O Festival de Cannes 2024, que acontecerá entre os dias 14 e 25 de maio, anunciou nesta quinta-feira, 11/04, em uma coletiva apresentada por Iris Knobloch, presidente do festival, e Thierry Frémaux, diretor geral, os filmes selecionados para sua 77ª edição.
Neste ano, o cinema brasileiro ganha destaque com Motel Destino, do cineasta cearense Karim Aïnouz, que retorna pelo segundo ano consecutivo à Competição Oficial. Desta vez, o diretor desembarcará na cidade francesa com seu longa-metragem filmado inteiramente no Ceará, seu estado natal; em 2023, concorreu com Firebrand, seu primeiro projeto em língua inglesa. O thriller erótico que marca a sexta passagem de Aïnouz pelo evento, um recorde no cinema nacional, traz como protagonistas Iago Xavier e Nataly Rocha, selecionados por teste entre mais de 500 atores, e Fabio Assunção.
Em comunicado oficial, o diretor disse: “É sempre muito emocionante ter um filme selecionado para o Festival de Cannes. Embora seja a minha sexta vez aqui, parece a primeira. Foi lá que estreei com Madame Satã, há mais de 20 anos, exibi na Quinzena dos Realizadores Abismo Prateado e fui premiado com A Vida Invisível na mostra Un Certain Regard. Foi no festival que dividi com o grande público Marinheiro das Montanhas, um filme tão pessoal sobre a história dos meus pais, e também Firebrand”.
Elemento recorrente na filmografia de Karim Aïnouz, o erotismo é o pano de fundo deste oitavo longa de ficção do diretor. Ele apontou suas lentes para as cores fortes e vibrantes do litoral nordestino, que dão a tônica visual-narrativa da nova obra: “Hoje meu coração está em festa. Retornar ao festival com um filme que marca a minha volta ao Brasil, depois de tanto tempo longe e de quatro anos de um governo fascista, é uma comemoração dupla, uma volta dobrada para casa. Motel Destino é um filme insaciável, sedento e sensual. Nesse retorno, me dei o prazer de explorar novas possibilidades estéticas e dramatúrgicas. Sob o sol implacável do Ceará, ousei sonhar um filme novo, com muito suor, tesão, alegria e a vitalidade própria de quem tem fome de existir”, disse o diretor.
O estabelecimento de beira de estrada que dá título ao novo filme é, segundo Karim, “o principal personagem do enredo e o local onde se entrecruzam questões crônicas da realidade brasileira”. O longa é um retrato íntimo de uma juventude que teve seu futuro roubado por uma elite tóxica e esmagadora, contra a qual a insubordinação e revolta são, não raramente, a saída possível: “Me interessa muito falar de desejo e revolta, temas de absoluta relevância no Brasil contemporâneo. Motel Destino é uma saga do encontro de um rapaz em fuga, totalmente vulnerável, com uma mulher aprisionada pelas dinâmicas de um casamento abusivo. Unidos pelo destino, seus caminhos se cruzam e a história se desenrola”, resumiu Aïnouz.
A narrativa nasceu da parceria de Karim com o Laboratório de Cinema do Porto Iracema das Artes, escola de formação em artes da Secretaria de Cultura do Ceará, gerida em parceria com o Instituto Dragão do Mar, com sede em Fortaleza. O diretor é um dos criadores do laboratório, o CENA 15, onde atuou como tutor durante nove anos e do qual hoje é mentor. Foi lá que ele convidou o roteirista cearense Wislan Esmeraldo para desenvolver o roteiro do projeto. Mais tarde, Mauricio Zacharias se juntou ao processo, repetindo a parceria realizada com o cineasta em Madame Satã e O Céu de Suely.
“Eu me inspirei bastante na pornochanchada e no cinema noir. Posso resumir Motel Destino como um thriller erótico, mas ele é, antes de tudo, uma história de amor. O amor entre um jovem periférico que vive à revelia de um sistema que o quer morto e uma mulher que resiste aos atentados do patriarcado contra a sua própria vida”, adiantou Aïnouz.
Por trás das câmeras, a diretora de fotografia Hélène Louvart, renomada por seus trabalhos em A Vida Invisível e Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre, captura com sutileza as nuances visuais do filme. A montadora Nelly Quettier, reconhecida por Beau Travail e Lazzaro Felice, imprime uma precisão rítmica à narrativa. O diretor de arte Marcos Pedroso, de Madame Satã e Praia do Futuro, agrega uma rica expressão artística à obra. A produção foi liderada por Janaina Bernardes (Cinema Inflamável) e Fabiano Gullane e Caio Gullane (Gullane). Além dos três protagonistas já mencionados, Renan Capivara, Yuri Yamamoto, Fabíola Líper, Isabela Catão, Jupyra Carvalho, David Santos e Bruna Beserra completam o elenco.
Antes de Motel Destino, Karim rodou mais recentemente Firebrand, com Alicia Vikander e Jude Law, no Reino Unido, Marinheiro das Montanhas e Nardjes A. na Argélia, A Vida Invisível (2019) no Rio de Janeiro, que foi o grande vencedor da Un Certain Regard em 2019, e Aeroporto Central (2018) em Berlim. Com filmagens divididas entre Brasil e Alemanha, Praia do Futuro (2014) foi o último projeto realizado por Karim em solo cearense, embora a maior parte da trama tenha sido ambientada na cidade europeia.
Motel Destino é uma produção da Cinema Inflamável e Gullane, coproduzido internacionalmente pela francesa Maneki Films e pela alemã The Match Factory, em associação com Brouhaha Entertainment e Written Rock Films (UK). O filme também é coproduzido por Globo Filmes, Telecine e Canal Brasil e conta com o patrocínio da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. No Brasil, será distribuído pela Pandora Filmes, enquanto The Match Factory responde pelas vendas internacionais.
Ainda na disputa pela Palma de Ouro, Grand Tour, do cineasta português Miguel Gomes, conta com dois brasileiros na equipe de direção de arte: Thales Junqueira e Marcos Pedroso; este último também assina a mesma função em Motel Destino.
Neste ano, o consagrado cineasta George Lucas, das franquias Star Wars e Indiana Jones, será homenageado com a Palma de Ouro honorária. A mostra paralela Un Certain Regard terá o cineasta e ator canadense Xavier Dolan como presidente do júri. O filme de abertura desta edição será a comédia Le Deuxième Acte, de Quentin Dupieux, que será exibida fora de competição; o elenco conta com Léa Seydoux, Louis Garrel, Vincent Lindon, Raphaël Quenard, Manuel Guillot e Françoise Gazio.
A 77ª edição do Festival de Cannes, que terá a cineasta Greta Gerwig como presidente do júri, anunciará novos títulos na programação em breve.
Confira a lista completa com os filmes selecionados para o Festival de Cannes 2024:
COMPETIÇÃO OFICIAL
All We Imagine as Light, de Payal Kapadia (França/Índia/Holanda/Luxemburgo)
Anora, de Sean Baker (EUA)
Bird, de Andrea Arnold (Reino Unido/EUA/França/Alemanha)
Diamant Brut (Wild Diamond), de Agathe Riedinger (França)
Emilia Perez, de Jacques Audiard (México/EUA/França)
Feng Liu Yi Dai (Caught by the Tides), de Jia Zhangke (China)
Grand Tour, de Miguel Gomes (Portugal/Itália/França/Alemanha/Japão/China)
Kinds of Kindness, de Yorgos Lanthimos (Irlanda/Reino Unido)
L’Amour ouf, de Gilles Lellouche (França/Bélgica)
La plus précieuse des marchandises, de Michel Hazanavicius (França/Bélgica)
Limonov, The Ballad, de Kirill Serebrennikov (Itália/França)
Marcello Mio, de Christophe Honoré (França/Itália)
Megalopolis, de Francis Ford Coppola (EUA)
Motel Destino, de Karim Aïnouz (Brasil)
Oh, Canada, de Paul Schrader (EUA)
Parthenope, de Paolo Sorrentino (Itália/França)
Pigen med nålen (The Girl With the Needle), de Magnus von Horn (Dinamarca)
The Apprentice, de Ali Abbasi (EUA/Canadá/Dinamarca/Irlanda)
The Seed of the Sacred Fig, de Mohammad Rasoulof (Irã)
The Shrouds, de David Cronenberg (França/Canadá)
The Substance, de Coralie Fargeat (EUA)
Trei kilometri până la capătul lumii, de Emanuel Parvu (Romênia)
UN CERTAIN REGARD
Armand, de Halfdan Ullmann Tøndel (Noruega/Holanda/Suécia/Alemanha)
Boku no Ohisama (My Sunshine), de Hiroshi Okuyama (Japão)
Gou Zhen (Black Dog), de Guan Hu (China)
L’Histoire de Souleymane, de Boris Lojkine (França)
Le Procès du chien (Who Let The Dog Bite?), de Lætitia Dosch (França)
Le Royaume, de Julien Colonna (França)
Les Damnés (The Damned), de Roberto Minervini (Bélgica/França/Itália)
Norah, de Tawfik Alzaidi (Arábia Saudita)
On Becoming a Guinea Fowl, de Rungano Nyoni (Reino Unido/Zâmbia/Irlanda)
Santosh, de Sandhya Suri (Índia)
September Says (Soeurs), de Ariane Labed (Irlanda/Reino Unido/Alemanha/Grécia/França)
The Shameless, de Konstantin Bojanov (Bulgária/França/Suíça)
The Village Next To Paradise, de Mo Harawe (Áustria/França/Somália/Alemanha)
Viêt and Nam, de Minh Quý Trương (Vietnã/Filipinas)
Vingt Dieux!, de Louise Courvoisier (França)
FORA DE COMPETIÇÃO
Furiosa: Uma Saga Mad Max, de George Miller (Austrália/EUA)
Horizon: An American Saga, de Kevin Costner (EUA)
Le Deuxième Acte, de Quentin Dupieux (França) (filme de abertura)
Rumors, de Evan Johnson, Galen Johnson e Guy Maddin (Canadá/Alemanha)
She’s Got No Name, de Peter Ho-Sun Chan (China)
CANNES PREMIÈRE
C’est pas moi, de Leos Carax (França)
En fanfare (The Matching Bang), de Emmanuel Courcol (França)
Everybody Loves Touda, de Nabil Ayouch (França/Marrocos)
Le Roman de Jim, de Arnaud Larrieu e Jean-Marie Larrieu (França)
Miséricorde, de Alain Guiraudie (França)
Rendez-vous avec Pol Pot, de Rithy Panh (França/Camboja)
SESSÕES ESPECIAIS
Apprendre, de Claire Simon (França)
Ernest Cole, photographe (Ernest Cole: Lost and Found), de Raoul Peck (EUA/França)
L’Invasion (The Invasion), de Sergei Loznitsa (Ucrânia)
La Belle de Gaza, de Yolande Zauberman (França)
Le Fil, de Daniel Auteuil (França)
SESSÃO DA MEIA-NOITE
I, The Executioner, de Seung-wan Ryoo (Coreia do Sul)
Les Femmes au balcon, de Noémie Merlant (França)
The Surfer, de Lorcan Finnegan (Austrália/Irlanda)
Twilight of the Warriors: Walled In, de Soi Cheang (Hong Kong)
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