
Dirigido por Pedro Henrique França e produzido pelo ator Marco Pigossi, o documentário Corpolítica fez sua estreia na 46ª edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo nesta quinta-feira, 27/10, no Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca.
O filme, que faz parte da Mostra Brasil, acompanha as eleições de 2020 e debate a representatividade LGBTQIAP+ através de imagens de arquivo e de violências políticas registradas em ambientes legislativos, entrevistas com personagens de diferentes correntes partidárias, ativistas e especialistas.
A partir de um recorde de candidaturas LGBTQIAP+ para as câmaras municipais de todo o Brasil nas eleições de 2020, em meio a uma pandemia que já matava milhares de brasileiros, o diretor e roteirista Pedro Henrique França quis ir atrás do que motivava esse despertar político. Associou sua produtora, Representa, à do amigo, ator e produtor executivo, Marco Pigossi, e começou às vésperas daquela atípica eleição o documentário independente, que tem ainda coprodução da ACME.
Corpolítica tenta responder o porquê da sub-representatividade no cenário político de um país que lidera o ranking dentre os que mais matam LGBTQIAP+ no mundo, superando inclusive nações em que ser LGBTQIAP+ é legalmente uma sentença de morte. Para isso, reuniu seis candidaturas da sigla: Andréa Bak, Erika Hilton, eleita em 2022 como uma das duas primeiras mulheres trans para deputada federal, Fernando Holiday, Monica Benicio, Thammy Miranda e William De Lucca; além de entrevistar políticos atuantes, como Erica Malunguinho (a primeira deputada estadual trans eleita no Brasil, em 2018) e Jean Wyllys, que cumpriu dois mandatos como deputado federal e se exilou em 2019, antes da posse para o terceiro mandato, por conta de ameaças de morte que vinha recebendo.
Para o diretor Pedro Henrique França, o documentário tenta entender por que a comunidade LGBTQIAP+ é tão pouco representada na política e busca traçar um paralelo com os processos de aceitação e violência que esses corpos passam para estar presente, e vivo, na sociedade. O documentário traz a importância de discutir as presenças desses corpos nas estruturas de poder: “Representamos hoje apenas 0,16% dos cargos eletivos brasileiros. Corpolítica quer trazer esse debate para a sociedade, despertar novos corpos a entenderem que é a partir da política que faremos as mudanças necessárias e fazer um chamamento à diversidade na prática, para além do discurso”, disse o diretor.
Ao final da sessão, entre muitos aplausos, o diretor conversou com o público presente ao lado de Erika Hilton, primeira vereadora trans eleita pela cidade de São Paulo, tendo sido a mais votada do país para o cargo: “Com esse filme, o Pedro conseguiu contemplar um pouco do nosso sentimento e do abismo que a gente se encontra, no que diz respeito à política, democracia, civilidade, a reconstrução de um país que enfrente os direitos da comunidade LGBTQIA+, do povo negro, das mulheres. Se eu tenho direito de amar, de andar, de comer, de estudar, de acessar os equipamentos de saúde, não se pode confundir como pauta de costume. Isso é sobre o meu futuro, é sobre o país que eu pertenço. É sobre se eu vivo ou se eu morro”, disse Erika, ovacionada pelo público.
Com distribuição da Vitrine Filmes e estreia prevista para o primeiro semestre de 2023, o longa passou pelo Queer Lisboa, que marcou sua estreia mundial e rendeu o prêmio de melhor documentário pelo público; pelo BIFF, Festival Internacional de Cinema de Brasília, onde levou o prêmio de melhor roteiro; e pelo Festival do Rio, que foi consagrado com o Prêmio Felix de melhor documentário.
Corpolítica terá mais uma sessão na 46ª Mostra de São Paulo: dia 29/10, sábado, às 16h05, no IMS Paulista.
Para falar mais sobre o filme, conversamos com o diretor Pedro Henrique França e também com Erika Hilton, primeira mulher trans eleita ao Congresso Nacional.
Aperte o play e confira:
Foto: Rodrigo Trevisan.