Festival de Cannes 2024: curta brasileiro Amarela, de André Hayato Saito, é selecionado

por: Cinevitor
Cena do curta brasileiro Amarela, de André Hayato Saito

Depois de anunciar a seleção de longas, a 77ª edição do Festival de Cannes, que acontecerá entre os dias 14 e 25 de maio, revelou os curtas-metragens selecionados para a Competição Oficial e também para a mostra La Cinef, anteriormente conhecida como Cinéfondation, criada para inspirar e apoiar a próxima geração de cineastas.

Neste ano, o comitê de seleção assistiu 4.420 curtas; onze foram escolhidos, de dez países. Os filmes disputam a Palma de Ouro, que será entregue pelo Júri Oficial, presidido pela atriz belga Lubna Azabal e que contará também com: Marie-Castille Mention-Schaar, cineasta francesa; o italiano Paolo Moretti, curador de cinema; a produtora francesa Claudine Nougaret; e o diretor sérvio Vladimir Perišić. O grupo também será responsável pelos prêmios da mostra La Cinef.

O cinema brasileiro marca presença com Amarela, de André Hayato Saito. A trama se passa em julho de 1998, dia da final da Copa do Mundo entre Brasil e França, quando Erika Oguihara, interpretada por Melissa Uehara, uma adolescente nipo-brasileira de 14 anos que rejeita as tradições familiares, está ansiosa para comemorar um título mundial pelo seu país. Em meio a tensão que progride durante a partida, ela sofre com uma violência que parece invisível e adentra em um mar doloroso de sentimentos.

“Sempre me senti japonês demais pra ser brasileiro e brasileiro demais pra ser japonês. A busca por uma identidade que habita o entrelugar se tornou a parte mais sólida de quem eu sou. Amarela é uma ferida aberta não só do povo nipo-brasileiro, mas de todos os filhos das diásporas ao redor do globo que se conectam a esse sentimento de serem estrangeiros no próprio país. Erika, a protagonista, representa o desejo de encontrar nosso lugar no mundo”, disse André Hayato Saito, diretor do curta. Outro fato celebrado pelo autor é o de ter composto uma equipe e elenco majoritariamente amarelos, acontecimento raro no audiovisual brasileiro.

O elenco conta também com Ricardo Oshiro, Carolina Hamanaka, Kazue Akisue, Pedro Botine, Joana Amaral, Lorena Castro, Kadu Oliveira, Izah Neiva, Yuki Sugimoto, Bruno Dias, Naoki Takeda, Bernardo Antônio, Adriana Hideshima e Takao Yabu.

O roteiro de Amarela é escrito por André Hayato Saito, Luigi Madormo e Tati Wan; e a produção é da MyMama Entertainment. A direção de arte é de Luana Kawamura Demange e a fotografia é assinada por Hélcio Alemão Nagamine e Danilo Arenas Ireijo. O desenho de som é de Guile Martins e a montagem de Caroline Leone; Dudu Tsuda e Lilian Nakahodo assinam a trilha sonora. Com figurino de Yuri Kobayashi e preparação de elenco de Marina Medeiros, o filme é produzido por Mayra Faour Auad, Gabrielle Auad, André Hayato Saito e Tati Wan.

“Me lembro quando Saito chegou para mim em 2019 com um material que rodou todo no Japão com sua família e me disse que queria fazer algo de cinema com isso. Apesar das inúmeras falas e trocas com eles, não falo japonês e não tenho ideia do que está ali. Naquele momento, nos unimos nas linhas invisíveis de sua criação autoral e descobrimos juntos uma voz linda, sensível, potente e muito necessária”, relatou Mayra Faour Auad, produtora e fundadora da MyMama Entertainment.

Amarela é a terceira parte da trilogia de curtas da MyMama com Saito que investiga sua ancestralidade japonesa a partir de um olhar autoral e íntimo. Tal busca identitária teve início com o curta-metragem Kokoro to Kokoro, que abordou os laços de amizade entre sua avó paterna e sua melhor amiga japonesa; depois seguiu com Vento Dourado, obra que tem como personagem principal sua avó materna, Haruko Hirata, que aos 94 anos se encontra no limiar do existir. O cineasta explora a relação entre as gerações em um ensaio sobre a morte e a convivência íntima da matriarca com sua filha Sumiko, sua cuidadora por 18 anos.

Para a 27ª edição da La Cinef, 18 filmes foram selecionados, dentre os 2.263 inscritos por escolas e universidades de cinema do mundo todo. A lista conta com 14 ficções e 4 animações, de 13 países. Criada em 1998 por Gilles Jacob e dedicada à busca de novos talentos, a La Cinef, chamada anteriormente de Cinéfondation, proporciona uma oportunidade para que jovens realizadores vejam os melhores filmes do ano exibidos no festival e absorvam a atmosfera inspiradora na companhia de realizadores de renome; a seleção deste ano reflete a mobilidade geográfica dos estudantes de cinema.

Em comunicado oficial, Lubna Azabal, presidente do júri, disse: “O foco nos jovens cineastas que apresentam seus curtas-metragens e os caminhos que percorreram para chegar até lá me honram. Mal posso esperar para descobrir a riqueza de tudo isso. É uma jornada que quero ser exigente e gentil, curto após curto, passo após passo. Ser selecionado para este lugar mítico é uma mensagem de amor, um reconhecimento mundial, e presidi-lo é motivo de orgulho”.

 Conheça os curtas-metragens selecionados para o Festival de Cannes 2024:

COMPETIÇÃO

Across the Waters, de Viv Li (China)
Amarela, de André Hayato Saito (Brasil)
Les Belles Cicatrices, de Raphaël Jouzeau (França)
Mau por um Momento, de Daniel Soares (Portugal)
Ootidė (Ootid), de Razumaitė Eglė (Lituânia)
Perfectly a Strangeness, de Alison Mcalpine (Canadá)
Rrugës (On The Way), de Samir Karahoda (Kosovo)
Sanki Yoxsan, de Azer Guliev (Azerbaijão)
Tea, de Blake Rice (Eua)
The Man Who Could Not Remain Silent, de Nebojša Slijepčević (Croácia)
Volcelest, de Éric Briche (França)

LA CINEF

Banished Love, de Xiwen Cong (China) (Beijing Film Academy)
Bunnyhood, de Mansi Maheshwari (Reino Unido) (NFTS)
Crow Man, de Yohann Abdelnour (Líbano) (Alba)
Echoes, de Robinson Drossos (França) (ENSAD)
Elevación, de Gabriel Esdras (México) (Universidad de Guadalajara)
Forest of Echoes, de Yoori Lim (Coreia do Sul) (Korea National University of Arts)
In Spirito, de Nicolò Folin (Itália) (Centro Sperimentale di Cinematografia)
It’s Not Time For Pop, de Amit Vaknin (Israel) (Tel Aviv University)
Mauvais Coton, de Nicolas Dumaret (França) (La Fémis)
Out The Window Through The Wall, de Asya Segalovich (EUA) (Columbia University)
Plevel (Weeds), de Pola Kazak (República Checa) (FAMO)
Praeis (It’ll Pass), de Dovydas Drakšas (Reino Unido) (London Film School)
Sunflowers Were The First Ones To Know…, de Chidananda S Naik (Índia) (FTII, Pune)
Terminal, de East Elliott (EUA) (NYU)
The Chaos She Left Behind, de Nikos Kolioukos (Grécia) (Aristotle University of Thessaloniki)
The Deer’s Tooth, de Saif Hammash (Palestina) (Dar Al-Kalima University)
Three, de Amie Song (EUA) (Columbia University)
Withered Blossoms, de Lionel Seah (Austrália) (AFTRS)

Foto: Divulgação.

Comentários