A 75ª edição do Festival de Berlim, que acontecerá entre os dias 13 e 23 de fevereiro, anunciou novos títulos em sua programação em diversas mostras. O cinema brasileiro, já confirmado com diversos filmes, ganha ainda mais destaque com novas obras selecionadas para a Berlinale.
Na mostra Berlinale Special, uma das mais diversas do festival, o Brasil aparece, fora de competição, com o novo longa de Anna Muylaert: A Melhor Mãe do Mundo. O filme acompanha a história de Gal, interpretada por Shirley Cruz, uma catadora de materiais recicláveis que, a fim de escapar da violência do marido Leandro, vivido por Seu Jorge, coloca seus filhos pequenos em sua carroça e atravessa a cidade de São Paulo. Pelo caminho, ela enfrenta os perigos das ruas enquanto tenta convencer as crianças, Rihanna e Benin, de que estão vivendo uma grande aventura.
Muylaert, que em 2015 conquistou o Prêmio do Público na mostra Panorama com o aclamado Que Horas Ela Volta?, retorna com um drama sensível e comovente que aborda temas como vulnerabilidade social, violência doméstica e, acima de tudo, o incondicional amor materno. Ao longo da trama, o público acompanha os sacrifícios emocionais e físicos que Gal faz para preservar a segurança e a inocência de seus filhos. Vale lembrar que em 2016, seu filme Mãe Só Há Uma, também foi exibido na Panorama.
Além de Shirley Cruz e Seu Jorge, o elenco conta também com Rihanna Barbosa, Benin Dailher e Luedji Luna; e participação de Katiuscia Canoro, Dexter e Lourenço Mutarelli. O longa é um projeto da +Galeria, que se destaca por apoiar produções com temas relevantes e impactantes, capazes de abrir diálogos sobre questões sociais pertinentes.
Com um programa abrangente de filmes contemporâneos que exploram as vidas e os mundos de crianças e adolescentes, a Berlinale Generation desfruta de uma posição única como instigadora de um cinema jovem que quebra convenções. Neste ano, os títulos selecionados oferecem uma variedade deslumbrante de linguagens cinematográficas. As obras fazem parte das mostras Generation Kplus e Generation 14plus, dois programas de competição que exibem um cinema internacional de última geração para o público jovem e para todos os outros.
Cena do curta-metragem brasileiro Arame Farpado, de Gustavo de Carvalho
O cinema brasileiro marca presença na Generation 14plus com o curta-metragem Arame Farpado, de Gustavo de Carvalho. Produzido inteiramente no interior de São Paulo pela UFO Filmes, com sede em Paraguaçu Paulista, o filme foi realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo e orçamento enxuto. Para o diretor, a seleção na Berlinale é uma conquista significativa: “É um prazer estrear esse filme em um festival tão importante quanto a Berlinale, que faz com que essa história chegue cada vez mais longe. Berlim ajuda o filme a cruzar fronteiras, ainda mais em um momento tão bonito para o cinema brasileiro”.
A narrativa acompanha um drama familiar com duas irmãs e um padrasto recém-chegado, forçados a passar uma noite na sala de espera de um hospital. Enquanto enfrentam seus próprios conflitos, tornam-se testemunhas do caos social ao redor. O elenco traz a mineira Camila Botelho como protagonista e Ricardo Bagge, além da jovem atriz Isabella Guido, de 12 anos, descoberta em uma escola local, que faz sua estreia no cinema com uma performance marcante.
As filmagens em Paraguaçu Paulista ganharam um toque de realismo com a construção de um hospital fictício em um prédio local e isso gerou burburinho na cidade, pois muitos moradores acreditaram que se tratava de uma inauguração real. A repercussão foi tão grande que a prefeitura precisou divulgar uma nota pública esclarecendo que o local era parte do cenário de um filme. A produtora Luísa Cação reforçou o impacto da seleção na Berlinale: “A gente quer que o mundo veja nossas histórias, escute o que a gente tem pra contar… e Berlim é uma oportunidade muito grande pra isso. Estamos muito felizes!”.
Ainda na Generation 14plus, o Brasil se destaca com a exibição especial da obra De Menor: A Série, de Caru Alves de Souza, que em 2020 passou pela Berlinale com Meu Nome é Bagdá, que foi premiado na mostra Generation. Partindo de uma grande variedade de formatos de gênero e baseados em um cenário antinaturalista, jovens atores retratam cenas em que jovens entram em conflito com autoridades estatais; uma reflexão coletiva sobre as dimensões sistêmicas da justiça e da injustiça.
Produção ficcional que gira em torno de audiências envolvendo adolescentes em conflito com a lei, a série traz uma linguagem não-naturalista. Cada um dos seis episódios adota um gênero ou estilo diferente, incluindo musical, programa de TV, game e podcast. Em Berlim, serão exibidos dois deles.
Grace Orsato em De Menor: A Série, de Caru Alves de Souza
Com seu roteiro final fruto de um processo colaborativo de criação desenvolvido junto ao elenco, a série conta com a atuação de jovens talentos, como: Grace Orsato, Giulia Del Bel, William Costa, Benjamín, Luan Carvalho e Taciana Bastos. A obra tem ainda participações das atrizes Carlota Joaquina, Marina Medeiros, do músico Shabazz, Rita Batata e Giovanni Gallo; estes dois últimos foram protagonistas do longa De Menor, vencedor do Festival do Rio, em 2013, e que serviu de inspiração para a série.
De Menor: A Série é uma produção da Tangerina Entretenimento, empresa comandada pela cineasta Tata Amaral. A equipe criativa principal é composta pelo diretor de fotografia Leonardo Feliciano, a montadora Camila Rizzo, o diretor de arte Julio Dojcsar, a figurinista Silvana Marcondes, a preparadora de elenco Marina Medeiros, o editor de som e mixador Pedro Noizyman e o autor da trilha musical André Whoong.
Além disso, Lucia Murat também marca presença na Generation 14plus com seu novo trabalho: Hora do Recreio, que combina documentário com uma abordagem ficcional com temas como violência, racismo e tráfico de drogas. Esta é a terceira vez da cineasta brasileira no festival, depois de participar com Maré, Nossa História de Amor, em 2007, e Doces Poderes, em 1997.
Com o objetivo de provocar a discussão sobre a educação no país sob a perspectiva de alunos dos ensinos fundamental e médio, com idades entre 14 e 19 anos, o documentário, que será distribuído pela Imovision, aponta os problemas vividos por adolescentes de quatro escolas de diferentes comunidades e bairros do Rio de Janeiro e suas famílias. Partindo de uma pesquisa realizada com professores da rede pública, geralmente apresentados por meio de estatísticas, o projeto une debates com os alunos em sala de aula, sobre os temas evasão escolar, racismo, tráfico de drogas, bala perdida, feminicídio e gravidez precoce, com performances ficcionais.
Documentário brasileiro Hora do Recreio, de Lucia Murat
A partir da dramatização da peça de teatro baseada no livro Clara dos Anjos, de Lima Barreto, escrito no início do século XX, que mostra o abuso sofrido por uma jovem negra suburbana, realizada pelos grupos Nós do Morro, do Vidigal; Grupo de Teatro VOZES, do Cantagalo; e Instituto Arteiros, da Cidade de Deus; os jovens comparam as interpretações às suas vivências como moradores do Morro da Previdência, Morro do Alemão, Colégio e Vidigal.
Sobre o filme, a diretora falou: “A experiência junto aos adolescentes de Hora do Recreio foi das mais emocionantes dos meus muitos anos de filmagem. A coragem com que eles contaram os sofrimentos que tiveram com suas famílias junto a uma capacidade de articular essas questões deixaram a equipe admirada. Já os alunos de teatro dos grupos com que trabalhamos mostraram uma dedicação e uma disciplina dignas de profissionais tarimbados. Encararam sem medo aquele texto duro e difícil do início do século XX e ao mesmo tempo conseguiram dar ao filme uma leveza, já que com muito humor conseguiam rir do passado e fazer um paralelo com as suas vivências de hoje”.
O cinema brasileiro segue com outras produções anunciadas recentemente, como: o documentário Atardecer en América, de Matías Rojas Valencia, uma coprodução entre Chile e Colômbia, na mostra Generation 14plus; e Anba dlo, de Luiza Calagian e Rosa Caldeira, uma coprodução entre Cuba, Brasil e Haiti, na Berlinale Shorts.
Neste ano, o filme de abertura da mostra Panorama será o suspense Welcome Home Baby, do cineasta austríaco Andreas Prochaska. O festival também anunciou anteriormente que o cineasta Todd Haynes será o presidente do Júri Internacional desta edição; diretor de filmes como Longe do Paraíso, Carol, Não Estou Lá e Segredos de um Escândalo, foi premiado na Berlinale, em 1991, com seu filme de estreia: Poison, que levou o Teddy Award. E mais: a consagrada atriz Tilda Swinton será homenageada com o Urso de Ouro Honorário.
Conheça os novos títulos selecionados para o Festival de Berlim 2025:
PANORAMA
1001 Frames, de Mehrnoush Alia (EUA)
Begyndelser, de Jeanette Nordahl (Dinamarca/Suécia/Bélgica)
Confidente, de Çağla Zencirci e Guillaume Giovanetti (Turquia/França/Luxemburgo)
Delicious, de Nele Mueller-Stöfen (Alemanha)
Dreamers, de Joy Gharoro-Akpojotor (Reino Unido)
Hysteria, de Mehmet Akif Büyükatalay (Alemanha)
L’ Incroyable femme des neiges, de Sébastien Betbeder (França)
Looking for Langston, de Isaac Julien (Reino Unido)
Magic Farm, de Amalia Ulman (EUA/Argentina)
Mikusu Modan, de Toshizo Fujiwara (Japão)
Olmo, de Fernando Eimbcke (EUA/México)
Once Again… (Statues Never Die), de Isaac Julien (Reino Unido)
Other People’s Money, de Jan Schomburg, Dustin Loose e Kaspar Munk (Alemanha/Dinamarca/Áustria)
Queerpanorama, de Jun Li (EUA/Hong Kong/China)
Schwesterherz, de Sarah Miro Fischer (Alemanha/Espanha)
Silent Sparks, de Ping Chu (Taiwan)
The Heart Is a Muscle, de Imran Hamdulay (África do Sul/Arábia Saudita)
Zikaden, de Ina Weisse (Alemanha/França)
PANORAMA DOKUMENTE
Bedrock, de Kinga Michalska (Canadá)
Ich will alles. Hildegard Knef, de Luzia Schmid (Alemanha)
Listy z Wilczej, de Arjun Talwar (Polônia/Alemanha)
Monk in Pieces, de Billy Shebar (EUA)
Yalla Parkour, de Areeb Zuaiter (Suécia/Qatar/Arábia Saudita/Palestina)
BERLINALE SPECIAL
A Melhor Mãe do Mundo, de Anna Muylaert (Brasil/Argentina)
Ancestral Visions of the Future, de Lemohang Jeremiah Mosese (França/Lesoto/Alemanha/Arábia Saudita)
Je n’avais que le néant – “Shoah” par Lanzmann, de Guillaume Ribot (França)
Pa-gwa, de Min Kyu-dong (Coreia do Sul)
Shoah, de Claude Lanzmann (França)
BERLINALE SPECIAL GALA
Das Licht, de Tom Tykwer (Alemanha)
Mickey 17, de Bong Joon Ho (EUA/Coreia do Sul/Reino Unido)
The Narrow Road to the Deep North, de Justin Kurzel (Austrália)
The Thing with Feathers, de Dylan Southern (Reino Unido)
GENERATION KPLUS
Akababuru: Expresión de asombro, de Irati Dojura Landa Yagarí (Colômbia)
Anngeerdardardor, de Christoffer Rizvanovic Stenbakken (Dinamarca/Groenlândia)
Down in the Dumps, de Vera van Wolferen (Holanda)
El paso, de Roberto Tarazona (Cuba)
Juanita, de Karen Joaquín e Uliane Tatit (Espanha)
Little Rebels Cinema Club, de Khozy Rizal (Indonésia)
Only on Earth, de Robin Petré (Dinamarca/Espanha)
Pohádky Po Babičce, de David Súkup, Patrik Pašš, Leon Vidmar e Jean-Claude Rozec (Tchéquia/Eslováquia/Eslovênia/França)
Umibe é Iku Michi, de Satoko Yokohama (Japão)
Zirkuskind, de Julia Lemke e Anna Koch (Alemanha)
GENERATION 14PLUS
Arame Farpado, de Gustavo de Carvalho (Brasil)
Atardecer en América, de Matías Rojas Valencia (Brasil/Chile/Colômbia)
Christy, de Brendan Canty (Reino Unido/Irlanda)
De Menor: A Série, de Caru Alves de Souza (Brasil)
Hora do Recreio, de Lucia Murat (Brasil)
Howl, de Domini Marshall (Austrália)
Julian and the Wind, de Connor Jessup (Canadá)
Paternal Leave, de Alissa Jung (Alemanha/Itália)
Quaker, de Giovanna Molina (EUA)
Ran Bi Wa, de Li Wenyu (China)
Ruse, de Rhea Shukla (Índia)
Sous ma fenêtre, la boue, de Violette Delvoye (França/Bélgica)
Sunshine, de Antoinette Jadaone (Filipinas)
Uiksaringitara, de Zacharias Kunuk (Canadá)
Wish You Were Ear, de Mirjana Balogh (Hungria)
FORUM
2024 (2023), de Stefan Hayn (Alemanha)
After Dreaming, de Christine Haroutounian (EUA/Armênia/México)
Batim, de Veronica Nicole Tetelbaum (Israel/Alemanha)
Bombam, de Kang Mi-ja (Coreia do Sul)
Cadet, de Adilkhan Yerzhanov (Cazaquistão)
Canone effimero, de Gianluca De Serio e Massimiliano De Serio (Itália)
Chas pidlotu, de Vitaly Mansky (Letônia/Tchéquia/Ucrânia)
Colosal, de Nayibe Tavares-Abel (República Dominicana)
Der Kuss des Grashüpfers, de Elmar Imanov (Alemanha/Luxemburgo/Itália)
Evidence, de Lee Anne Schmitt (EUA)
Fwends, de Sophie Somerville (Austrália)
Holding Liat, de Brandon Kramer (EUA)
Janine zieht aufs Land, de Jan Eilhardt (Alemanha)
La memoria de las mariposas, de Tatiana Fuentes Sadowski (Peru/Portugal)
little boy, de James Benning (EUA)
Minimals in a Titanic World, de Philbert Aimé Mbabazi Sharangabo (Ruanda/Alemanha/Camarões)
Palliativstation, de Philipp Döring (Alemanha)
Punku, de Juan Daniel Fernández Molero (Peru/Espanha)
Queer as Punk, de Yihwen Chen (Malásia/Indonésia)
Restitucija, ili, San i java stare garde, de Želimir Žilnik (Sérvia/Eslovênia)
Sirens Call, de Miri Ian Gossing e Lina Sieckmann (Alemanha/Holanda)
The Sense of Violence, de Kim Mooyoung (Coreia do Sul)
The Swan Song of Fedor Ozerov, de Yuri Semashko (Lituânia)
The Trio Hall, de Su Hui-yu (Taiwan)
Underground, de Kaori Oda (Japão)
Unsere Zeit wird kommen, de Ivette Löcker (Áustria)
Vaghachipani, de Natesh Hegde (Índia/Singapura)
Wenn du Angst hast nimmst du dein Herz in den Mund und lächelst, de Marie Luise Lehner (Áustria)
What’s next?, de Cao Yiwen (Hong Kong/China)
When Lightning Flashes Over the Sea, de Eva Neymann (Alemanha/Ucrânia)
BERLINALE SHORTS
After Colossus, de Timoteus Anggawan Kusno (Itália/Indonésia/Holanda)
Anba dlo, de Luiza Calagian e Rosa Caldeira (Cuba/Brasil/Haiti)
Because of (U), de Tohé Commaret (França)
Casa chica, de Lau Charles (México)
Casi septiembre, de Lucía G. Romero (Espanha)
Children’s Day, de Giselle Lin (Singapura)
Comment ça va?, de Caroline Poggi e Jonathan Vinel (França)
Dar band, de Hesam Eslami (Irã)
Élő kövek, de Jakob Ladányi Jancsó (Hungria)
Futsu no seikatsu, de Yoriko Mizushiri (França/Japão)
Kámen Osudu, de Julie Černá (Tchéquia)
Ke wai huo dong, de Dean Wei e Xu Yidan (China)
Koki, Ciao, de Quenton Miller (Holanda)
Lloyd Wong, Unfinished, de Lesley Loksi Chan (Canadá)
Mother’s Child, de Naomi Noir (Holanda)
Prekid vatre, de Jakob Krese (Alemanha/Itália/Eslovênia)
Rückblickend betrachtet, de Daniel Asadi Faezi e Mila Zhluktenko (Alemanha)
Sammi, Who Can Detach His Body Parts, de Rein Maychaelson (Indonésia)
Their Eyes, de Nicolas Gourault (França)
Through Your Eyes, de Nelson Yeo (Singapura)
BERLINALE SHORTS SPECIAL PROGRAMME
Happy Doom, de Billy Roisz (2023) (Áustria)
Paranmanjang, de Park Chan-wook e Park Chan-kyong (2011) (Coreia do Sul)
Tant qu’il nous reste des fusils à pompe, de Caroline Poggi e Jonathan Vinel (2014) (França)
Three Stones for Jean Genet, de Frieder Schlaich (2014) (Alemanha)
Vilaine fille mauvais garçon, de Justine Triet (2012) (França)
Vita Lakamaya, de Akihito Izuhara (2016) (Japão)
BERLINALE CLASSICS
A Deusa (Shennü), de Wu Yonggang (1934) (China)
Agonia de Amor (The Paradine Case), de Alfred Hitchcock (1947) (EUA)
Anjos do Inferno (Hell’s Angels), de Howard Hughes e James Whale (1930) (EUA)
Naerata ometi, de Leida Laius e Arvo Iho (1985) (Estônia/União Soviética)
Perseguidor Implacável (Dirty Harry), de Don Siegel (1971) (EUA)
Seisaku no Tsuma, de Yasuzô Masumura (1965) (Japão)
Solo Sunny, de Konrad Wolf (1980) (Alemanha)
Vestida de Azul, de Antonio Giménez-Rico (1983) (Espanha)
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Fotos: Aline Arruda/Renato Groberman Hojda/Leonardo Feliciano/Divulgação.