Foram anunciados nesta terça-feira, 04/07, em uma coletiva de imprensa realizada no Palácio dos Festivais, os primeiros filmes selecionados para as mostras competitivas e detalhes da 51ª edição do Festival de Cinema de Gramado, que acontecerá entre os dias 11 e 19 de agosto.
Dos mais de mil títulos inscritos, as curadorias e comissões de seleção escolheram seis longas-metragens brasileiros, cinco longas-metragens documentais, cinco longas-metragens gaúchos e 23 curtas gaúchos. Na próxima semana, faltando um mês para o começo do festival, serão anunciadas as homenageadas com os troféus Eduardo Abelin e Cidade de Gramado e também os curtas-metragens brasileiros selecionados, em um evento realizado no Rio de Janeiro.
Mais uma vez, a diversidade e o ineditismo permeiam a seleção. Dentre os longas brasileiros, as seis produções terão premiére mundial em Gramado. A lista conta com uma representação da diversidade do audiovisual brasileiro, trazendo visões de realizadores e realizadoras do Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país. Vale ressaltar a pluralidade dos gêneros, englobando thriller, drama, ficção, biografias e documentários; os gaúchos não ficam de fora e demonstram a potência do cinema feito no Estado.
Os filmes serão exibidos presencialmente em Gramado no tradicional Palácio dos Festivais. Na noite do dia 19 de agosto, serão revelados os vencedores dos kikitos. Ao total, serão entregues 38 kikitos, além das tradicionais homenagens com os troféus Oscarito, Eduardo Abelin, Kikito de Cristal e Cidade de Gramado. Em parceria com a Sedac, Secretaria de Estado da Cultura, por meio do Iecine, Instituto Estadual de Cinema, o Festival de Gramado entregará, ainda, três Prêmios Novas Façanhas e o Troféu Leonardo Machado. Outra novidade é o Troféu Sirmar Antunes, em parceria com a Assembleia Legislativa.
Durante o encontro com os jornalistas, a presidente da Gramadotur, Rosa Helena Volk, enfatizou que o mais importante desta edição é começar a construção de uma nova década: “Esse será mais um ano para apresentar novidades e continuar evoluindo, sempre vencendo desafios. A nossa equipe está trabalhando intensamente para trazer o melhor do audiovisual a Gramado. Vocês podem observar pela qualidade dos filmes anunciados. Temos a certeza de que vamos começar a década com uma edição que inova nos formatos”, afirmou.
Marcos Santuario, curador do festival, destacou o árduo trabalho que teve ao lado da atriz argentina Soledad Villamil e do ator e diretor Caio Blat na seleção dos filmes: “Essa é uma das seleções mais potentes dos últimos anos, e também uma das mais difíceis. Foram muitos filmes inscritos, e muitos filmes bons. Nossa busca foi por manter a qualidade, sempre com um olhar para produções criativas e que contemplem elementos inovadores. Observar a diversidade geográfica e narrativa, dando espaço para consagrados realizadores e novos talentos que surgem nas produções nacionais, também foram questões às quais nos atemos”, disse. Completando a equipe, o programador Leonardo Bonfim é o encarregado da curadoria dos longas gaúchos, ao lado de Mônica Kanitz.
Em sua 51ª edição, Gramado opta pelo ineditismo ao entregar o Troféu Oscarito para duas mulheres de inestimável importância na história do audiovisual brasileiro: as atrizes Laura Cardoso e Léa Garcia. Esta será a primeira oportunidade em que a honraria será entregue para dois nomes: “É impossível olharmos para a história do audiovisual brasileiro e não pensarmos nessas duas mulheres. Poder reverenciar essas lendas da nossa cultura com nossa honraria mais antiga e em uma única edição do Festival é, para nós, mais do que um orgulho”, afirma Rosa Helena Volk, presidente da Gramadotur, autarquia municipal responsável pelos eventos da cidade.
Laura Cardoso é uma das atrizes mais premiadas do país e a que mais estrelou telenovelas, totalizando mais de oitenta trabalhos na televisão. Já recebeu diversos prêmios, incluindo três Grande Otelo, quatro Prêmios APCA, dois Troféus Imprensa e dois Prêmios Shell. Em 2002, foi laureada com o Troféu Mário Lago pelo conjunto da obra e, em 2006, foi condecorada com a Ordem do Mérito Cultural.
Com 95 anos de idade e mais de sete décadas dedicadas ao ofício, Cardoso foi uma pioneira na televisão brasileira, estreando em 1952 na extinta TV Tupi. Ao longo dos anos, esteve presente em incontáveis produções, como Fera Radical, Rainha da Sucata e Mulheres de Areia. Nesta última, contracenou com Glória Pires, homenageada com o Troféu Oscarito durante o 41º Festival de Gramado. A atriz afirma que “Laura Cardoso é exemplo para todos os artistas brasileiros pelo seu legado. Te amo, te admiro e te respeito”.
Seus últimos trabalhos no cinema foram no curta Jadzia, de Acacia Araujo, e no longa De Perto Ela Não é Normal, de Cininha de Paula, ambos de 2020. Engana-se quem pensa que a idade avançada faz com que Laura pense em se aposentar: “Não gosto de pensar em parar. Quero continuar trabalhando até quando Deus permitir. Adoro trabalhar. Adoro fazer cinema. É realmente a sétima arte, gostaria de ter feito mais”, disse. Sobre receber o Troféu Oscarito, Laura comenta estar emocionada com a honraria: “Representa o reconhecimento do público, é um prêmio importante na minha carreira. Gramado é uma cidade linda e, no Brasil, é o ponto de encontro do cinema. Minha vontade é levar toda a minha família. Se tudo der certo, eles irão, com certeza”.
Alice Carvalho, Thainá Duarte e Marcélia Cartaxo na série Cangaço Novo
Léa Garcia possui uma história antiga com Gramado, conquistando quatro kikitos com As Filhas do Vento, Hoje tem Ragu e Acalanto. Com 90 anos completos, a veterana possui no currículo mais de cem produções, incluindo cinema, teatro e televisão. Com uma célebre trajetória nas artes, participou do Festival de Cannes, em 1957, com Orfeu Negro, de Marcel Camus, que, em 1960, ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro representando a França.
Atuando em produções para televisão, cinema e teatro, Léa consolidou uma carreira de papéis marcantes em produções como Selva de Pedra, Escrava Isaura, Xica da Silva e O Clone. Foi peça fundamental na quebra da barreira dos personagens tradicionalmente destinados à atrizes negras e tornou-se, assim, uma referência para jovens atores e admirada pela qualidade de suas atuações: “Quando eu estava começando no mundo das artes ela já brilhava nas telonas. Léa Garcia é uma inspiração. Doce, gentil, talentosa, uma estrela, uma pérola. Precisamos reverenciá-la, todos os dias”, afirma a atriz Zezé Motta, que também recebeu o Troféu Oscarito, em 2007.
Mesmo com suas nove décadas concluídas, Léa segue ativa nas artes cênicas. Recentemente, atuou nos longas Barba, Cabelo e Bigode, Um Dia com Jerusa, Pacificado e O Pai da Rita, trabalhando novamente, neste último, com o prestigiado diretor Joel Zito Araújo. Laura Cardoso e Léa Garcia se juntam à Alice Braga, que será homenageada com o Kikito de Cristal.
Pela primeira vez em sua história, o Festival de Gramado terá uma série como atração. A escolhida foi Cangaço Novo, original Amazon, que estará disponível no Prime Video em mais de 240 países e territórios a partir do dia 18 de agosto; a estreia mundial será em Gramado. Produzida pela O2 Filmes, a obra, que conta com oito episódios, foi criada por Eduardo Melo e Mariana Bardan, tem direção de Aly Muritiba e Fábio Mendonça e roteiro de Fernando Garrido, Mariana Bardan, Eduardo Melo e Erez Milgrom. A produção executiva é de Andrea Barata Ribeiro e Bel Berlinck, da O2 Filmes, Fábio Mendonça e Aly Muritiba.
Cangaço Novo conta a história de Ubaldo, interpretado por Allan Souza Lima. O personagem é um bancário infeliz da zona urbana de São Paulo sem nenhuma lembrança de sua infância. Ubaldo descobre, então, que tem uma herança e duas irmãs no sertão cearense: Dilvânia, que lidera um grupo que adora seu famoso pai falecido, e Dinorah, a única mulher em uma gangue de ladrões de banco. A série conta também com Alice Carvalho, Hermila Guedes, Thainá Duarte, Ricardo Blat, Marcélia Cartaxo, Adélio Lima, Nivaldo Nascimento, Titina Medeiros, Pedro Wagner, Rodrigo García, Múcia Teixeira, César Ferrario, Robson Medeiros, Luiz Carlos Vasconcelos, Enio Cavalcante, Joálisson Cunha, Pedro Lamin, entre outros, no elenco.
“Era um sonho antigo de Gramado abrirmos as fronteiras para outras possibilidades de realização audiovisual. Esse ano, apesar de todas as dificuldades, conseguimos dar um passo importante para a concretização desse sonho. A exibição dessa série reforça que estamos atentos às novas práticas de produção e consumo, e abre portas para explorarmos no futuro”, afirma Rosa Helena Volk, presidente da Gramadotur, autarquia municipal responsável pelos eventos de Gramado.
Para Marcos Santuario, a sessão especial demonstra a força do festival: “Estávamos buscando encaixar uma série dentro da programação deste ano. Ficamos muito contentes com o retorno positivo do Prime Video. A série, filmada no Nordeste do Brasil, possui uma equipe maravilhosa e irá promover uma experiência única a quem acompanhar a sessão”. Cangaço Novo terá exibição fora de competição, no dia 14 de agosto, segunda-feira, no Palácio dos Festivais.
Como já anunciado anteriormente, o documentário Retratos Fantasmas, quinto longa-metragem do cineasta e roteirista Kleber Mendonça Filho, terá sua estreia no Brasil na abertura do 51º Festival de Cinema de Gramado. Após apresentar seus últimos filmes, O Som ao Redor, Aquarius e Bacurau, em Gramado, Kleber retorna, depois do Festival de Cannes, com seu segundo documentário, fruto de sete anos de trabalho e pesquisa, filmagens e montagem.
O Gramado Film Market, braço do Festival de Gramado dedicado ao mercado audiovisual, terá nova edição durante a programação. Em seu sétimo ano, o GFM manterá suas tradicionais atividades como palestras, workshops, rodadas de negócios e Mostra Universitária. Além disso, em sua 13ª edição, o projeto Educavídeo receberá ainda mais destaque. Tradicionalmente, a noite que antecede a abertura do Festival de Cinema de Gramado é dedicada aos trabalhos do Programa Municipal Escola de Cinema. Este ano, estimulando a realização audiovisual dos alunos da rede municipal, os filmes feitos pelos estudantes serão exibidos no Palácio dos Festivais na noite do primeiro dia do evento, 11 de agosto, em uma pré-estreia que prestigia o potencial criativo dos jovens realizadores.
Com curadoria do jornalista e crítico de cinema Matheus Pannebecker, a exposição Memórias do 50º Festival de Cinema de Gramado acontece até 4 de outubro no espaço de exposições temporárias do Museu do Festival de Cinema de Gramado. A mostra, com apoio da TVE, Canal Brasil, Educavídeo e das fotógrafas Avany Cunha e Kätlin Fotografias, apresenta uma coleção única de fotografias, cartazes, vídeos e depoimentos que documentam os momentos inesquecíveis, as personalidades icônicas e as produções cinematográficas aclamadas que passaram pelo Festival de Cinema de Gramado no último ano. Além disso, os visitantes podem eternizar, de maneira virtual, suas mãos e assinatura na parede da fama do museu.
Conheça os primeiros filmes anunciados para o Festival de Gramado 2023:
LONGAS-METRAGENS BRASILEIROS
Angela, de Hugo Prata (SP)
Mais Pesado é o Céu, de Petrus Cariry (CE)
Mussum, o Filmis, de Silvio Guindane (RJ)
O Barulho da Noite, de Eva Pereira (TO)
Tia Virgínia, de Fabio Meira (RJ)
Uma Família Feliz, de José Eduardo Belmonte (PR)
LONGAS-METRAGENS DOCUMENTAIS
Anhangabaú, de Lufe Bollini (SP)
Da Porta pra Fora, de Thiago Foresti (DF)
Luis Fernando Verissimo: O Filme, de Luzimar Stricher (RS)
Memórias da Chuva, de Wolney Oliveira (CE)
Roberto Farias: Memórias de um Cineasta, de Marise Farias (RJ)
LONGAS-METRAGENS GAÚCHOS
Céu Aberto, de Elisa Pessoa (Dom Pedrito)
Hamlet, de Zeca Brito (Porto Alegre)
O Acidente, de Bruno Carboni (Porto Alegre)
Sobreviventes do Pampa, de Rogério Rodrigues (Porto Alegre)
Um Certo Cinema Gaúcho de Porto Alegre, de Boca Migotto (Porto Alegre)
CURTAS-METRAGENS GAÚCHOS
As Ondas, de Leandro Engelke e Richard Tavares (Porto Alegre)
Aurora, de Bruna Ueno (Pelotas)
Carcinização, de Denis Souza (Pelotas)
Centenário da Minha Bisa, de Cristyelen Ambrozio (Alvorada)
Colapso Terra em Chamas, de Lucas Tergolina e Matheus Melchionna (Porto Alegre)
Combustão Espontânea, de João Werlang e Pedro Bournoukian (Pelotas)
Concha de Água Doce, de Lau Azevedo e João Pires (Porto Alegre)
Concorso Internazionale, de Bruno de Oliveira (Porto Alegre)
Eu Tibano, de Diego Tafarel e Zé Corrêa (Santa Cruz do Sul)
Fiar o Vento, de Mari Moraga (Porto Alegre)
Fitoterapia, de Eduardo Piotroski (Porto Alegre)
Flora, de Ana Moura (Porto Alegre)
Glênio, de Luiz Alberto Cassol (Santa Maria)
Livra-me, de Felipe da Fonseca Peroni (Santa Cruz do Sul)
Messi, de Henrique Lahude e Camila Acosta (Encantado)
Meu Nome é Leco, de Diana Mesquita e Marina Falkembach (Porto Alegre)
Nau, de Renata de Lélis (Porto Alegre)
O Tempo, de Ellen Correa (Porto Alegre)
Os Féders Vão Dormir, de Eder Ramos (Esteio)
Rasgão, de Victor Di Marco e Márcio Picoli (Porto Alegre)
Restaurante, de Leonardo da Rosa (Taquari)
Sabão Líquido, de Fernanda Reis e Gabriel Faccini (Porto Alegre)
Tremendo Trovão, de Rubens Fabricio Anzolin (Porto Alegre)
Fotos: Petrus Cariry e Aline Arruda.