Festival de Berlim 2025 anuncia os primeiros títulos; filmes brasileiros são selecionados

por: Cinevitor
Gabriel Faryas e Henrique Barreira em Ato Noturno, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher

A 75ª edição do Festival de Berlim, que acontecerá entre os dias 13 e 23 de fevereiro de 2025, acaba de anunciar os primeiros filmes selecionados para as mostras Panorama, Generation e Berlinale Special; outros títulos serão revelados em breve. 

Na mostra Panorama, que destaca o cinema internacional contemporâneo, ousado e não convencional, o Brasil ganha destaque com Ato Noturno, novo longa de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher; esta é a terceira participação da dupla no evento, que já exibiu anteriormente Beira-Mar e Tinta Bruta. Em comunicado oficial, disseram: “Estamos muito felizes com a estreia mundial de Ato Noturno na Berlinale, um evento pelo qual temos imenso carinho e gratidão. Agora, retornar ao festival com um filme tão especial e que marca um novo passo na nossa cinematografia, nos deixa profundamente emocionados e ansiosos. Mal podemos esperar para aquecer o inverno berlinense com as intensas noites de Ato Noturno”.

Protagonizado pelo ator revelação Gabriel Faryas, o filme é um suspense erótico que entrelaça desejo e performance em uma narrativa tensa e sensual sobre identidade e a constante gangorra entre o instinto de se render a ela e a pressão social para negá-la. A trama acompanha Matias, um ator em início de carreira que busca sua primeira grande chance ao estrelato em Porto Alegre, participando de um respeitado grupo de teatro. Quando a notícia de que uma grande série será rodada na cidade chega à trupe, a já saliente rivalidade entre o protagonista e seu colega de apartamento, Fabio, vivido por Henrique Barreira, se acirra. Mas Matias tem um obstáculo ainda mais desafiador se quiser conseguir o papel do galã: para ter uma chance de realizar seu sonho, o jovem terá que esconder parte de quem é e ceder às convenções de gênero.

Talvez em outro contexto a ambição prevalecesse diante da individualidade. No entanto, ao se envolver com Rafael, interpretado por Cirillo Luna, um político que vive um teatro à sua maneira, manter suas vontades em segredo se torna uma dinâmica tão opressora, quanto estimulante. Enfatizando as performances simbólicas e literais dos seus personagens, seja no palco, no sexo ou na dinâmica violenta das relações de poder, Ato Noturno coloca o espectador na posição de voyeur dos embates íntimos de cada um dos personagens com uma narrativa envolvente, que celebra a autodescoberta, a vulnerabilidade e a ousadia estilística.

“Há muito tempo exploramos o olhar e a performance como elementos centrais em nosso cinema. Com Ato Noturno, essa investigação permanece, mas os personagens se relacionam com esses elementos de uma nova maneira. Além disso, tínhamos o desejo de criar um suspense erótico, com toques de noir; um universo que acreditamos dialogar profundamente com o Brasil de hoje. Nesse processo, conseguimos construir tensão, brincar com corpos em movimento e explorar o erotismo em uma ambientação noturna, sedutora e perigosa”, analisou a dupla de diretores.

Produzido por Jessica Luz e Paola Wink e com distribuição da Vitrine Filmes, o longa conta também com Ivo Müller, Larissa Sanguiné, Kaya Rodrigues, Gabriela Greco e Antonio Czamanski. A direção de fotografia é de Luciana Baseggio, a montagem é de Germano de Oliveira e a direção de arte é de Manuela Falcão; Tiago Bello assina o desenho de som e mixagem e a trilha sonora original é de Thiago Pethit, Arthur Decloedt e Charles Tixier.

Com um programa abrangente de filmes contemporâneos que exploram as vidas e os mundos de crianças e adolescentes, a Berlinale Generation desfruta de uma posição única como instigadora de um cinema jovem que quebra convenções. Neste ano, os títulos selecionados oferecem uma variedade deslumbrante de linguagens cinematográficas. As obras fazem parte das mostras Generation Kplus e Generation 14plus, dois programas de competição que exibem um cinema internacional de última geração para o público jovem e para todos os outros.

O cinema brasileiro marca presença na Generation Kplus com A Natureza das Coisas Invisíveis, primeiro longa de Rafaela Camelo, que volta ao Festival de Berlim depois de apresentar, em 2023, o curta As Miçangas, codirigido por Emanuel Lavor. Sobre o novo filme: “A história se passa no Centro-Oeste brasileiro, região onde nasci e que me marcou profundamente. É um filme sobre duas meninas de 10 anos que acabam passando as férias num hospital. Meu desejo foi realizar um filme que mostrasse conflitos e dilemas da infância de forma leve, mas com a devida seriedade. A Generation, que é a sessão da Berlinale dedicada ao universo de crianças e adolescentes, é a estreia perfeita para um filme com essa pegada”, disse a diretora, que também assina o roteiro

Serena e Laura Brandão em A Natureza das Coisas Invisíveis

Antes mesmo de sua estreia em Berlim, o longa conquistou importantes prêmios e participou de seleções em laboratórios e festivais voltados a filmes em finalização. Entre os prêmios recebidos estão o WIP Paradiso no Ventana Sur (2024), o Prêmio Mistika no BrasilCineMundi (2024), o prêmio de melhor projeto de ficção no BAL-LAB do Festival Biarritz Amérique Latine e o prêmio de melhor roteiro de longa-metragem no Festival Cabíria de 2019. O filme também foi selecionado para o First Cut Lab e First Cut Lab+ no Karlovy Vary (2024), para o Curitiba Lab no Olhar de Cinema (2024), além de integrar o 10º BrLab e o 20º Produire au Sud.

A Natureza das Coisas Invisíveis é protagonizado pela pequena Glória, interpretada por Laura Brandão, uma menina de 10 anos que é obrigada a passar as férias no hospital onde sua mãe, vivida por Larissa Mauro, trabalha como enfermeira. Lá, ela conhece Sofia, papel de Serena, que acredita que a piora na saúde de sua bisavó está relacionada à internação no hospital. Apesar das diferenças, uma forte amizade surge entre as duas, trazendo conforto para enfrentarem juntas os desafios e dores desse momento.

Enquanto exploram o hospital e compartilham seus desejos de sair dali, Glória começa a lidar com sentimentos que parecem não ser inteiramente seus, desde que passou por um transplante de coração quando menor. Entre encontros e reflexões, a amizade das meninas é o fio condutor de uma jornada agridoce de crescimento, com contornos de realismo fantástico que envolvem o mistério dos sentimentos de Glória: “Conheci uma pessoa que tinha feito um transplante cardíaco, e ele me contou um pouco das sensações que ele teve desde que ganhou o novo coração. Hoje essa ideia inicial aparece de forma sutil, mas a questão que fica é a da vida e pós-vida, o que significa o luto ou viver uma segunda vez. Tudo apresentado por diversas perspectivas através de cada personagem”, disse a diretora

Com direção de fotografia de Francisca Sáez Agurto e distribuição da Vitrine Filmes, o elenco conta ainda com Camila Márdila e Aline Marta Martins. A produção é assinada por Daniela Marinho e Rebeca Gutiérrez Campos. A montagem é de Marina Kosa e Rafaela Camelo, a música original de Alekos Vuskovic e a edição e mixagem de som de Lucas Coelho. A direção de arte é assinada por Sarah Noda, o figurino por Rafaelly Godoy e a caracterização e efeitos por Ana Pieroni.

Além disso, o festival anunciou anteriormente que o consagrado cineasta Todd Haynes será o presidente do Júri Internacional desta edição; diretor de filmes como Longe do Paraíso, Carol, Não Estou Lá e Segredos de um Escândalo, foi premiado na Berlinale, em 1991, com seu filme de estreia: Poison, que levou o Teddy Award.

E mais: o drama Das Licht (The Light), dirigido por Tom Tykwer, de Corra, Lola, Corra, será o filme de abertura do 75ª Festival de Berlim. Em comunicado oficial, Tricia Tuttle, diretora do festival, disse: “Sabíamos assim que vimos Das Licht que queríamos que ele abrisse a 75ª Berlinale. Tom Tykwer encontra beleza e alegria em nosso mundo frequentemente fragmentado e desafiador, e captura magicamente a essência de nossa vida moderna na tela. É um grande prazer receber Tom de volta à Berlinale”.

Com Lars Eidinger, Nicolette Krebitz, Elke Biesendorfer, Julius Gause, Elyas Eldridge e Tala Al-Deen no elenco, o filme mostra o cotidiano de uma família de classe média alemã em um mundo que está girando rápido e se tornou instável: “Estou nas nuvens para abrir a Berlinale do ano que vem com Das Licht. A Berlinale é o festival da minha vida. A cidade é meu destino. Este filme é meu anseio”, disse o cineasta.

Conheça os primeiros filmes selecionados para o Festival de Berlim 2025:

PANORAMA

Ato Noturno, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher (Brasil)
Den stygge stesøsteren, de Emilie Blichfeldt (Noruega/Polônia/Suécia/Dinamarca)
Dreams in Nightmares, de Shatara Michelle Ford (EUA/Taiwan/Reino Unido)
Hjem kaere hjem, de Frelle Petersen (Dinamarca)
Lesbian Space Princess, de Emma Hough Hobbs e Leela Varghese (Austrália)
Peter Hujar’s Day, de Ira Sachs (EUA/Alemanha)
Sorda, de Eva Libertad (Espanha)
Welcome Home Baby, de Andreas Prochaska (Áustria/Alemanha)

PANORAMA DOKUMENTE

Bajo las banderas, el sol, de Juanjo Pereira (Paraguai/Argentina/EUA/França/Alemanha)
Die Möllner Briefe, de Martina Priessner (Alemanha)
Khartoum, de Anas Saeed, Rawia Alhag, Ibrahim Snoopy, Timeea M Ahmed e Phil Cox (Sudão/Reino Unido/Alemanha/Qatar)
Paul, de Denis Côté (Canadá)

GENERATION

Anngeerdardardor, de Christoffer Rizvanovic Stenbakken (Dinamarca/Groenlândia)

GENERATION KPLUS

A Natureza das Coisas Invisíveis, de Rafaela Camelo (Brasil/Chile)
Autokar, de Sylwia Szkiłądź (Bélgica/França)
Maya, donne-moi un titre, de Michel Gondry (França)
On a Sunday at Eleven, de Alicia K. Harris (Canadá)
Ornmol, de Marlikka Perdrisat (Austrália)
Space Cadet, de Eric (aka Kid Koala) San (Canadá)

GENERATION 14PLUS

Beneath Which Rivers Flow, de Ali Yahya (Iraque)
Daye: Seret Ahl El Daye, de Karim El Shenawy (Egito)
Fantas, de Halima Elkhatabi (Canadá)
I Agries Meres Mas, de Vasilis Kekatos (Grécia/França)
Ne réveillez pas l’enfant qui dort, de Kevin Aubert (Senegal/França/Marrocos)
Têtes Brûlées, de Maja Ajmia Yde Zellama (Bélgica)
Village Rockstars 2, de Rima Das (Índia/Singapura)
Zečji nasip, de Čejen Černić Čanak (Croácia/Lituânia/Eslovênia)

BERLINALE SPECIAL

Honey Bunch, de Madeleine Sims-Fewer e Dusty Mancinelli (Canadá)
Islands, de Jan-Ole Gerster (Alemanha)
Köln 75, de Ido Fluk (Alemanha/Polônia/Bélgica)

Fotos: Divulgação/Moveo Filmes/Avante Filmes/Vitrine Filmes.

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