A primeira edição da Mostra Cinema, Mineração e Meio Ambiente, que acontecerá entre os dias 26 e 29 de julho no espaço Nave, em São Paulo, contará com exibições gratuitas de longas inéditos e debates. O evento, promovido pelo Instituto Camila e Luiz Taliberti, discutirá a partir da produção cinematográfica recente um dos temas mais urgentes do presente: os malefícios da mineração para o meio ambiente e pessoas.
A programação contará com quatro longas e debates após as sessões: Ode ao Choro, de Cecilia Engers; Lavra, de Lucas Bambozzi; A Ilusão da Abundância, de Erika González Ramirez e Matthieu Lietaert; e O Lugar Mais Seguro do Mundo, de Aline Lata e Helena Wolfenson, sendo que esses dois últimos são inéditos em circuito comercial.
Os temas vão desde a tragédia de Brumadinho à vida de um jovem cuja cidade onde morava foi soterrada pelo rompimento de uma barragem de rejeito de minério. Como ferramenta de discussão, a Mostra Cinema, Mineração e Meio Ambiente traz histórias pessoais de luta e resistência que acontecem no Brasil e na América Latina; são filmes de extrema relevância social e política.
Em Ode ao Choro, de Cecilia Engels, que fez parte da Mostra de Cinema Paulista, promovida pelo SESC, acompanhamos um passeio pelo luto da diretora. Em 2019, ela viu sua vida virar de ponta cabeça quando, no rompimento da barragem de Brumadinho, sua melhor amiga morreu. Em busca da restauração de seu trauma, Cecilia se encontra com algumas pessoas que a estimulam a falar sobre a morte e o luto. Por um recorte autobiográfico, a diretora vira personagem da obra para falar sobre seus medos, sua fé e sua percepção da morte.
Exibido no Parlamento Europeu, A Ilusão da Abundância, de Erika González e Matthieu Lietaert, mostra Bertha, Carolina e Máxima, que, apesar do desequilíbrio de poder, compartilham um objetivo em comum: liderar a luta contra os conquistadores modernos. Em um ambiente em que os governos e corporações, envolvidos em uma corrida global por crescimento ilimitado, precisam obter as matérias-primas mais baratas, essas três mulheres contam uma história de coragem implacável: como continuar lutando para proteger a natureza quando sua própria vida está em risco? Quando repressão policial, assédio corporativo, agressões ou até mesmo ameaças de morte fazem parte de sua rotina diária?
É um filme sobre a globalização da luta socioambiental e do esforço para perseguir as corporações transnacionais e alcançar a justiça, em qualquer parte do mundo: três mulheres que arriscam suas vidas para proteger nosso planeta.
Cena do premiado Lavra, de Lucas Bambozzi
Dirigido por Aline Lata e Helena Wolfenson, O Lugar Mais Seguro do Mundo, premiado no DocLisboa e exibido na Mostra de Cinema de Ouro Preto e no Festival Biarritz Amérique Latine, acompanha Marlon, um jovem cuja vida foi transformada depois que sua cidade foi soterrada pelo rompimento de uma barragem de rejeito de minério. Refugiado de sua casa, ele enfrenta novos desafios e presencia a repetição de mais uma tragédia da mineração no Brasil. O Lugar Mais Seguro do Mundo é a forma que Marlon se referir ao seu lugar de origem, hoje cercado por câmeras e seguranças. Ironicamente, ele garante que nada mais pode acontecer lá.
Já Lavra, de Lucas Bambozzi, foi premiado no Festival de Brasília e na Mostra Ecofalante, além de ser exibido na Mostra de Cinema de Tiradentes e em eventos internacionais como o HotDocs, em Toronto, o 26º Festival de Cine de Lima, tendo recebido uma menção honrosa no XVII World of Knowledge, em São Petersburgo, e o Prêmio Signis no 16º Atlantidoc. O filme narra a jornada da geógrafa Camila a partir do Rio Doce, contaminado pelo rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, que varreu povoados do mapa e matou 19 pessoas.
Em uma espécie de road movie, Camila segue o caminho da lama tóxica, deparando-se com paisagens, comunidades e pessoas devastadas, até que outra barragem que se rompe, em Brumadinho, matando cerca de 300 pessoas. Ao ver a tragédia de perto, ela sente-se pela primeira vez atingida e se envolve com movimentos de resistência.
O Instituto Camila e Luiz Taliberti foi criado em julho de 2019 por iniciativa dos amigos e familiares de Luiz e Camila, vítimas fatais do rompimento da barragem em Córrego do Feijão, Brumadinho, Minas Gerais, ocorrido em 25 de janeiro daquele ano, e tem como missão atuar em temas socioambientais, a defesa dos direitos humanos, o empoderamento de grupos vulneráveis, especialmente mulheres, e a proteção do meio ambiente contra ações danosas.
Fotos: Divulgação.