Favolacce
Direção: Damiano D’Innocenzo e Fabio D’Innocenzo (Fratelli D’Innocenzo)
Elenco: Elio Germano, Tommaso Di Cola, Giulietta Rebeggiani, Gabriel Montesi, Justin Korovkin, Barbara Chichiarelli, Lino Musella, Ileana D’Ambra, Max Malatesta, Aldo Ottobrino, Cristina Pellegrino, Giulia Melillo, Laura Borgioli, Enrico Pittari, Sara Bertelà, Federico Majorana, Raquel Electra, Giulia Galiani, Massimiliano Tortora, Max Tortora.
Ano: 2020
Sinopse: Era uma vez, um pequeno subúrbio familiar nos arredores de Roma, onde o calor alegre do verão camufla uma atmosfera sufocante de alienação. À distância, as famílias parecem normais, mas é uma ilusão: nas casas, nos pátios e nos jardins, o silêncio envolve o sadismo sutil dos pais, a passividade das mães e a indiferença culpada dos adultos. Porém, é o desespero e a raiva reprimida das crianças que irá revelar essa fachada grotesca, com consequências devastadoras para toda a comunidade.
Crítica: O italiano Fábulas Ruins, vencedor do Urso de Prata de melhor roteiro no Festival de Berlim, começa com uma narração com o seguinte aviso: “Esse filme é baseado em uma história verídica. A história verídica é baseada em uma história fictícia. A história fictícia não é muito inspirada”. O recado já alerta o espectador para um tom irônico que acompanhará os próximos 98 minutos de projeção. Além disso, a estonteante fotografia de Paolo Carnera salta aos olhos ao apresentar aquele subúrbio. Aqui, tudo é muito bem alinhado e organizado esteticamente, como por exemplo os enquadramentos elaborados que conversam coerentemente com a direção de arte e figurino em cores escaldantes que remetem ao verão retratado na telona. Tal organização estética logo se contrapõem ao descontrole das personagens, algo que soa muito interessante na narrativa. Enquanto os objetos cênicos estão perfeitamente alocados e as paredes coloridas intactas, os moradores daquelas casas aparecem eufóricos e, em certos momentos, até desequilibrados. O nonsense transita sem interferência na narrativa em meio a conversas em voz alta e atitudes exaltadas, características marcantes do tal exagero italiano. Os irmãos Damiano e Fabio D’Innocenzo, que assinam a direção e o roteiro, criam uma atmosfera lunática com ótimas interpretações. Há também uma preocupação entre os integrantes daquelas famílias de transparecer uma vida perfeita para os outros e, assim, se exaltam em frivolidades cotidianas e escondem mentiras e falsidades debaixo do tapete. Porém, quando as luzes se apagam, tal felicidade se desmorona e uma outra realidade é revelada; com consequências, quase sempre desagradáveis, de certas atitudes grotescas e questionáveis. Fábulas Ruins lembra obras como o premiado Beleza Americana e a série Desperate Housewives, no sentido narrativo, e o filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, em relação à estética. Há um exagero compreensível na trama, que funciona para a construção do arco dramático; vale destacar a cena da piscina de plástico (sem mais comentários para não dar spoiler). Os irmãos D’Innocenzo, por meio da ficção e com um toque de humor ácido, retratam uma sociedade bastante verossímil em relação aos dias de hoje, na qual o conflito de gerações desenvolve relações pouco afetuosas e até descartáveis. Fábulas Ruins traz uma perturbação que ronda aquele subúrbio e um desfecho, de certo modo, surpreendente. (Vitor Búrigo)
*Filme visto na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Nota do CINEVITOR: