Festival de Veneza 2024: Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, está na disputa pelo Leão de Ouro; filme de Petra Costa também é selecionado

por: Cinevitor
Fernanda Torres no longa brasileiro Ainda Estou Aqui, de Walter Salles

A 81ª edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza, que acontecerá entre os dias 28 de agosto e 7 de setembro, revelou, nesta terça-feira, 23/07, a lista completa com os filmes selecionados para este ano.

A Competição Internacional, com títulos que disputam o Leão de Ouro, prêmio máximo do evento, nomes consagrados se destacam, como: Todd Phillips, Pedro Almodóvar, Dea Kulumbegashvili, Pablo Larraín, Luca Guadagnino, entre outros.

Neste ano, o cinema brasileiro marca presença com Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, na disputa pelo Leão de Ouro. Estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello e com participação especial de Fernanda Montenegro, o filme reúne a Sony Pictures Classics com Walter Salles, 26 anos depois da trajetória de sucesso de Central do Brasil. Em 2001, o cineasta esteve em competição com Abril Despedaçado.

Ainda Estou Aqui é inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva sobre a história de sua família. O relato começa no início dos anos 70, quando um ato de violência muda a história da família Paiva para sempre. O livro e o filme abraçam o ponto de vista daqueles que sofrem uma perda em um regime de exceção, mas não se dobram; o roteiro é de Murilo Hauser, de A Vida Invisível, e Heitor Lorega.

“Estamos felizes de ir a Veneza com um filme tão pessoal. O livro de Marcelo me marcou profundamente, e nos convida a olhar essa história do ponto de vista de sua mãe, Eunice. No centro desse relato há uma mulher que teve que se reinventar e romper com os laços patriarcais das famílias brasileiras. Eunice, em sua contenção, traça uma forma de resistência incomum. O livro e o filme podem ser vistos como um relato sobre a reconstrução de uma memória individual conduzida por essa mulher, que se sobrepõe à busca pela reconstrução da memória de um país, o Brasil. Essa sobreposição entre o pessoal e o coletivo é uma das razões pelas quais quis fazer este filme. A busca da família Paiva se confunde com a luta pela redemocratização do Brasil”, explica o diretor Walter Salles.

Para Marcelo Rubens Paiva, a participação de Ainda Estou Aqui no Festival de Veneza é um presente à sua família, descendente de italianos: “Ter um livro adaptado por Walter Salles, que conheceu minha família e viveu aquele período como testemunha, honra a nossa família”, comenta o escritor.

“Agradeço imensamente ao Marcelo por ter me dado a oportunidade de contar uma história tão pessoal, e às suas irmãs Vera, Eliana, Nalu e Babiu, por terem confiado na família que realizou o filme. Sem a generosidade, o apoio e as informações constantes que recebemos, essa jornada não teria sido possível. O fato de ter tido o presente de conviver com Nalu, Marcelo e a família Paiva na casa no centro da história torna esse filme muito especial para mim”, completa Salles.

Ainda Estou Aqui promove o reencontro entre Fernanda Torres e Walter Salles depois de Terra Estrangeira e O Primeiro Dia. Na última parte do filme, Eunice é interpretada por Fernanda Montenegro, que volta a trabalhar com Walter Salles depois do consagrado Central do Brasil: “Que honra poder colaborar com Fernanda Torres e Fernanda Montenegro novamente, no mesmo filme. Elas o imantaram. Ainda Estou Aqui é um filme sobre uma família feito por uma família de cinema: Fernanda Torres, Fernanda Montenegro, nossa produtora associada Daniela Thomas, o diretor de arte Carlos Conti, de Diários de Motocicleta, os mestres Ulisses Malta e Cesinha. E agora estamos expandindo nosso círculo com novos colaboradores incríveis, que foram companheiros de viagem apaixonantes”, afirma Salles.

O elenco principal reúne nomes como Valentina Herszage, Luiza Kosovski, Bárbara Luz, Guilherme Silveira e Cora Ramalho, como os filhos na primeira fase do filme; e Olivia Torres, Antonio Saboia, Marjorie Estiano, Maria Manoella e Gabriela Carneiro da Cunha integram a família no segundo momento. E mais: Guilherme Silveira, Pri Helena, Humberto Carrão, Maeve Jinkings, Dan Stulbach, Camila Márdila, Luiz Bertazzo, Lourinelson Vladmir, Thelmo Fernandes, Carla Ribas, Daniel Dantas, Charles Fricks, Helena Albergaria, Marcelo Varzea, Caio Horowicz, Maitê Padilha, Luana Nastas, Isadora Gupert, Alexandre Mello, Augusto Trainotti, Alan Rocha e Daniel Pereira.

Walter Salles também comenta a repercussão do cinema brasileiro pelo mundo: “Não estamos sós. Só neste ano, tivemos longas e curtas-metragens selecionados nos principais festivais internacionais, como Sundance, Berlim, Cannes, Roterdã, Locarno e SXSW. São esses filmes realizados por grandes cineastas ou jovens realizando seus primeiros trabalhos que tem fortalecido a cinematografia brasileira pelo mundo, semeando a possibilidade de filmes como o nosso e o primeiro longa de ficção de Marianna Brennand estarem representando o Brasil em Veneza”.

A direção de fotografia de Ainda Estou Aqui é assinada por Adrian Teijido; a direção de arte é de Carlos Conti e o figurino de Cláudia Kopke, com caracterização de Marisa Amenta e Laura Zimmerman no som direto. A montagem é de Affonso Gonçalves e a preparação de elenco de Amanda Gabriel; Daniela Thomas assina como produtora associada.

Além disso, o cinema brasileiro também marca presença com Apocalipse nos Trópicos, novo documentário de Petra Costa, que será exibido fora de competição; o filme investiga o fundamentalismo religioso no Brasil durante a pandemia de Covid-19 e a liderança de Bolsonaro. Em 2020, Petra foi indicada ao Oscar com Democracia em Vertigem.

O Brasil também se destaca com a presença da atriz, cineasta e artista visual brasileira Bárbara Paz, que fará parte do júri do Prêmio Luigi De Laurentiis, que selecionará o melhor longa-metragem de estreia entre as diversas mostras competitivas. Vale lembrar que Bárbara foi premiada em Veneza, em 2019, com o documentário Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou. E mais: o cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho fará parte do Júri Internacional, que será presidido pela atriz francesa Isabelle Huppert.

Destaque também para outros títulos brasileiros anunciados anteriormente: a realidade virtual 40 Dias Sem o Sol, de Joao Furia, que será exibida fora de competição na Venice Immersive; o curta-metragem Minha Mãe é uma Vaca, de Moara Passoni, na mostra Orizzonti; Manas, de Marianna Brennand, na mostra paralela Giornate degli Autori; e A Hora e Vez de Augusto Matraga, de Roberto Santos, na Venice Classics.

Conheça os filmes selecionados para o 81º Festival de Veneza:

VENEZIA 81 | COMPETIÇÃO

Ainda Estou Aqui, de Walter Salles (Brasil/França)
April, de Dea Kulumbegashvili (Geórgia/Itália/França)
Babygirl, de Halina Reijn (EUA)
Campo di battaglia, de Gianni Amelio (Itália)
Coringa: Delírio a Dois, de Todd Phillips (EUA)
Diva futura, de Giulia Louise Steigerwalt (Itália)
Harvest, de Athina Rachel Tsangari (Reino Unido/Alemanha/Grécia/França/EUA)
Iddu (Sicilian Letters), de Fabio Grassadonia e Antonio Piazza (Itália/França)
Jouer avec le feu, de Delphine Coulin e Muriel Coulin (França)
Kill the Jockey, de Luis Ortega (Argentina/Espanha)
Kjærlighet (Love), de Dag Johan Haugerud (Noruega)
Leurs enfants après eux, de Ludovic Boukherma e Zoran Boukherma (França)
Maria, de Pablo Larraín (Alemanha/EUA/Emirados Árabes Unidos/Itália)
Qing chun gui (Youth – Homecoming), de Wang Bing (França/Luxemburgo/Holanda)
Queer, de Luca Guadagnino (Itália/EUA)
Stranger eyes, de Siew Hua Yeo (Singapura/Taiwan/França/EUA)
The Brutalist, de Brady Corbet (Reino Unido)
The Order, de Justin Kurzel (EUA/Canadá)
The Room Next Door, de Pedro Almodóvar (Espanha)
Trois amies, de Emmanuel Mouret (França)
Vermiglio, de Maura Delpero (Itália/França/Bélgica)

ORIZZONTI | COMPETIÇÃO

Aïcha, de Mehdi Barsaoui (França/Tunísia/Itália)
Al klavim veanashim (Of dogs and men), de Dani Rosenberg (Israel/Rússia)
Anul nou care n-a fost (The new year that never came), de Bogdan Muresanu (Romênia)
Carissa, de Jason Jacobs e Delmar Devon (África do Sul)
Diciannove, de Giovanni Tortorici (Itália)
Familia, de Francesco Costabile (Itália)
Familiar Touch, de Sarah Friedland (EUA)
Happyend, de Neo Sora (Japão)
Hemme’nin öldüğü günlerden biri (One of those days when Hemme dies), de Murat Fıratoğlu (Turquia)
L’attachement, de Carine Tardieu (França/Bélgica)
Marco, de Jon Garaño e Aitor Arregi (Espanha)
Mistress Dispeller, de Elizabeth Lo (EUA)
Mon inséparable, de Anne-Sophie Bailly (França)
Nonostante, de Valerio Mastandrea (Itália) (filme de abertura)
Pavements, de Alex Ross Perry (EUA)
Pooja, Sir, de Deepak Rauniyar (Nepal/França)
Quiet life, de Alexandros Avranas (França/Grécia/Estônia/Suécia/Alemanha)
Wishing on a star, de Peter Kerekes (Itália/República Checa/Eslováquia/Croácia/Áustria/Brasil)
Yin’ād alīku (Happy Holidays), de Scandar Copti (Palestina/Alemanha/França/Qatar/Itália)

ORIZZONTI EXTRA

After Party, de Vojtĕch Strakatý (República Checa)
Al bahs an manfaz i khoroug al sayed Rambo (Seeking haven for Mr. Rambo), de Khaled Mansour (Egito)
Edge of Night, de Türker Süer (Alemanha)
King Ivory, de John Swab (EUA)
La storia del Frank e della Nina, de Paola Randi (Itália)
Le mohican, de Frédéric Farrucci (França)
September 5, de Tim Fehlbaum (Alemanha) (filme de abertura)
Shahed (The witness), de Nader Saeivar (Irã)
Vittoria, de Alessandro Cassigoli e Casey Kauffman (Itália)

FORA DE COMPETIÇÃO | FICÇÃO

Allégorie citadine, de Alice Rohrwacher e JR (França)
Baby Invasion, de Harmony Korine (EUA)
Broken rage, de Takeshi Kitano (Japão)
Cloud, de Kiyoshi Kurosawa (Japão)
Finalement, de Claude Lelouch (França)
Il tempo che ci vuole, de Francesca Comencini (Itália/França)
L’orto americano, de Pupi Avati (Itália)
Maldoror, de Fabrice du Welz (Bélgica/França)
Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice, de Tim Burton (EUA)
Phantosmia, de Lav Diaz (Filipinas)
Se posso permettermi: Capitolo II, de Marco Bellocchio (Itália)
Wolfs, de Jon Watts (EUA)

FORA DE COMPETIÇÃO | DOCUMENTÁRIO

2073, de Asif Kapadia (Reino Unido)
Apocalipse nos Trópicos, de Petra Costa (Brasil)
Bestiari, erbari, lapidari, de Massimo d’Anolfi e Martina Parenti (Itália/Suíça)
Israel Palestina på Svensk TV 1958-1989 (Israel Palestine on Swedish TV 1958-1989), de Göran Hugo Olsson (Suécia/Finlândia/Dinamarca)
One to One: John & Yoko, de Kevin Macdonald e Sam Rice-Edwards (Reino Unido)
Pisni zemli, shcho povilno (Songs of slow burning earth), de Olha Zhurba (Ucrânia/Dinamarca/Suécia)
Riefenstahl, de Andres Veiel (Alemanha)
Russians at war, de Anastasia Trofimova (França/Canadá)
Separated, de Errol Morris (EUA/México)
Twst: Things we said today, de Andrei Ujică (França/Romênia)
Why War, de Amos Gitai (Israel/França)

FORA DE COMPETIÇÃO | SÉRIES

Disclaimer (episódios 1-7), de Alfonso Cuarón (Reino Unido/EUA)
Familier som vores (Families like ours) (episódios 1-7), de Thomas Vinterberg (Dinamarca/França/Suécia/República Checa/Bélgica/Noruega/Alemanha)
Los años nuevos (episódios 1-10), de Rodrigo Sorogoyen del Amo, Sandra Romero e David Martín de los Santos (Espanha)
M. Il figlio del secolo (episódios 1-8), de Joe Wright (Itália/França)

EXIBIÇÕES ESPECIAIS

Beauty is not a sin, de Nicolas Winding Refn (Itália/Dinamarca)
Leopardi. Il poeta dell’infinito (partes 1 e 2), de Sergio Rubini (Itália)
Mestre dos Mares: O Lado Mais Distante do Mundo, de Peter Weir (EUA)

VENICE CLASSICS | DOCUMENTÁRIOS

“I will revenge this world with love” Sergei Paradjanov, de Zara Jian (Armênia/França)
Carlo Mazzacurati: una certa idea di cinema, de Mario Canale e Enzo Monteleone (Itália)
Chain reactions, de Alexandre O. Philippe (EUA)
Constel·lació Portabella, de Claudio Zulian (Espanha)
From darkness to light, de Michael Lurie e Eric Friedler (EUA/Alemanha)
Le cinéma de Jean-Pierre Léaud, de Cyril Leuthy (França)
Miyazaki, l’esprit de la nature, de Leo Favier (França)
Volonté: L’uomo dai mille volti, de Francesco Zippel (Itália)
Wa ada Maroun ila Beirut (Maroun returns to Beirut), de Feyrouz Serhal (Qatar/Líbano)

Foto: Divulgação/Alile Dara Onawale.

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