Direção: Guto Parente, Pedro Diogenes.
Elenco: Yuri Yamamoto, Demick Lopes, Samya De Lavor, Rafael Martins, Tatiana Amorim, Galba Nogueira, Pedro Domingues, Gustavo Lopes, Paulo Ess, Rogério Mesquita, William Pereira, Fábio Vasconcelos, Jotacílio Martins, Ricardo Tabosa, Mylla Fox, Selma Santiago, Érico Araújo Lima, Ademir Colombo, Marilza Colombo, Ramirez Gabriel, Rodrigo Capistrano, Vitor Colares, Rodrigo Colares, Carla Sousa, Ivna Chacon, Isac Bento.
Ano: 2018
Sinopse: Deusimar é dona do Inferninho, um bar escuro e degradado que é refúgio de sonhos e fantasias. Seu sonho é deixar tudo para trás e ir embora para qualquer lugar distante, o mais longe possível do bar. Apaixonar-se por Jarbas, o marinheiro bonito que chega ao bar, sonhando em encontrar um lar, vai mudar completamente sua vida e a vida dos empregados do bar: Luizianne, a cantora; Coelho, o garçom; e Caixa-Preta, a faxineira.
Crítica do CINEVITOR: Dirigido pela dupla Guto Parente e Pedro Diogenes, Inferninho fez uma bela carreira em festivais. Começou em Roterdã, passou por Brasília, Rio, Buenos Aires, Lisboa, entre tantos outros, e foi premiado diversas vezes. A ideia surgiu do Grupo Bagaceira de Teatro, de Fortaleza, que convidou os diretores para filmarem uma peça que ainda não tinha sido encenada. A princípio, o projeto seria uma série para a TV. Depois, se transformou em um filme. O roteiro, assinado por Parente, Diogenes e Rafael Martins, que interpreta o Coelho, ganhou novos rumos ao longo do processo, durante os ensaios e também nas filmagens. A história se passa num bar chamado Inferninho, um local claustrofóbico comandado por Deusimar. Entre paredes acinzentadas e um breu que toma conta do estabelecimento, os personagens carregam um brilho próprio que se reflete em cena, seja ele visto em uma maquiagem carregada ou num olhar melancólico. O bar é também um personagem potente nesse melodrama que flerta com a comédia. Esse local escuro e de certo modo perturbador é peça fundamental para o desenrolar da narrativa e é preenchido por diversos elementos que se conectam a tal perturbação, fazendo com que seus personagens exalem seus dilemas, seus sonhos, suas agonias. O espaço é muito bem utilizado pelos atores, quase sempre retratados em planos mais fechados e que carregam a história para algo próximo ao onírico. Inferninho apresenta para o espectador um universo fantasioso e decadente com extrema sensibilidade. Fala de amor, que vem acompanhado pela tragédia; fala também de afeto e emoções que transbordam; fala de solidão em meio à compaixão. E fala, principalmente, de sonhos. Não à toa que Deusimar, interpretada brilhantemente por Yuri Yamamoto, repete diversas vezes que planeja ir para bem longe em busca da felicidade e do amor. Seu olhar, quase sempre melancólico, parece estar sempre de olho no futuro, nas mudanças e no modo como o novo pode modificar sua vida. Há também uma esperança, disfarçada de expectativa, perante o outro. Aliás, é interessante como o mundo externo contamina as ações que acontecem dentro do bar, como por exemplo, a chegada do marinheiro Jarbas que logo engata um romance com Deusimar e revira seus sentimentos. Aborda-se também a questão da especulação imobiliária (e da corrupção), quando um funcionário do governo aparece para fazer uma proposta para comprar o bar. Esses personagens, que vêm de fora, afetam as relações internas entre a proprietária e seus funcionários. Assim, entre cortinas cintilantes, músicas melosas, figurantes fantasiados de Homem-Aranha, Marilyn Monroe, Wolverine e Mulher-Maravilha, Inferninho entrega, basicamente, uma história de amor e afeição envolta em fantasia. Cada personagem carrega uma dramaticidade fundamental que completa essa fábula: a cantora desafinada e seus problemas pessoais; a faxineira desconfiada; o marinheiro misterioso; e o Coelho atrapalhado. Aliás, esse último protagoniza uma das cenas mais lindas do filme em uma atuação arrebatadora de Rafael Martins. Seu monólogo, uma espécie de sermão em Deusimar, comove pela maneira ingênua, profunda, verdadeira e sensível com que reflete sobre a vida. Na sequência, mais uma belíssima (e criativa) cena (sem spoilers!), quando a protagonista se entrega para as emoções: ela sorri com deslumbre, observa, reflete e percebe a ficha cair. Entre descobertas e realizações, Deusimar deixa uma lição para o espectador: independente do lugar em que estivermos, mesmo que seja aquele dos sonhos, a resposta está na nossa mente, sempre conosco. Vale registrar: esses dois momentos já podem ser considerados uns dos mais belos do cinema brasileiro nos últimos tempos. Inferninho traz uma excentricidade que dialoga com a resistência de maneira sensível, apresenta personagens solares envoltos em tristeza e solidão (além de atores talentosos) e brinca com sonhos e fantasias de forma sublime. Guto Parente e Pedro Diogenes entregam uma obra comovente e delicada sobre o amor e seus obstáculos, afeto e beleza interior. (Vitor Búrigo)
*Filme visto no 26º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade.
*Clique aqui e confira nossa entrevista com Guto Parente na 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes.
*Clique aqui e confira nossa entrevista com Pedro Diogenes.
Nota do CINEVITOR: