Direção: Karim Aïnouz
Elenco: Nardjes Asli
Ano: 2020
Sinopse: Argélia, fevereiro de 2019. Uma onda de protestos populares de cunho pacífico toma as ruas de Argel contra a apresentação da quinta candidatura do então presidente Abdelaziz Bouteflika. Nardjes, uma jovem militante argelina, encontra no movimento um espaço para reivindicar um futuro melhor para a sua geração. Filmado em 8 de março de 2019, Nardjes A. retrata um dia na vida da ativista enquanto ela se junta aos milhares de manifestantes nas ruas de Argel que seguem em luta para derrubar o regime que os silenciou por décadas. Seguimos seus passos em meio a um momento histórico para seu país.
Crítica: Com uma carreira consagrada e premiada, Karim Aïnouz mal terminou de lançar A Vida Invisível e logo apareceu com mais dois projetos finalizados: os documentários Aeroporto Central, lançado recentemente em streaming, e Nardjes A., ambos exibidos no Festival de Berlim. Nascido em Fortaleza, no Ceará, o cineasta resolveu resgatar as raízes de sua família paterna na Argélia com a intenção de fazer um filme autobiográfico. Porém, ao chegar lá, em 2019, se deparou com protestos populares nas ruas de Argel, capital do país, contra o governo do então presidente Abdelaziz Bouteflika. Para narrar esses acontecimentos, encontrou na jovem militante Nardjes Asli a forma ideal de mostrar tudo isso: alguém muito participativo nessas manifestações pacíficas. Todo filmado em um smartphone, Nardjes A. se passa durante 24 horas, em 8 de março de 2019, Dia Internacional da Mulher. Entre cartazes com frases como “Argélia live e democrática”, “liberdade, justiça e dignidade” e gritos de “regime assassino”, Karim registra in loco sua protagonista ao lado de companheiros de luta, entre tantos outros personagens que aparecem em frente à câmera do celular. Porém, a escolha de Nardjes parece não ter sido aleatória. Em certo momento do filme, ela revela o passado militante da família, algo que vem desde a época de seus avós, que não tiveram a oportunidade de conhecer uma Argélia livre e independente. Fala também sobre quitar uma dívida social e política destes entes queridos, papel, inclusive, fundamental dessa nova geração; e Nardjes faz isso muito bem. Porém, entre tantas imagens de protestos, o longa, por um bom tempo, se torna repetitivo. A falta de novos acontecimentos, ou contornos narrativos, torna-o cansativo e sem novidades. Tudo se repete e ecoa no mesmo lugar: pessoas nas ruas, gritos de protesto, narração da protagonista. Reações interessantes e importantes, diga-se de passagem; até mesmo os novos registros ou enquadramentos surgem como se fossem imagens reiteradas. Já na parte final do filme, nos deparamos com novas situações, como uma conversa emocionante com a mãe pelo telefone ou um encontro com amigos ao final do dia para aliviar a tensão. Como uma espécie de diário de sua protagonista, Nardjes A. revela discussões importantes e abre espaço para uma reflexão crucial sobre intolerância, democracia e igualdade. Amplia um problema específico daquele país, porém, também dialoga com outras nações que se encontram em situações parecidas. Entre músicas argelinas e momentos de descontração, protestos e gritos de liberdade, filtros e créditos coloridos na tela, o documentário traz também uma certa esperança de um mundo melhor. (Vitor Búrigo)
*Filme visto no 9º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba
Nota do CINEVITOR: