Direção: João Nuno Pinto
Elenco: João Nunes Monteiro, Miguel Borges, João Lagarto, João Vicente, Aquirasse Nipita, Messias Jose Grachane, Nuno Preto, Filipe Duarte, Mário Mabjaia, Camané, André Dias, Pedro Santos, Valdemar Santos, Sufaida Moyane, Alfredo Brito, Miguel Moreira, Gezebel Macovela, Ana Magaia, Maria Clotilde Guirrugo, Josefina Massango, Hermelinda Simela, Gigliola Zacara, Ricardo Moura, Manuel João Vieira, Sebastian Jehkul, Cesário Monteiro, Miguel Cunha, Dinis Gomes.
Ano: 2020
Sinopse: Zacarias, um jovem português de 17 anos, sonha em viver grandes aventuras. Por isso, ele se alista no Exército durante a Primeira Guerra Mundial. É enviado a Moçambique, na África, com a missão de defender a colônia portuguesa da invasão alemã. Zacarias, porém, contrai malária e é deixado para trás quando seu pelotão segue rumo ao front de batalha. O rapaz não se dá por vencido e parte, sozinho, para alcançar o esquadrão. Ainda sofrendo os efeitos da enfermidade, ele passa a ter dificuldade em distinguir a realidade das alucinações que vem tendo. Em sua jornada, o garoto encontra, ou acredita encontrar, animais selvagens, desertores alemães e colonos perdidos.
Crítica: Mosquito começa no ano de 1917, em Moçambique, durante a Primeira Guerra Mundial. Dirigido pelo cineasta português João Nuno Pinto, o longa é baseado na história real de seu avô, que foi um dos soldados enviados para a batalha. Protagonizado pelo talentoso João Nunes Monteiro, acompanhamos a saga de Zacarias, um jovem sedento pela missão de defender a colônia portuguesa da invasão alemã. Depois de ser deixado para trás pelo seu pelotão, ele resolve ir sozinho ao encontro do esquadrão, em uma decisão quase que insana. A epopeia do protagonista é registrada pelo brilhante trabalho do diretor de fotografia Adolpho Veloso, premiado, aliás, no Festival de Valência. Na luta pela sobrevivência, Zacarias se depara com situações que beiram à loucura e selvageria, mas que também contribuem para o seu processo de amadurecimento nessa caminhada épica pela mata. Entre prováveis alucinações, surtos e visitas inesperadas de animais selvagens, há também outros momentos interessantes, como sua passagem por uma aldeia comandada somente por mulheres negras. Com falas como “eu, homem branco, exijo que me libertem” ou “cadê o chefe?”, ele logo é colocado em seu devido lugar de estranho no ninho e aprende, na marra, a conviver com novas culturas, mesmo carregado por preconceitos e um machismo estrutural inserido em seus costumes cotidianos. Em seu trajeto, quase que fabular em certos momentos, Zacarias passa a ganhar uma força antes não vista; e não apenas fisicamente. Ao se infiltrar em ambientes desconhecidos, aproveita para se transformar diante do novo e também potencializar sua missão. A atuação de João Nunes Monteiro é elogiável por seu excelente trabalho de construção do personagem; aqui, mostra com avidez sua jovialidade e disposição para representar seu país em uma guerra, para provar talvez não só para si mesmo que é capaz, mas para outros que não acreditavam em seu desempenho, como próprios familiares. Tanto que, em certo momento de um trecho de uma carta narrada por ele, diz: “que a guerra me faça o homem que sempre me cobraram”. Não sabemos como era Zacarias antes do uniforme fardado, mas sua cobiça pela vitória o coloca em um lugar propício para desafios. Ao mesmo tempo em que transparece determinação, precisa lutar contra seus próprios instintos para resistir nesse voo solo. Mosquito é uma odisseia sobre limites físicos e mentais, autoconhecimento, loucura e aborda temas importantes além do previsto, como o passado colonialista, por meio de um confronto pessoal (e também de guerrilha) de seu protagonista. (Vitor Búrigo)
*Filme visto na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Nota do CINEVITOR: