Festival de Toronto 2024: filmes de Fernando Coimbra e Walter Salles são selecionados

por: Cinevitor
Leandra Leal e Irandhir Santos no longa brasileiro Os Enforcados, de Fernando Coimbra

A 49ª edição do Festival Internacional de Cinema de Toronto, que acontecerá entre os dias 5 e 15 de setembro, divulgou os 63 filmes selecionados para as mostras Gala e Special Presentations, que contará com nomes como Jacques Audiard, Edward Berger, Gia Coppola, Mike Leigh, Morgan Neville, Walter Salles, Athina Rachel Tsangari e Jia Zhang-Ke.

As mostras celebram o que há de melhor no cinema contemporâneo em todos os gêneros e estilos, de todos os cantos do mundo. Com filmes provenientes de 25 países, o TIFF promete ao público um banquete cinematográfico que destaca o talento e a versatilidade dos diretores, atores, músicos, animadores e artistas criativos mais talentosos do mundo.

Neste ano, o cinema brasileiro marca presença com duas obras, entre elas, Os Enforcados, de Fernando Coimbra. Onze anos depois de estrear em Toronto seu primeiro longa-metragem, O Lobo Atrás da Porta, o cineasta agora apresenta um thriller tragicômico estrelado por Leandra Leal e Irandhir Santos: “O Festival de Toronto é um dos mais prestigiados e importantes do mundo. Ele funciona como uma vitrine do que de mais relevante está sendo feito nos mais diversos países. E a Special Presentations é uma seção carro-chefe. Fazer parte dela é importante não só para o filme, mas para a projeção do cinema brasileiro para o mundo”, disse o diretor em comunicado oficial.

Distribuído pela Paris Filmes, o longa é produzido pela Gullane: “É motivo de muito orgulho para a Gullane, para o Fernando Coimbra e toda a equipe de Os Enforcados essa seleção tão especial, tão nobre, na seção Special Presentations, a mais importante para o cinema independente no mundo. Estamos muito empolgados para começar a mostrar o filme e avançar no maravilhoso trabalho que a Playtime, nossa agente de vendas, tem feito com Os Enforcados. É a hora de estrear, é a hora de mostrar o filme para o mundo e vai ser no Festival de Toronto, onde vamos estar com uma delegação bem bonita e bem representativa do cinema brasileiro”, disse o produtor Fabiano Gullane.

O Festival de Toronto ocupa um lugar especial na trajetória do diretor e roteirista brasileiro: “Ele mudou a minha vida. O Lobo Atrás da Porta era um filme de baixo orçamento e ganhou uma proporção muito grande lá”, disse Fernando Coimbra. Seu terceiro filme, Os Enforcados, marca sua volta ao cinema brasileiro depois de dirigir episódios das séries internacionais Narcos, Outcast e Perry Mason e o longa Castelo de Areia, com Nicholas Hoult e Henry Cavill: “Estava morrendo de saudade de voltar a trabalhar no Brasil, falando na minha língua do que conheço profundamente e vivo diariamente”, diz Coimbra.

Em Os Enforcados, Valério, interpretado por Irandhir Santos, e Regina, papel de Leandra Leal, formam um casal vivendo confortavelmente na Zona Oeste do Rio de Janeiro, graças ao império do jogo do bicho construído pelo pai e pelo tio dele. Valério, que acredita ter mantido suas mãos limpas, precisa lidar com as pendências de sua família, em um meio que obedece a leis próprias. Incentivado pela ambiciosa mulher, ele tenta uma jogada que ambos consideram infalível. “Os Enforcados é, antes de tudo, sobre um casamento. O casal sela um pacto e faz um plano de vida que é incapaz de cumprir. Só que esse plano, aqui, se faz a partir de um crime. Um último crime que os levaria em direção à realização dos seus sonhos. Mas a realidade é muito diferente do sonho, e as coisas desandam”, disse o diretor.

O cineasta inspirou-se em Macbeth, de William Shakespeare, mas quis contar a história pela perspectiva de Lady Macbeth. Em Os Enforcados, como na peça, os dois personagens se veem presos em uma escalada de ambição e violência, em uma tragédia à brasileira, com uma boa dose de humor ácido: “O jogo do bicho é um pano de fundo para retratar esse universo corrupto que eles habitam. Mas o filme é construído em cima dos personagens. Ele disseca essas personalidades em todas as suas camadas e explora essa dinâmica de jogo de poder que a grande maioria das relações passionais tem”, disse o diretor. O elenco conta também com Thiago Thomé, Pêpê Rapazote, Ernani Moraes, Augusto Madeira, Ricardo Bittencourt, Irene Ravache e Stepan Nercessian.

Fernanda Torres no brasileiro Ainda Estou Aqui, de Walter Salles

Fernando Coimbra precisava de atores que dessem conta de traduzir essas complexidades na tela. O diretor repete a parceria com Leandra Leal, que interpretou Rosa em O Lobo Atrás da Porta: “Eu sabia do que a Leandra é capaz e que ela potencializaria as camadas de Regina”. Irandhir Santos era um ator com quem desejava trabalhar havia muito tempo: “Os dois são muito focados e criativos. Construímos os personagens juntos”. A ambiguidade dos personagens é o traço comum entre Os Enforcados e O Lobo Atrás da Porta: “Não tem bem e mal. Eles mesmos são seus piores antagonistas, cruzam um limite que não deveriam e que vai levá-los à ruína”.

A diferença entre os dois filmes é que, em Os Enforcados, Fernando Coimbra queria tratar da realidade brasileira e da elite econômica do país. A ideia começou a surgir ainda durante as filmagens de O Lobo Atrás da Porta quando Coimbra passava pela Barra da Tijuca a caminho de locações: “A gente tem um índice de criminalidade gigante, uma desigualdade de renda absurda, mas o audiovisual tende a olhar para o crime na parte baixa da pirâmide: a periferia, o subúrbio, a comunidade. E onde está o dinheiro? Boa parte da nossa elite é extremamente corrupta. São aqueles que se declaram cidadãos de bem, mas na verdade fazem muita coisa ilegal para enriquecer”.

Em 2015, o roteiro passou pelo Laboratório de Sundance, sendo premiado dois anos depois com o Sundance Global Filmmaking Awards, de reconhecimento e apoio a cineastas independentes emergentes. Os trabalhos fora do Brasil e a pandemia adiaram as filmagens, mas Fernando Coimbra nunca parou de trabalhar no roteiro: “Eu tinha vontade de refletir o momento que a gente estava vivendo, que foi ficando cada vez mais louco. Eu precisava constantemente adaptá-lo para aquele sentimento de absurdo”.

Além disso, o Brasil também marca presença com Ainda Estou Aqui, de Walter Salles. O elenco conta com Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro como protagonistas; o roteiro é de Murilo Hauser, de A Vida Invisível, com colaboração de Heitor Lorega.

Walter Salles, do consagrado Central do Brasil, volta a rodar um longa de ficção no Brasil depois de Linha de Passe, codirigido por Daniela Thomas e vencedor do prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes, em 2008, para Sandra Corveloni. O filme é produzido pela VideoFilmes e RT Features, em coprodução com Globoplay, Conspiração e Mact Productions.

Ainda Estou Aqui é um drama emocionante, baseado na história real de Eunice Paiva, uma mãe de cinco filhos, que se confronta com o maior desafio de sua vida: descobrir o paradeiro do marido desaparecido, o ex-deputado Rubens Paiva. No Rio de Janeiro dos anos 1970, durante a ditadura, ele foi arrancado de casa por militares para ser interrogado e nunca mais foi encontrado.

A busca pela verdade dura 30 longos anos. E quando as respostas começam a aparecer, Eunice sente os primeiros sintomas da doença de Alzheimer. Baseado no best-seller homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice e Rubens, o filme é uma saga sobre memória e esquecimento. 

A atriz Fernanda Montenegro interpretará Eunice na segunda fase da história e o longa marca o reencontro entre ela e o diretor. O filme também marca o reencontro entre Fernanda Torres, atriz de Terra Estrangeira e O Primeiro Dia, e seus codiretores Walter Salles e Daniela Thomas, produtora associada de Ainda Estou Aqui

O filme conta também com Valentina Herszage, Luiza Kozovski, Bárbara Luz, Guilherme Silveira, Cora Ramalho, Dan Stulbach, Maeve Jinkings, Humberto Carrão e Carla Ribas no elenco. A direção de fotografia é assinada por Adrian Teijido; a direção de arte é de Carlos Conti e o figurino de Cláudia Kopke, com caracterização de Marisa Amenta e Laura Zimmerman no som direto.

Conheça os filmes selecionados para o 49º Festival de Toronto:

GALAS

Andrea Bocelli: Because I Believe, de Cosima Spender (Reino Unido)
Better Man, de Michael Gracey (EUA)
Don’t Let’s Go to the Dogs Tonight, de Embeth Davidtz (África do Sul)
Eden, de Ron Howard (EUA)
Elton John: Never Too Late, de R.J. Cutler e David Furnish (EUA)
Harbin, de Woo Min-ho (Coreia do Sul)
Meet the Barbarians, de Julie Delpy (França)
Nutcrackers, de David Gordon Green (EUA)
Oh, Canada, de Paul Schrader (EUA)
Road Diary: Bruce Springsteen and The E Street Band, de Thom Zimny (EUA)
Superboys of Malegaon, de Reema Kagti (Índia)
The Deb, de Rebel Wilson (Austrália)
The Friend, de Scott McGehee e David Siegel (EUA)
The Penguin Lessons, de Peter Cattaneo (Espanha/Reino Unido)
The Return, de Uberto Pasolini (Itália/Reino Unido)
The Shrouds, de David Cronenberg (Canadá/França)
The Wild Robot, de Chris Sanders (EUA)
Unstoppable, de William Goldenberg (EUA)
Will & Harper, de Josh Greenbaum (EUA)

SPECIAL PRESENTATIONS

40 Acres, de R.T. Thorne (Candá)
Ainda Estou Aqui, de Walter Salles (Brasil/França)
All of You, de William Bridges (EUA)
All We Imagine as Light, de Payal Kapadia (França/Índia/Holanda/Luxemburgo)
Anora, de Sean Baker (EUA)
Bird, de Andrea Arnold (Reino Unido)
Bring Them Down, de Christopher Andrews (Irlanda/Bélgica)
Can I Get A Witness?, de Ann Marie Fleming (Canadá)
Caught by the Tides, de Jia Zhang-Ke (China)
Conclave, de Edward Berger (EUA/Reino Unido)
Emilia Pérez, de Jacques Audiard (França/EUA/México)
Hard Truths, de Mike Leigh (Reino Unido/Espanha)
Harvest, de Athina Rachel Tsangari (Reino Unido)
Heretic, de Scott Beck e Bryan Woods (Canadá)
I, the Executioner, de Ryoo Seung-wan (Coreia do Sul)
K-Pops, de Anderson .Paak (EUA)
Love in the Big City, de E.oni (Coreia do Sul)
Millers in Marriage, de Edward Burns (EUA)
Misericordia, de Alain Guiraudie (Espanha/Portugal/França)
Nightbitch, de Marielle Heller (EUA)
On Becoming a Guinea Fowl, de Rungano Nyoni (Zâmbia/Reino Unido/Irlanda)
Os Enforcados, de Fernando Coimbra (Brasil/Portugal)
Piece by Piece, de Morgan Neville (EUA)
Quisling: The Final Days, de Erik Poppe (Noruega)
Relay, de David Mackenzie (EUA)
Rez Ball, de Sydney Freeland (EUA)
Riff Raff, de Dito Montiel (EUA)
Rumours, de Guy Maddin, Evan Johnson e Galen Johnson (Canadá/Alemanha)
Sharp Corner, de Jason Buxton (Canadá/Irlanda)
Shepherds, de Sophie Deraspe (Canadá/França)
Sketch, de Seth Worley (EUA)
The Assessment, de Fleur Fortuné (Reino Unido/Alemanha/EUA)
The Cut, de Sean Ellis (Reino Unido)
The End, de Joshua Oppenheimer (Dinamarca/Reino Unido)
The Fire Inside, de Rachel Morrison (EUA)
The Girl with the Needle, de Magnus von Horn (Dinamarca/Polônia/Suécia)
The Last Showgirl, de Gia Coppola (EUA)
The Life of Chuck, de Mike Flanagan (EUA)
The Order, de Justin Kurzel (Canadá/EUA)
The Piano Lesson, de Malcolm Washington (EUA)
We Live in Time, de John Crowley (Reino Unido/França)
Went Up the Hill, de Samuel Van Grinsven (Nova Zelândia/Austrália)
Without Blood, de Angelina Jolie (EUA/Itália)
Young Werther, de José Avelino Gilles Corbett Lourenço (Canadá)

Foto: Helena Barreto/Divulgação.

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