The 20th Century
Direção: Matthew Rankin
Elenco: Dan Beirne, Sarianne Cormier, Catherine St-Laurent, Mikhaïl Ahooja, Brent Skagford, Seán Cullen, Louis Negin, Kee Chan, Trevor Anderson, Emmanuel Schwartz, Richard Jutras, Satine Scarlett Montaz, Charlotte Legault, Marc Ducusin, Jadyn Malone, Raynnie Platz, Brandon Lising, Élia St-Pierre.
Ano: 2019
Sinopse: Toronto, 1899. O jovem aspirante a político Mackenzie King sonha em se tornar o primeiro-ministro do Canadá. Em sua jornada na busca pelo poder, ele enfrentará a mãe controladora, um governador-geral belicista e o idealismo utópico de um místico quebequense. Enquanto isso, King se divide entre o amor de uma soldado britânica e uma enfermeira franco-canadense e, aos poucos, entrega-se a um fetiche obsessivo por calçados femininos. Quando sua corrida pela liderança do país culminar em um confronto épico entre o bem e o mal, King aprenderá que a decepção pode ser a única maneira de sobreviver ao século 20.
Crítica: A comédia dramática O Século 20, dirigida pelo cineasta canadense Matthew Rankin, passou pela mostra Forum do Festival de Berlim e recebeu o Prêmio da FIPRESCI, Federação Internacional de Críticos de Cinema. Também foi consagrada em Toronto e Vancouver e venceu em três categorias do Canadian Screen Awards. Com um roteiro criativo, assinado por Rankin, a trama beira o nonsense e traz toques surrealistas para sua narrativa. Tudo se passa em 1899, quando um jovem chamado Mackenzie King, interpretado por Dan Beirne, busca alcançar seu maior objetivo de vida: se tornar o primeiro-ministro do Canadá. As peripécias para conseguir tal cargo rendem momentos hilários no filme, como um concurso que testa o poder de liderança de seus candidatos em provas sem cabimento algum, como: luta de pernas, resistência à cócegas, aptidão para cortar decentemente uma fita de inauguração, entre outros absurdos inúteis. Nessa disputa, há espaço também para um jogo de ego e vaidade; algo que remete, imediatamente, aos ultrapassados concursos de Miss. É notório o deboche do diretor ao retratar tais situações insignificantes com a intenção de construir uma crítica social às escolhas de governantes que chegam ao poder. A maneira como se apresenta visualmente talvez seja o que mais chama a atenção nesse filme. O impecável design de produção, assinado por Dany Boivin, traz traços futuristas mas, ao mesmo tempo, imprime uma tendência retrô, que dialoga perfeitamente com a narrativa. Cenários com traços retos e triangulares, que valorizam as formas, as cores e as texturas, remetem instantaneamente ao abstrato. Ou seja, não faltam referências em O Século 20, tanto na direção de arte quanto na trama e em outros elementos: a começar pelo surrealismo abstrato, passando brevemente por um Salvador Dalí mais onírico; encenações teatrais em algumas situações; um toque de Fellini; recriações de figurinos, como o clássico corselete cônico de Jean Paul Gaultier para Madonna; personagens mais excêntricos originais de tantos outros filmes, entre eles, O Mágico de Oz; entre outras. Mesmo criando uma atmosfera extravagante, Rankin não deixa de evidenciar os bastidores de uma típica guerra política, repleta de marionetes do governo envoltos em uma insana concorrência partidária. Dividido em capítulos temáticos, como A Ternura Nacional, Bênção da Mãe e O Vício Solitário, o longa não perde o humor, mas fala também de ganância e decadência, satiriza situações de falsa bondade e dá espaço para o amor. Há ainda mais momentos cômicos quando Mackenzie King se apaixona; e também quando divide a cena com os pais nada tradicionais. O Século 20 funciona por proporcionar uma divertida miscelânea de acontecimentos e referências com doses de humor sem cair no clichê estereotipado e sem deixar de destacar questões políticas, sociais e econômicas com críticas bem construídas e inseridas com graça. (Vitor Búrigo)
*Filme visto na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Nota do CINEVITOR: