Luz. Câmera. Gênero!: O Teste Bechdel

por: Cinevitor

joaspanterasAs Panteras: será que o filme passa no Teste Bechdel?

Tem novidade no CINEVITOR! Hoje estreia a coluna Luz. Câmera. Gênero!, escrita por Joanna Búrigo. Uma vez por mês ela estará por aqui para expor uma perspectiva de gênero a respeito da indústria cinematográfica. Joanna é mestre em Gênero, Mídia e Cultura, pela London School of Economics. Em sua primeira coluna, ela fala sobre o Teste Bechdel. Saiba mais:

O TESTE BECHDEL

Você já ouviu falar do Teste Bechdel? O teste serve para avaliar se existe um mínimo de equilíbrio, em uma obra de ficção, no que diz respeito à representação de gênero. É simples, e consiste de três perguntas:

A história tem duas mulheres? Elas conversam entre si? Sobre alguma outra coisa que não um homem?

Parece ridículo. Mas pare alguns segundos para pensar a respeito, por exemplo, dos filmes vencedores do Oscar em 2014. Quantos “passam” no teste? Poucos, se algum. E tem mais – vai vendo: Quem Quer Ser um Milionário?, Shrek, Brüno, Os Caça-Fantasmas, Wall-E, Piratas do Caribe, Milk – A Voz da Igualdade, Curtindo a Vida Adoidado, O Show de Truman, Toy Story, Harry & Sally – Feitos um Para o Outro, De Volta Para o Futuro, Pulp Fiction: Tempo de Violência, Lara Croft: Tomb Raider… Nenhum “passa”.

O conceito surgiu em 1985, não como um teste, mas sim no quadrinho The Rule, da serie Dykes to Watch Out For, de Alison Bechdel (daí o nome). A tirinha em questão mostra duas personagens conversando sobre a possibilidade de ir assistir um filme, e o teste é usado por uma delas para explicar para outra porque estava de bode de cinema – olha ali:

colunajocinevitor1– Quer ver um filme e comer pipoca?
– Bom, não sei. Eu tenho uma regra. Somente assisto filmes que satisfaçam três requerimentos básicos. Um, tem que haver ao menos duas mulheres nele… que, dois, falem uma com a outra sobre, três, algo que não seja um homem.
– Rigorosa, mas boa ideia.
– Sério. O último filme que eu pude assistir foi Alien… As duas mulheres falam uma com a outra sobre o monstro.
– Quer ir na minha casa comer pipoca?
– Agora sim.                                                                                                                                                   

O Teste Bechdel está ficando popular fora de rodinhas feministas – recentemente, na Suécia, foi criado um sistema de classificação de filmes que leva o Bechdel em consideração, e existe até um site especializado, o bechdeltest.com.

No entanto, o teste é geralmente acusado de ser simplista, arbitrário, e de não levar em conta, por exemplo, o quão proeminente o papel daquela mulher (ou daquelas duas mulheres…) no filme realmente é.

Contudo o teste não deveria ser julgado por sua métrica – afinal não é o número de mulheres num filme específico o que está sendo questionado – mas sim servir de barômetro para expor um padrão machista da indústria cinematográfica, que costuma dar preferência a histórias encabeçadas por homens.

O teste é importante, e utilizá-lo como critério de classificação pode não resolver a indústria como ela é, mas com certeza inicia conversas pertinentes e interessantes sobre a representação feminina no cinema. Que já foi pior – mas também já foi melhor.

Joanna Burigo é Feminista Profissional™ e viciada em cultura pop.

Comentários