A 74ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim, que acontecerá entre os dias 15 e 25 de fevereiro, acaba de anunciar os filmes selecionados para a Competição e que disputarão o cobiçado Urso de Ouro, prêmio máximo do evento.
Neste ano, 20 filmes, de 30 países, estão na disputa; seis são dirigidos ou codirigidos por mulheres. Além disso, 19 títulos são estreias mundiais e nove cineastas já passaram pela Berlinale. O júri da principal competição do evento será presidido por Lupita Nyong’o, atriz, diretora e produtora quênio-mexicana.
Em comunicado oficial, Carlo Chatrian, diretor artístico do festival, disse: “Estamos particularmente orgulhosos da seleção deste ano, que alcança o melhor equilíbrio possível entre autores que estimamos e admiramos e novas vozes poderosas no cenário do cinema independente. O que impulsiona a seleção é, claro, a variedade das histórias e dos seus contadores, mas também e mais ainda a pluralidade de estilos com o objetivo de mostrar as amplas possibilidades da linguagem cinematográfica”.
O festival também anunciou os selecionados para a mostra Encounters, que visa promover trabalhos esteticamente e estruturalmente ousados de cineastas independentes e inovadores. Seu objetivo é apoiar novos olhares no cinema e dar mais espaço às diversas formas narrativas e documentais na seleção oficial. Concebido como contraponto e complemento à Competição, o programa Encounters é uma mostra competitiva dedicada à novas visões cinematográficas; os filmes selecionados desafiam as formas tradicionais.
Nesta mostra, o cinema brasileiro ganha destaque com dois títulos, entre eles, Cidade; Campo, o mais recente longa da diretora Juliana Rojas. Rodado na cidade de São Paulo e na zona rural do Mato Grosso do Sul, o filme fala sobre migração entre o meio urbano e o rural. Na primeira história, a trabalhadora rural Joana migra para São Paulo, após o rompimento de uma barragem de dejetos de mineração inundar sua cidade natal. Ela vai ao encontro de sua irmã Tânia, que mora em um bairro periférico junto com seu neto Jaime. Joana busca prosperar na maior cidade da América do Sul, conhecida como a “cidade do trabalho”. Ela adentra o universo dos subempregos por aplicativos, trabalhando como faxineira.
Na segunda história do filme, Flávia se muda com Mara, sua companheira, para a fazenda que herdou do pai, falecido recentemente. As duas mulheres buscam uma nova oportunidade de vida no campo. O contato com a casa abandonada revela a Flávia aspectos desconhecidos de seu pai, com quem mantinha uma relação distante. O casal sofre um choque de realidade ao enfrentar a dureza do cotidiano rural. A natureza as obriga a enfrentar frustrações e a lidar com memórias e fantasmas.
Chen Xiao Xin em Dormir de Olhos Abertos, de Nele Wohlatz
Com distribuição da Vitrine Filmes, o longa conta com Fernanda Vianna, Mirella Façanha, Bruna Linzmeyer, Andrea Marquee, Preta Ferreira, Marcos de Andrade e Nilcéia Vicente; apresentando Kalleb Oliveira. A produção é da Dezenove Som e Imagens, com Sara Silveira e Maria Ionescu. Cris Lyra e Alice Andrade Drummond assinam a direção de fotografia; a montagem é de Cristina Amaral e trilha sonora de Rita Zart. A direção de arte é assinada por Juliana Lobo e Daniela Aldrovandi.
Vale destacar que Cidade; Campo participou do Festival de Locarno, em 2020, que realizou uma edição especial somente com projetos por conta da pandemia; uma iniciativa chamada Locarno 2020 – For the Future of Films, com a seção The Films After Tomorrow, que oferecia prêmios monetários aos realizadores cujos filmes e projetos foram cancelados ou adiados pela pandemia e causaram danos econômicos. O júri juvenil, Cinema&Gioventù, escolheu o brasileiro como o melhor projeto internacional; o longa levou o prêmio no valor de 5 mil francos suíços.
Outro filme nacional que se destaca na mostra Encounters é Dormir de Olhos Abertos, de Nele Wohlatz, uma coprodução entre Brasil, Argentina, Taiwan e Alemanha. Filmado no Recife entre outubro e novembro de 2022, o elenco conta com Chen Xiao Xin, Wang Shin-Hong, Liao Kai Ro, Nahuel Pérez Biscayart e Lu Yang Zong.
Com distribuição da Vitrine Filmes, a produção é da Cinemascópio, Ruda Cine, Yi Tiao Long Hu Bao Taipei e Blinker Filmproduktion; assinada por Emilie Lesclaux, Kleber Mendonça Filho, Justine O., Roger Huang, Violeta Bava, Rosa Martínez Rivero, Meike Martens e Nele Wohlatz.
Em comunicado oficial, postado em suas redes sociais, Kleber Mendonça Filho, um dos produtores do longa, disse: “O filme de Nele Wohlatz, que Emilie Lesclaux produziu com Taiwan, Argentina e Alemanha, é filmado no Recife, dirigido por uma alemã, com atores chineses, taiwaneses, pernambucanos, um elenco e equipe internacional. É fascinante ver um retrato do Brasil (via Recife) fotografado por uma artista de fora. Em um ano, Emilie deu um tipo de volta olímpica com 3 filmes em Cannes (Retratos Fantasmas), Veneza (Sem Coração) e agora em Berlim. Não é pouca coisa. Três filmes bem diferentes e fora da casinha que têm no trabalho de Emilie uma marca especial. Viva Emilie!”.
[ATUALIZADO: 01/02/24]
Além de Lupita Nyong’o na presidência, o júri contará também com: Brady Corbet, ator e diretor americano; Ann Hui, diretora, produtora, roteirista e atriz de Hong Kong; Christian Petzold, cineasta e roteirista alemão; Albert Serra, cineasta espanhol; Jasmine Trinca, atriz italiana; e Oksana Zabuzhko, romancista ucraniana.
Conheça os novos filmes selecionados para o Festival de Berlim 2024:
COMPETIÇÃO
A Different Man, de Aaron Schimberg (EUA)
Another End, de Piero Messina (Itália)
Architecton, de Victor Kossakovsky (Alemanha/França)
Black Tea, de Abderrahmane Sissako (França/Luxemburgo/Taiwan/Mauritânia/Costa do Marfim)
Dahomey, de Mati Diop (França/Senegal/Benin)
Des Teufels Bad (The Devil’s Bath), de Veronika Franz e Severin Fiala (Áustria/Alemanha)
Gloria!, de Margherita Vicario (Itália/Suíça)
Hors du temps (Suspended Time), de Olivier Assayas (França)
In Liebe, Eure Hilde, de Andreas Dresen (Alemanha)
Keyke mahboobe man, de Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha (Irã/França/Suécia/Alemanha)
L’Empire, de Bruno Dumont (França/Itália/Alemanha/Bélgica/Portugal)
La Cocina, de Alonso Ruizpalacios (México/EUA)
Langue Étrangère, de Claire Burger (França/Alemanha/Bélgica)
Mé el Aïn, de Meryam Joobeur (Tunísia/França/Canadá/Noruega/Qatar/Arábia Saudita)
Pepe, de Nelson Carlos De Los Santos Arias (República Dominicana/Namíbia/Alemanha/França)
Shambhala, de Min Bahadur Bham (Nepal/França/Noruega/Hong Kong/China/Turquia/Taiwan/EUA/Qatar)
Small Things Like These (Kleine Dinge wie diese), de Tim Mielants (Irlanda/Bélgica)
Sterben (Dying), de Matthias Glasner (Alemanha)
Vogter (Sons), de Gustav Möller (Dinamarca/Suécia)
Yeohaengjaui pilyo (A Traveler’s Needs), de Hong Sang-soo (Coreia do Sul)
ENCOUNTERS
Arcadia, de Yorgos Zois (Grécia/Bulgária/EUA)
Cidade; Campo, de Juliana Rojas (Brasil/Alemanha/França)
Demba, de Mamadou Dia (Senegal/Dinamarca)
Direct Action, de Guillaume Cailleau e Ben Russell (Alemanha/França)
Dormir de Olhos Abertos, de Nele Wohlatz (Brasil/Argentina/Taiwan/Alemanha)
Favoriten, de Ruth Beckermann (Áustria)
Ivo, de Eva Trobisch (Alemanha)
Khamyazeye bozorg (The Great Yawn), de Aliyar Rasti (Irã)
Kong fang jian li de nv ren (Some Rain Must Fall), de Qiu Yang (China/EUA/França/Singapura)
Mãos no Fogo, de Margarida Gil (Portugal)
Matt and Mara, de Kazik Radwanski (Canadá)
The Fable, de Raam Reddy (Índia/EUA)
Through the Graves the Wind is Blowing, de Travis Wilkerson (EUA)
Tú me abrasas, de Matías Piñeiro (Argentina/Espanha)
Une famille (A Family), de Christine Angot (França)
Fotos: Alice Andrade Drummond/Victor Jucá.