Mário Mabjaia, Camané, André Dias, Pedro Santos, Valdemar Santos, Sufaida Moyane, Alfredo Brito, Miguel Moreira, Gezebel Macovela, Ana Magaia, Maria Clotilde Guirrugo, Josefina Massango, Hermelinda Simela, Gigliola Zacara, Ricardo Moura, Manuel João Vieira, Sebastian Jehkul, Cesário Monteiro, Miguel Cunha, Dinis Gomes.

Ano: 2020

Sinopse: Zacarias, um jovem português de 17 anos, sonha em viver grandes aventuras. Por isso, ele se alista no Exército durante a Primeira Guerra Mundial. É enviado a Moçambique, na África, com a missão de defender a colônia portuguesa da invasão alemã. Zacarias, porém, contrai malária e é deixado para trás quando seu pelotão segue rumo ao front de batalha. O rapaz não se dá por vencido e parte, sozinho, para alcançar o esquadrão. Ainda sofrendo os efeitos da enfermidade, ele passa a ter dificuldade em distinguir a realidade das alucinações que vem tendo. Em sua jornada, o garoto encontra, ou acredita encontrar, animais selvagens, desertores alemães e colonos perdidos.

Crítica: Mosquito começa no ano de 1917, em Moçambique, durante a Primeira Guerra Mundial. Dirigido pelo cineasta português João Nuno Pinto, o longa é baseado na história real de seu avô, que foi um dos soldados enviados para a batalha. Protagonizado pelo talentoso João Nunes Monteiro, acompanhamos a saga de Zacarias, um jovem sedento pela missão de defender a colônia portuguesa da invasão alemã. Depois de ser deixado para trás pelo seu pelotão, ele resolve ir sozinho ao encontro do esquadrão, em uma decisão quase que insana. A epopeia do protagonista é registrada pelo brilhante trabalho do diretor de fotografia Adolpho Veloso, premiado, aliás, no Festival de Valência. Na luta pela sobrevivência, Zacarias se depara com situações que beiram à loucura e selvageria, mas que também contribuem para o seu processo de amadurecimento nessa caminhada épica pela mata. Entre prováveis alucinações, surtos e visitas inesperadas de animais selvagens, há também outros momentos interessantes, como sua passagem por uma aldeia comandada somente por mulheres negras. Com falas como “eu, homem branco, exijo que me libertem” ou “cadê o chefe?”, ele logo é colocado em seu devido lugar de estranho no ninho e aprende, na marra, a conviver com novas culturas, mesmo carregado por preconceitos e um machismo estrutural inserido em seus costumes cotidianos. Em seu trajeto, quase que fabular em certos momentos, Zacarias passa a ganhar uma força antes não vista; e não apenas fisicamente. Ao se infiltrar em ambientes desconhecidos, aproveita para se transformar diante do novo e também potencializar sua missão. A atuação de João Nunes Monteiro é elogiável por seu excelente trabalho de construção do personagem; aqui, mostra com avidez sua jovialidade e disposição para representar seu país em uma guerra, para provar talvez não só para si mesmo que é capaz, mas para outros que não acreditavam em seu desempenho, como próprios familiares. Tanto que, em certo momento de um trecho de uma carta narrada por ele, diz: “que a guerra me faça o homem que sempre me cobraram”. Não sabemos como era Zacarias antes do uniforme fardado, mas sua cobiça pela vitória o coloca em um lugar propício para desafios. Ao mesmo tempo em que transparece determinação, precisa lutar contra seus próprios instintos para resistir nesse voo solo. Mosquito é uma odisseia sobre limites físicos e mentais, autoconhecimento, loucura e aborda temas importantes além do previsto, como o passado colonialista, por meio de um confronto pessoal (e também de guerrilha) de seu protagonista. (Vitor Búrigo)

*Filme visto na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Nota do CINEVITOR:

nota-4-estrelas

Conheça os filmes selecionados para o 10º Festival Internacional de Cinema em Balneário Camboriú

por: Cinevitor

gildanomacceviajantesGilda Nomacce no curta As Viajantes, de Davi Mello.

O Festival Internacional de Cinema em Balneário Camboriú apresenta o melhor do cinema brasileiro e estrangeiro para o público. A curadoria busca apresentar o trabalho de diretores estreantes ou consolidados, que estimulem diferentes tipos de sensibilidade, através de filmes exclusivos e inéditos de longa, média e curta-metragem, além de obras audiovisuais inovadoras realizadas em diferentes formatos de produção e destinadas às variadas formas de exibição.

Nesta edição comemorativa de dez anos do FICBC, o evento acontecerá entre os dias 26 de novembro e 6 de dezembro no espaço da Arthousebc e no Estaleiro Village, na praia do Estaleiro, com filmes de vários países, oficinas e debates. O festival seguirá todos os protocolos de segurança por conta da pandemia de Covid-19.

A programação é dividida em várias sessões: na Internacional, filmes brasileiros e estrangeiros fazem sua estreia internacional ou nacional; a sessão Vivo é aberta a novas manifestações da linguagem audiovisual através de novos meios de produção e diferentes suportes de exibição; já a sessão Catarina projeta filmes realizados por diretores catarinenses ou que possuam alguma relação (diretor, produtor, elenco, equipe, locação, outros) com o estado de Santa Catarina; a Noturna abre uma janela para o cinema fantástico em sessões noturnas; e a Corujinha traz filmes para todas as idades, formando jovens cinéfilos.

Os filmes selecionados são avaliados pelo Júri Oficial, que escolhe os vencedores da Coruja de Ouro em diversas categorias. O festival poderá contemplar uma produção de longa-metragem com o Prêmio de Distribuição, que garantirá a distribuição do filme no circuito comercial brasileiro de cinema. As produções também serão premiadas pelo Prêmio do Público e pelo Prêmio da Crítica.

Conheça os filmes selecionados para o 10º Festival Internacional de Cinema em Balneário Camboriú:

SESSÃO INTERNACIONAL | LONGA-METRAGEM

As Fúrias (Las Furias), de Tamae Garateguy (Argentina)
Cidade Pequena em Wisconsin (Small Town Wisconsin), de Niels Mueller (EUA)
Colômbia em Meus Braços (Colombia in My Arms), de Jenni Kivistö e Jussi Rastas (Noruega/Dinamarca/França/Colômbia)
De Olhos Fechados (Iz zavyazanymy ochyma), de Taras Dron (Ucrânia)
Desaparecer, de Gwai Lou (Espanha)
Nona – Se Me Molham Eu Os Queimo (Nona. Si me mojan, yo los quemo), de Camila José Donoso (Chile/França/Brasil)
O Nome das Flores (Los nombres de las flores), de Bahman Tavoosi (Bolívia)
Todos os Mortos, de Caetano Gotardo e Marco Dutra (Brasil/França)
Um Burro Chamado Geronimo (Der Esel hieß Geronimo), de Arjun Talwar e Bigna Tomschin (Alemanha)
Um Crime em Comum (Un crimen común), de Francisco Marquez (Argentina/Brasil/Suíça)

SESSÃO INTERNACIONAL | MÉDIA-METRAGEM

Calor, de Martin Liji (Argentina)
Chuveiro (Sekt), de Eric M. Weglehner (Áustria)
Fabiu, de Stefan Langthaler (Áustria)
Flor Azul, de Saadi Constantine (Suíça)
Homens Pink, de Renato Turnes (Brasil)
Lar, e um Arquivo Distante (Home, and a Distant Archive), de Dorothy Cheung (Hong Kong)
Mulheres da Terra, de Isadora Carneiro, Katia Lund e Mayara Boaretto (Brasil)
Passeata (Parede), de Yohann Gloaguen (França)

SESSÃO INTERNACIONAL | CURTA-METRAGEM

Acabarei na Prisão (I’ll End Up in Jail), de Alexandre Dostie (Canadá)
Amanhã, de Aline Flores e Alexandre Cristófaro (Brasil)
Barroco (Baroque), de Chrysa Koutrakou (Grécia)
Cheito, de Alejandro Sandoval Bertín (Colômbia)
Cleo, de Arthur Ianckivicz (Brasil)
Gilson, de Vitoria Di Bonesso (Brasil)
Gosta de Poesia?, de Eduardo Mattos (Brasil)
Kini, de Hernan Olivera (Uruguai)
Leite de Limão (Lemon Milk), de Wylie Chan Wai Yee (Hong Kong)
O Eletricista e as Três Elfas (The Electrishman and the three Elves), de Fabian Joest (Espanha)
O Retratista (The Portraitist), de Roman Kosov (Rússia)
Troca por Troca, de Pedro M. Afonso (Portugal)

SESSÃO VIVO | LONGA-METRAGEM

Estamos Aqui Agora (Vi er her nå), de Mariken Halle (Noruega)
Fendas, de Carlos Segundo (Brasil)

SESSÃO VIVO | MÉDIA-METRAGEM

O que Acontece Quando Nada Acontece, de Alcimar Verissimo (Brasil)
O Velho Homem Sonhava Sobre Os Leões – Volume I (The Old Man Was Dreaming About The Lions – Volume Ⅰ), de Moojin Brothers (Coreia)

SESSÃO VIVO | CURTA-METRAGEM

Corações Delicados (Tender Hearts), de Lauren Jevnikar (EUA)
Haiku, de Martin Gerigk (Alemanha)
Leite Selecionado – Adicionado de Pó Reconstituído de Leite Totalmente Pasteurizado e Homogeneizado (Selected Milk Added from Reconstituted Milk Powder Whole Pasteurized Homogenized), de Jose Luis Ducid (Espanha)
Natureza. Prado. Céu. Plano Longo. (Nature. Meadow. Sky. Long Shot.), de Yannick Mosimann (Suíça)
Rebocando o Pavilhão Philips, de Filipe Maliska e Kauê Werner (Brasil)
Um Novo Normal (A New Normal), de Luzie Loose (Alemanha)

SESSÃO NOTURNA | LONGA-METRAGEM

Rio em Chamas (The Flaming River), de Dima Kosygin (Ucrânia)

SESSÃO NOTURNA | MÉDIA-METRAGEM

Animais Anônimos (Les Animaux Anonymes), de Baptiste Rouveure (França)
Mamãe têm um Demônio, de Demmerson Souza (Brasil)

SESSÃO NOTURNA | CURTA-METRAGEM

As Viajantes, de Davi Mello (Brasil)
Cuidado com os Australianos (Watch Out For Australians), de Steven Arriagada e Kuni Hashimoto (Austrália)
Estudos em Huningue/Basel ou a Árvore para Dormir (Etudes à Huningue/Bâle ou l’Arbre pour Dormir), de Lutz P. Kayser (Alemanha)
Fim da Rua (End Of The Road), de Ahmad Adnan Al-Sharif (Qatar)
Mar (Mare), de Guille Vásquez (Espanha)
Salgado e Doce (Salty, Sweet), de Péter Hajmási (Hungria)
Um Golpe de Sorte, de Antonia Baudouin (Argentina)

SESSÃO CATARINA | MÉDIA-METRAGEM

As Rendas de Dinho, de Adriane Canan (Florianópolis)
Desassossego, de Fabiana Pena (Florianópolis)

SESSÃO CATARINA | CURTA-METRAGEM

Chave Paraíso, de Marcos Pacheco (Garopaba)
Copi, de André Gevaerd (Balneário Camboriú)
Diálogo com a Morte, de Willian Bongiolo (Içara)
Estilhaços, de Julie de Oliveira (Florianópolis)
Estou a Contar Cerejas, de Gabriele Mendonça (Florianópolis)
Travesia, de Décio Gorini e Sander Hahn (Criciúma)

CORUJINHA | CURTA-METRAGEM

Antes que Vire Pó, de Danilo Custódio (Brasil)
Campo (Pastourelle), de Maria Giménez Cavallo (França)
Espírito das Garotas Afogadas (Spirit of the Drowning Girls), de Runze Cao (China)
Frágil (Fragille), de Kholood Al Ali (Qatar)
Glitter Model, de Angelo Nunes (Brasil)
Mimi Conhece Livros (Mimi Meets Books), de Yih-Fen Chou (Taiwan)
Mimi Diz Não (Mimi Says No), de Yih-Fen Chou (Taiwan)
Nano, de Christian Pincheira (Chile)
Narratal de Faz de Contos, de Diego Rezende (Brasil)
Padrões (Patterns), de Tomoko Inaba (Japão)
Um Homem, Uma Verdade (Un Homme, Un Vrai), de Aurélian Mathieu (França)
Uma Carta para Meu Amigo na França (A Letter To My Friend In France), de Akram Elbezzawy (Egito)

FOCO ARGENTINA
*Festival parceiro: FESAALP, Festival de cine latinoamericano de La Plata

As Fúrias, de Tamae Garateguy (Argentina)
Calor, de Martin Liji (Argentina)
Copi, de André Gevaerd (Balneário Camboriú)
Leite Selecionado – Adicionado de Pó Reconstituido de Leite Totalmente Pasteurizado e Homogeneizado, de Jose Luis Ducid (Espanha)
Um Crime em Comum, de Francisco Marquez (Argentina/Brasil/Suíça)
Um Golpe de Sorte, de Antonia Baudouin (Argentina)

Foto: Viktor Ximenes Ferraz.

Dias

por: Cinevitor

diasposter1Rizi

Direção: Tsai Ming-Liang

Elenco: Anong Houngheuangsy, Lee Kang-sheng.

Ano: 2020

Sinopse: Kang mora sozinho em uma casa grande. Através de uma fachada de vidro, ele olha para as copas das árvores açoitadas pelo vento e pela chuva. Sente uma dor estranha de origem desconhecida que mal consegue suportar e que se espalha por todo o seu corpo. Non vive em um pequeno apartamento em Bancoc, onde prepara metodicamente pratos tradicionais de sua aldeia natal. Quando Kang encontra Non em um quarto de hotel, os dois homens compartilham sua solidão. Ambos esquecem o lado duro da realidade por uma noite, e talvez até se aproximem da verdade, antes de retornarem ao seu cotidiano.

Crítica: O consagrado cineasta Tsai Ming-Liang, figurinha carimbada nos mais importantes festivais internacionais, segue sem decepcionar seus admiradores. Com Dias, premiado no Teddy Award do Festival de Berlim deste ano, ele continua a exercitar seu olhar observador. Entre planos longos, com pouquíssimos diálogos, o diretor posiciona sua câmera a fim de acompanhar a rotina de seus protagonistas sem cortes. Tal escolha leva o espectador para uma imersão naquele cotidiano, acompanhando lentamente cada movimento em cena. Aqui, qualquer plano, imediatamente, sugere uma reflexão; seja de um personagem sentado olhando através de uma janela ou preparando um prato tradicional. O silêncio, que por si só já diz muita coisa, só é quebrado por conta de sons habituais, como os pingos da chuva ou do chuveiro, por exemplo. Sem pressa, Tsai Ming-Liang convida o espectador para se debruçar naqueles costumes e tentar desvendar a vida daqueles dois homens, que vivem em realidades diferentes. Há também espaço para o externo: como a cidade e outros indivíduos se movimentam no dia a dia? Ainda que retrate a solidão, Dias traz uma certa sensibilidade quando cruza os caminhos de seus protagonistas. É nesse encontro, inicialmente tímido, que se constrói o afeto; sem muitas palavras, os corpos entrelaçados naquele quarto de hotel falam mais sobre aqueles dois do que qualquer diálogo verborrágico que poderia ser incluído para contar suas histórias e, até mesmo, angústias. Antes de finalizar sua narrativa, Tsai Ming-Liang ainda entrega um grand finale afável e, de certo modo, despretensioso, mas que deixa marcas em seus protagonistas. Dias é sobre solidão, mas também sobre ciclos que provavelmente se repetem e se completam em um vazio físico e sentimental. (Vitor Búrigo)

*Filme visto na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Nota do CINEVITOR:

nota-3,5-estrelas

Shirley

por: Cinevitor

shirleyposter1Direção: Josephine Decker

Elenco: Elisabeth Moss, Michael Stuhlbarg, Odessa Young, Logan Lerman, Victoria Pedretti, Robert Wuhl, Paul O’Brien, Orlagh Cassidy, Bisserat Tseggai, Allen McCullough, Tony Manna, Molly Fahey, Edward O’Blenis, Ryan Spahn, Vincent McCauley, Emily Decker, Kecia Lewis, Alexandria Sherman, Margarita Allen, Melissa Chanza, Mick Coleman, Lexa Hayes, Adelind Horan, Rosemary Howard, Ava Langford, Susan Nido, Thomas Racek, Louise Schoene, Steve Vinovich.

Ano: 2020

Sinopse: Duas personalidades imponentes estão no centro deste drama atmosférico: a escritora de terror Shirley Jackson e seu marido, Stanley Hyman, crítico literário e professor universitário. Quando o estudante de graduação Fred Nemser e sua esposa grávida, Rose, vão morar com os Hymans no outono de 1964, eles se veem envoltos sob o encanto e o magnetismo dos brilhantes e pouco convencionais anfitriões. Porém, a necessidade de Shirley de alimentar sua criatividade e escrita é uma força voraz que ameaça devorar o relacionamento do jovem casal.

Crítica: Shirley Jackson foi uma escritora americana conhecida por suas histórias de horror e suspense. Suas obras começaram a fazer sucesso no final da década de 1940 e são lembradas até hoje. Algumas ganharam adaptações cinematográficas, teatrais e televisivas; outras serviram para estudos acadêmicos. Em Shirley, de Josephine Decker, filme baseado no livro homônimo escrito por Susan Scarf Merrell, conhecemos um pouco mais sobre a intimidade da autora. Exibido em Berlim e premiado no Festival de Sundance, o longa não segue os moldes de uma cinebiografia clássica, que narra desde a infância até a morte. Aqui, o espectador é apresentado a um período específico da vida da escritora; muito interessante, diga-se de passagem. Casada com Stanley Hyman, crítico literário e professor universitário, passa a conviver com um jovem casal em sua casa: Fred e Rose; ele acompanhará Hyman em suas aulas, ela, grávida e admiradora dos livros de Shirley, terá que se adaptar a uma nova rotina caseira. Essa nova convivência diária gera, imediatamente, uma tensão entre os casais. Primeiro, de uma maneira até certo ponto agressiva com provocações e insultos. Depois, inicia-se um jogo de paciência entre algumas humilhações. E, por fim, uma tensão sexual que se espalha por todos os cômodos. Elisabeth Moss, no papel da personagem-título, entrega uma atuação magistral. A força de sua personagem começa pelo olhar sempre desconfiado e segue em uma crescente e excepcional transformação ao desenrolar da narrativa. Com a sensação de estar sempre à beira de um ataque de nervos, Shirley, fumante compulsiva e ansiosa por natureza, utiliza do deboche para testar seus inquilinos e, algumas vezes, o próprio marido, vivido brilhantemente por Michael Stuhlbarg. Sarcástica, aproveita a situação para tentar desbloquear seu processo criativo e, a partir daqui, embala em uma nova aventura. Uma nova história surge para um novo livro e a virada dramática de Shirley se torna ainda mais interessante e inquietante. Mais próxima de Rose, interpretada pela talentosa Odessa Young, enxerga na jovem moça uma provável fonte de inspiração para sua criatividade. A aproximação entre elas ganha mais intimidade e, Shirley, mesmo que egoísta, aos poucos, permite sentir tal conexão da maneira mais natural possível. O clima entra elas muda, as personalidades se misturam e a transformação de ambas as personagens potencializa a trama. Há uma certa inversão de papéis e uma integração entre as histórias: a da ficção com a realidade. O novo livro da autora praticamente se transforma em um filme dentro do próprio filme. Com a fotografia de Sturla Brandth Grøvlen, que insere com espontaneidade o espectador naquela intimidade, é possível sentir a transição física e mental dessas duas mulheres. Agora movida pela paixão, Shirley transcende, vai além do seu imaginário e embarca em uma viagem pessoal e avassaladora de emoções para concluir seu trabalho; nem que seja preciso arrastar para sua loucura os mais próximos. Assim, Josephine Decker mergulha na psique de suas protagonistas e cria um universo paralelo entre elas; sem as cobranças sociais machistas, sem crises conjugais, sem surtos constantes e sem preocupações domésticas. Shirley vai muito além de uma cinebiografia e se destaca por desbravar o instinto das personagens colocando em evidência seus desejos, loucuras, descontroles e aventuras; seja na ficção, na realidade ou em um jogo perigoso de sedução e vaidade. Resta saber quem suportará até o final. (Vitor Búrigo)

*Filme visto na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Nota do CINEVITOR:

nota-4-estrelas

Isso Não é um Enterro, é uma Ressurreição

por: Cinevitor

issonaoenterroposter1This Is Not a Burial, It’s a Resurrection

Direção: Lemohang Jeremiah Mosese

Elenco: Mary Twala, Jerry Mofokeng, Makhaola Ndebele, Tseko Monaheng, Siphiwe Nzima-Ntskhe, Thabiso Makoto, Thabo Letsie, Silas Taunyane Monyatsi, Mochesane Kotsoane, Shoaepane Joseph Sehahle, Matsoso Monyatsi, Ntsoaki Letsie, Molengoane Sello, Aleandro Florio, Sarah Weber, Tsele C. Sekoala, Kabelo Tlali, Lineo Shea, Matseliso Tschlo, Mohlominyana Hlauli, Sekasa Shea, Tamane Tamane, Malebecca Hlauli, Malehlohonolo Lechoba, Masentle Letsie, Masethabela Nnona.

Ano: 2019

Sinopse: Nas montanhas do Lesoto, uma viúva de 80 anos chamada Mantoa aguarda ansiosamente o retorno do filho, que trabalha nas minas da África do Sul, quando recebe a notícia de sua morte. Ávida pelo próprio fim após a perda do último membro remanescente da família, ela coloca seus negócios em ordem e toma providências para ser enterrada no cemitério local. Seus minuciosos planos são repentinamente perturbados pela notícia de que as autoridades pretendem inundar toda a região para construir uma barragem para um reservatório e, por consequência, reassentar a aldeia onde ela vive. Mantoa, então, resolve defender o patrimônio espiritual da comunidade. Na contraposição entre novo e antigo, entre nascimento e morte, o filme faz uma reverência à terra. Pelos olhos de Mantoa, vemos que há muita escuridão para enfrentar, mas, no final das contas, esta é uma história sobre a resiliência do espírito humano.

Crítica: Premiado em diversos festivais, entre eles, Sundance e Hong Kong, Isso Não é um Enterro, é uma Ressurreição, é, primeiramente, um espetáculo visual; pelas paisagens das montanhas de Lesoto, mas, principalmente, pelos belíssimos enquadramentos de Pierre de Villiers, que assina a direção de fotografia. O contraste deslumbrante entre as cores, seja dos figurinos ou da direção de arte, é apresentado em planos muito bem elaborados, cuja presença de cada objeto cênico ou personagem não aparece em vão. Tudo é muito bem pensado para construir uma atmosfera carregada de ancestralidade e apego emocional. Para isso, há também a forte presença de Mary Twala em cena, que interpreta a protagonista Mantoa. Depois de perder o filho, ela decide se entregar para a morte, que já lhe acompanha há um tempo. A morte, aliás, ronda aquele vilarejo constantemente em seus rituais, costumes e cotidiano. A história ganha um novo rumo com a notícia de que uma barragem será construída naquele local, sugerindo então, que os moradores sejam realocados e que deixem suas lembranças para trás. Imediatamente, Mantoa se posiciona contra e parte para uma guerra pessoal para manter o patrimônio espiritual de sua aldeia, respeitando, principalmente, cada cova cavada. Sua maior preocupação é o descaso com as memórias daqueles moradores; o cemitério, principal ligação material com os mortos, está prestes a desaparecer e com isso, também toda a simbologia que acompanha o rito de passagem daqueles que já se foram. Para Mantoa, isso é inadmissível; ainda mais no momento em que preparava seu próprio enterro. Tal desprezo lhe causa ainda mais a sensação de não pertencer a esse lugar, que não lhe acolhe mais e a deixou sozinha; Mantoa prefere estar ao lado de sua família e, para isso, precisa morrer, mesmo que seja necessário cavar sua própria cova. Sua determinação acaba lhe causando algumas consequências, assim como suas escolhas, mas o fato de imaginar que aquele lugar possa desaparecer sem deixar vestígios, faz com que a protagonista busque forças inimagináveis para impedir a catástrofe. Isso Não é um Enterro, é uma Ressurreição fala não só da morte de um ente querido, mas também do falecimento de uma cultura tomada pelo mundo exterior, que, por conta de interesses nada afetivos, tenta controlar sem compaixão alguma aquela aldeia. O cineasta Lemohang Jeremiah Mosese, que também assina o roteiro, constrói uma tensão narrativa que permeia o filme durante toda sua projeção; para isso, conta também com um elogiável trabalho de som e trilha sonora, que fortalece essa escolha diegética. Há uma força descomunal nessa protagonista tão bem interpretada, que dialoga com eficácia entre o luto e a resiliência. Não é à toa que Isso Não é um Enterro, é uma Ressurreição cita Gênesis, que antecede o Êxodo. Há uma busca pela paz e por conquistas. Nada aqui é por acaso, nem a morte; essa que convive diariamente com Mantoa. Em certo momento, logo no início, o narrador da história reflete: “os mortos enterram seus mortos”. Ao final, tudo se encaixa: Mantoa, que tem mais força que a própria morte, definitivamente não se encaixa mais naquele lugar. (Vitor Búrigo) 

*Filme visto na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Nota do CINEVITOR:

nota-4-estrelas

Fábulas Ruins

por: Cinevitor

fabulasruinsposter1Favolacce

Direção: Damiano D’Innocenzo e Fabio D’Innocenzo (Fratelli D’Innocenzo)

Elenco: Elio Germano, Tommaso Di Cola, Giulietta Rebeggiani, Gabriel Montesi, Justin Korovkin, Barbara Chichiarelli, Lino Musella, Ileana D’Ambra, Max Malatesta, Aldo Ottobrino, Cristina Pellegrino, Giulia Melillo, Laura Borgioli, Enrico Pittari, Sara Bertelà, Federico Majorana, Raquel Electra, Giulia Galiani, Massimiliano Tortora, Max Tortora.

Ano: 2020

Sinopse: Era uma vez, um pequeno subúrbio familiar nos arredores de Roma, onde o calor alegre do verão camufla uma atmosfera sufocante de alienação. À distância, as famílias parecem normais, mas é uma ilusão: nas casas, nos pátios e nos jardins, o silêncio envolve o sadismo sutil dos pais, a passividade das mães e a indiferença culpada dos adultos. Porém, é o desespero e a raiva reprimida das crianças que irá revelar essa fachada grotesca, com consequências devastadoras para toda a comunidade.

Crítica: O italiano Fábulas Ruins, vencedor do Urso de Prata de melhor roteiro no Festival de Berlim, começa com uma narração com o seguinte aviso: “Esse filme é baseado em uma história verídica. A história verídica é baseada em uma história fictícia. A história fictícia não é muito inspirada”. O recado já alerta o espectador para um tom irônico que acompanhará os próximos 98 minutos de projeção. Além disso, a estonteante fotografia de Paolo Carnera salta aos olhos ao apresentar aquele subúrbio. Aqui, tudo é muito bem alinhado e organizado esteticamente, como por exemplo os enquadramentos elaborados que conversam coerentemente com a direção de arte e figurino em cores escaldantes que remetem ao verão retratado na telona. Tal organização estética logo se contrapõem ao descontrole das personagens, algo que soa muito interessante na narrativa. Enquanto os objetos cênicos estão perfeitamente alocados e as paredes coloridas intactas, os moradores daquelas casas aparecem eufóricos e, em certos momentos, até desequilibrados. O nonsense transita sem interferência na narrativa em meio a conversas em voz alta e atitudes exaltadas, características marcantes do tal exagero italiano. Os irmãos Damiano e Fabio D’Innocenzo, que assinam a direção e o roteiro, criam uma atmosfera lunática com ótimas interpretações. Há também uma preocupação entre os integrantes daquelas famílias de transparecer uma vida perfeita para os outros e, assim, se exaltam em frivolidades cotidianas e escondem mentiras e falsidades debaixo do tapete. Porém, quando as luzes se apagam, tal felicidade se desmorona e uma outra realidade é revelada; com consequências, quase sempre desagradáveis, de certas atitudes grotescas e questionáveis. Fábulas Ruins lembra obras como o premiado Beleza Americana e a série Desperate Housewives, no sentido narrativo, e o filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, em relação à estética. Há um exagero compreensível na trama, que funciona para a construção do arco dramático; vale destacar a cena da piscina de plástico (sem mais comentários para não dar spoiler). Os irmãos D’Innocenzo, por meio da ficção e com um toque de humor ácido, retratam uma sociedade bastante verossímil em relação aos dias de hoje, na qual o conflito de gerações desenvolve relações pouco afetuosas e até descartáveis. Fábulas Ruins traz uma perturbação que ronda aquele subúrbio e um desfecho, de certo modo, surpreendente. (Vitor Búrigo)

*Filme visto na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Nota do CINEVITOR:

nota-3,5-estrelas

Morre, aos 90 anos, o ator Sean Connery

por: Cinevitor

seanconnerymorreO eterno James Bond e mais de noventa filmes ao longo da carreira.

Morreu neste sábado, 31/10, aos 90 anos, o ator escocês Sean Connery, conhecido por ter sido o primeiro intérprete do agente secreto James Bond nos cinemas. Segundo informações divulgadas pela imprensa internacional, Connery estava doente há algum tempo e morreu enquanto dormia em sua casa em Nassau, capital das Bahamas.

Nascido em Edimburgo, na Escócia, Sean Connery trabalhou como motorista de caminhão, leiteiro, jogador de futebol e modelo vivo antes de ingressar no mundo artístico. Depois de ficar em terceiro lugar no concurso de Mister Universo, foi convencido por um amigo a fazer um teste para a peça musical South Pacific, que acabou lhe abrindo muitas portas para sua nova carreira.

Como ator, começou em curtas-metragens e pequenas participações em seriados de TV. Seu primeiro longa foi o policial No Road Back, de Montgomery Tully, lançado em 1957. Depois disso, atuou em diversas produções.

Porém, o reconhecimento mundial aconteceu em 1962 quando interpretou James Bond, pela primeira vez, em O Satânico Dr. No, de Terence Young. Com isso, foi indicado ao prêmio de melhor ator em filme de ação no Laurel Awards. Depois de inaugurar uma das mais bem sucedidas franquias cinematográficas, na qual atuou em seis filmes oficiais, Connery ganhou ainda mais destaque no cinema.

No papel do agente secreto mais famoso das telonas, criado pelo escritor Ian Fleming, também apareceu em: Moscou Contra 007, de Terence Young; 007 Contra Goldfinger, de Guy Hamilton, que lhe rendeu o prêmio de melhor ator em filme de ação no Laurel Awards; 007 Contra a Chantagem Atômica, de Terence Young, que lhe rendeu outro prêmio no Laurel Awards; Com 007 Só Se Vive Duas Vezes, de Lewis Gilbert; 007 – Os Diamantes São Eternos, de Guy Hamilton; e 007 – Nunca Mais Outra Vez, de Irvin Kershner, que não faz parte da saga original.

sean007Bond, James Bond: cena de 007 Contra Goldfinger, de 1964.

Além do personagem marcante, Sean Connery também atuou em diversas produções que fizeram sucesso, como: Os Intocáveis, de Brian De Palma, que lhe rendeu o Oscar e o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante, em 1988, e uma indicação ao BAFTA. Ainda pelo papel de Jim Malone, foi eleito o ator do ano pelo London Critics Circle Film Awards e premiado na National Board of Review.

Dirigido por Jean-Jacques Annaud em O Nome da Rosa, Connery levou o prêmio de melhor ator no BAFTA, o Oscar britânico, e também no German Film Awards. Por sua atuação em Indiana Jones e a Última Cruzada, de Steven Spielberg, também foi indicado ao BAFTA e ao Globo de Ouro e premiado no Jupiter Award como melhor ator internacional.

Ao longo da carreira, se destacou em filmes como: A Caçada ao Outubro Vermelho, de John McTiernan, que lhe rendeu outra indicação ao BAFTA; Outland: Comando Titânio, de Peter Hyams; Armadilha, de Jon Amiel, no qual foi indicado ao Framboesa de Ouro ao lado da parceira de cena Catherine Zeta-Jones; A Rocha, de Michael Bay; Os Bandidos do Tempo, de Terry Gilliam; A Colina dos Homens Perdidos, de Sidney Lumet; Encontrando Forrester, de Gus Van Sant, que também atuou como produtor e foi indicado ao Satellite Awards; Marnie, Confissões de uma Ladra, de Alfred Hitchcock; Ver-te-ei no Inferno, de Martin Ritt; Coração de Dragão, de Rob Cohen, que lhe rendeu uma indicação ao Annie Awards; entre muitos outros.

Outro momento marcante de sua trajetória foi quando protagonizou O Homem que Queria ser Rei, de John Huston, que foi indicado em diversas premiações. Além do elogiado trabalho como ator e produtor, também se arriscou na direção com o documentário The Bowler and the Bunnet.

seanintocaveisCom Andy Garcia, Kevin Costner e Charles Martin Smith em Os Intocáveis.

Sua carreira como ator conta também com: Na Rota do Inferno (1957), A Maior Aventura de Tarzan (1959), Até o Último Gangster (1961), A Colina dos Homens Perdidos (1965), Shalako (1968), O Golpe de John Anderson (1971), Assassinato no Expresso Oriente (1974), O Vento e o Leão (1975), Robin e Marian (1976), O Próximo Homem (1976), Highlander: O Guerreiro Imortal (1986), Mais Forte que o Ódio (1988), A Casa da Rússia (1990), Sol Nascente (1993), Lancelot, o Primeiro Cavaleiro (1995), A Liga Extraordinária (2003), entre outros. Seu último trabalho como ator foi na animação Sir Billi, de Sascha Hartmann, na qual dublou o protagonista.

Em 1991, recebeu a Legião de Honra do governo francês e, anos depois, foi agraciado com o título de Sir pela Rainha Elizabeth II, em julho de 2000, em uma cerimônia realizada na Escócia, por sua contribuição às artes cinematográficas e ao Império Britânico.

Além dos prêmio que recebeu, Connery também foi homenageado diversas vezes, entre elas: no Globo de Ouro, em 1996, recebeu o Cecil B. DeMille Award; em 1998 foi honrado com o Academy Fellowship do BAFTA; foi consagrado pelo conjunto da obra pela National Board of Review, American Film Institute, Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films, CinEuphoria Awards, David di Donatello Awards, European Film Awards, Film Society of Lincoln Center, Gold Derby Awards, Karlovy Vary International Film Festival, Palm Springs International Film Festival, Festival de Roma, entre outras.

Fotos: Frazer Harrison/Getty Images Entertainment.

Caminhando Contra o Vento

por: Cinevitor

caminhandocontraventoposter1Ye Ma Fen Zong

Direção: Wei Shujun

Elenco: Zhou You, Wang Ruiqi, Liu Yang, Ma Xu, Tong Linkai, Zhao Xiaodong, Zheng Yingchen, Lin Honghuizi, Li Kui, Wang Xiaomu, Liu Yuting, Zhao Duona, Ao Er, Hu Riwa, Zhang Xiao, Lin Wenbo, Hu Linna, Yan Xiao, Wang Xiaoyu, Sun Ruofei, Gao Linyang, Chang Tai, Zhang Lusheng, Li Xiang, Chen Bohan, Luo Na, Li Meng, Deng Haorong, Qian Geng, Wei Shujun, Tan Sen, Wang Jiehong, Chu Buhuajie, Du Xian, Guo Manyun, Wang Chao, Mai Zi, Bao Di, Cui Yanan, Kong Jinhai, Guan Qifan, A Siru, Ma Zenglin, Xu Litai.

Ano: 2020

Sinopse: Kun está no último ano da faculdade de cinema, mas sua vida parece ter desandado: ele não tem paciência para as aulas, não está ajudando seu colega a terminar o filme de graduação e o relacionamento com a namorada não anda bem. Kun acabou de tirar a habilitação de motorista e arranjou um jipe velho. O jovem, então, decide viajar por Pequim, com o objetivo de chegar até o interior da Mongólia. Inspirado na história do próprio diretor, Wei Shujun, o longa é um road movie contemplativo, com olhar atento para a China contemporânea.

*Filme visto na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Nota do CINEVITOR:

nota-3-estrelas

Pai

por: Cinevitor

paifilmeposter1Otac

Direção: Srdan Golubovic

Elenco: Goran Bogdan, Boris Isakovic, Nada Sargin, Milica Janevski, Muharem Hamzic, Ajla Santic, Vahid Dzankovic, Milan Maric, Jovo Maksic, Ljubomir Bandovic, Marko Nikolic, Nikola Rakocevic, Izudin Bajrovic, Nikola Ilic, Igor Borojevic, Mirko Vlahovic, Slavisa Curovic, Ivan Djordjevic, Sasa Bjelic, Danijela Vranjes, Zeljko Radunovic, Hasan Cicic, Slobodan Ljubicic, Vujadin Milosevic, Nebojsa Djordjevic, Miodrag Dragicevic, Dragan Sekulic, Nikola Stankovic, Mariana Arandjelovic, Mihaela Stamenkovic, Vladislav Mihailovic, Samir Semsovic, Fehima Ibisbegovic, Milica Mandic, Nikola Markovic, Dejan Derajic, Violeta Cvijovic.

Ano: 2020

Sinopse: Em uma pequena cidade na Sérvia, vive Nikola, trabalhador temporário e pai de dois filhos. O homem se vê obrigado a entregar as crianças aos serviços sociais depois que a pobreza e a fome levam sua esposa a cometer um ato desesperado. Enquanto ele não conseguir fornecer condições adequadas para a educação das crianças, elas serão colocadas em um orfanato. Apesar dos esforços de Nikola e de constantes apelos, o chefe do centro de serviços sociais se recusa a devolver seus filhos e sua situação se torna desoladora. Quando Nikola descobre a corrupção da administração local, ele decide viajar pela Sérvia a pé e levar o caso diretamente às autoridades governamentais em Belgrado. Movido pelo amor e pelo desespero, ele se recusa a desistir da justiça e de seu direito de criar os filhos.

Crítica: Premiado no Festival de Berlim e dirigido pelo cineasta sérvio Srdan Golubovic, Pai narra a saga de Nikola, interpretado pelo talentoso Goran Bogdan, em busca de uma vida melhor para sua família. Lendo assim, parece mais uma história melodramática de superação. Porém, logo nos primeiros minutos de projeção, percebe-se que o filme caminhará para algo mais denso e não só afetivo. Com o desmoronamento estrutural da família, por conta de diversos fatores, entre eles, a fome e o desemprego, o protagonista se vê em uma situação crítica: aceitar que os filhos sejam entregues para um orfanato depois de um ato desesperador cometido pela mãe e também por não oferecer condições necessárias de educação para eles. A insistência de Nikola para recuperar a guarda das crianças é em vão; e é aqui que começa a saga do protagonista. Entre burocracias e corrupção da administração local, ele decide viajar a pé até à capital do país para pedir ajuda às autoridades. Com um semblante quase que atônito a maior parte do tempo, carregado de um olhar vagaroso que traz um desespero abafado, ele enfrenta diversos obstáculos para completar sua missão. A atuação de Goran Bogdan se destaca entre tantas adversidades no meio do caminho; sua transformação ao desenrolar da trama evidencia a engenhosa construção de seu personagem: um homem pacato que tenta manter a compostura diante das desigualdades sociais e econômicas que o atingem. O desespero desse pai é notório, mas não escancarado. Suas atitudes falam mais do que palavras grosseiras, que gerariam prováveis confusões e violência. Há, sim, um descontrole emocional, resquício de um desespero avassalador. Mas, é de maneira contundente que Srdan Golubovic retrata tais situações que potencializam a narrativa. Porém, Pai não fala só desse homem desolado. Fala também de uma sociedade tomada por interesses e sem compaixão ao próximo; um jogo de poder cruel e desumano revestido por uma falsa bondade. Não há empatia em certos personagens e muito menos preocupações socioeconômicas perante outros indivíduos que não sejam eles mesmos. Há maldade em tirar proveito daqueles mais necessitados, que, sequer, conseguem se defender honestamente. Mas há também esperança, principalmente em seu protagonista que, mesmo carregado por desventuras, enfrenta qualquer desafio (e pessoa) para atingir seu objetivo com dignidade e sem diferenças de tratamento, independente de quem for ou de qual cargo ocupa. (Vitor Búrigo)

*Filme visto na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Nota do CINEVITOR:

nota-4-estrelas