Depois de anunciar os primeiros filmes de sua 77ª edição, que acontecerá entre os dias 14 e 25 de maio, o Festival de Cannes revelou novos títulos que completam sua seleção. Como de costume, o evento acontecerá no Palais des Festivals com a tradicional disputa pela Palma de Ouro e mostras paralelas.
Neste anúncio mais recente, divulgado nesta segunda-feira, 22/04, vale destacar a presença do documentário Lula, dirigido pelo cineasta americano Oliver Stone, de sucessos como Platoon, Nascido em 4 de Julho, JFK: A Pergunta que Não Quer Calar, Assassinos por Natureza, Alexandre, As Torres Gêmeas, entre outros.
O longa, que será exibido fora de competição na mostra Sessões Especiais, aborda a prisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2018 e 2019, e seu retorno ao poder. Lula também já participou de outros títulos do cineasta, como Ao Sul da Fronteira, documentário político exibido no Festival de Veneza. Sobre o filme Lula, Stone disse em entrevista recente: “É uma obra sobre a perseguição judicial. Sobre o que aconteceu quando ele havia sido um presidente de sucesso, e, então, foi preso por corrupção, que é como geralmente as coisas são feitas nesses países”.
Em 2016, Oliver Stone e Lula se encontraram no Brasil quando o cineasta esteve por aqui para lançar o filme Snowden: Herói ou Traidor. Dois anos depois, assinou o manifesto Eleição sem Lula é fraude, pelo direito do candidato de participar das eleições daquele ano, que foi negado por decisão arbitrária da Justiça brasileira: “Como muitos de vocês, estou deprimido com o que está acontecendo no Brasil. Vocês devem ser firmes e resistir. Lula não pode continuar preso, precisamos tirá-lo da cadeia”, disse o diretor. E finalizou: “Por favor não percam a esperança. Muitas pessoas de todo o mundo estão com vocês. Nossa torcida e apoio estão com vocês”.
Não é a primeira vez que Stone dirige uma obra sobre a América Latina: em 1986 lançou Salvador: O Martírio de um Povo; o documentário Comandante, em 2003, sobre seu encontro com Fidel Castro; e Mi Amigo Hugo, em 2014, com Hugo Chávez.
Além dos filmes, outra novidade anunciada recentemente foi o pôster deste ano, inspirado no filme Rapsódia em Agosto, de Akira Kurosawa. Toda a beleza poética, magia hipnótica e aparente simplicidade do cinema emergem na cena retratada. O filme foi exibido fora de competição em Cannes em 1991. O comunicado oficial diz: “Espelhando a sala de cinema, este pôster celebra a sétima arte com ingenuidade e admiração. Porque dá voz a todos, permite a emancipação. Porque lembra as feridas, combate o esquecimento. Porque testemunha os perigos, apela à união. Porque acalma traumas, ajuda a reparar os vivos. Num mundo frágil que questiona constantemente a alteridade, o Festival de Cannes reafirma uma convicção: o cinema é um santuário universal de expressão e partilha. Um lugar onde está escrita a nossa humanidade tanto quanto a nossa liberdade”.
E mais: Napoleão, dirigido por Abel Gance e lançado em 1927, abrirá a mostra Cannes Classics deste ano. Considerada uma grande obra da era do cinema mudo e uma das restaurações mais monumentais da história do cinema, o filme passou por uma saga épica para recuperar sua integridade e glória. Várias fontes foram utilizadas para redescobrir o enredo original desta extraordinária reconstrução do filme de sete horas, dividido em duas épocas. Com isso, foi recortado e mutilado diversas vezes; com 22 versões diferentes conhecidas até o momento.
Além disso, nesta 77ª edição, a Palma de Ouro honorária será entregue para o Studio Ghibli. Ao lado dos grandes nomes de Hollywood, o estúdio japonês, representado por dois contadores de histórias, Hayao Miyazaki e Isao Takahata, e uma série de personagens cult, lançou um novo vento no cinema de animação nas últimas quatro décadas.
Em comunicado oficial, Toshio Suzuki, cofundador do Studio Ghibli, disse: “Estou verdadeiramente honrado e encantado que o estúdio receberá a Palma de Ouro Honorária. Gostaria de agradecer ao Festival de Cannes do fundo do meu coração. Há quarenta anos, Hayao Miyazaki, Isao Takahata e eu fundamos o Studio Ghibli com o desejo de levar animação de alto nível e qualidade para crianças e adultos de todas as idades. Hoje, os nossos filmes são vistos por pessoas de todo o mundo”. Com isso, o Studio Ghibli junta-se aos que inspiraram a cinematografia que o Festival de Cannes celebra todos os anos: “Pela primeira vez na nossa história não é uma pessoa, mas uma instituição que escolhemos para celebrar”, afirmaram Iris Knobloch, presidente do festival, e Thierry Frémaux, delegado geral.
Outro anúncio revelado recentemente foi a dupla de jurados do prêmio Caméra d’or: a atriz francesa Emmanuelle Béart, de Um Coração no Inverno, 8 Mulheres, A Vingança de Manon, A Bela Intrigante, Minha Secretária e Os Destinos Sentimentais; e Baloji, rapper e cineasta belga, que passou por Cannes no ano passado com o filme Augure.
Conheça os novos títulos selecionados para o Festival de Cannes 2024:
COMPETIÇÃO
La plus précieuse des marchandises, de Michel Hazanavicius (França/Bélgica)
The Seed of the Sacred Fig, de Mohammad Rasoulof (Irã)
Trei kilometri până la capătul lumii, de Emanuel Parvu (Romênia)
UN CERTAIN REGARD
Flow, de Gints Zilbalodis (Lituânia/Bélgica/França)
Niki, de Céline Sallette (França)
When the Light Breaks, de Rúnar Rúnarsson (Islândia/EUA/França/Croácia) (filme de abertura)
CANNES PREMIERE
Maria, de Jessica Palud (França)
Vivre, Mourir, renaître, de Gaël Morel (França)
SESSÕES ESPECIAIS
An Unfinished Film, de Lou Ye (China)
Lula, de Oliver Stone (EUA)
Nasty, de Tudor Giurgiu (Romênia)
Spectateurs, de Arnaud Desplechin (França)
FORA DE COMPETIÇÃO
Le Comte de Monte-Cristo, de Alexandre De La Patellière e Matthieu Delaporte (França)
Foto: Ricardo Stuckert.