Théo Court fala sobre Branco no Branco, filme exibido no 30º Cine Ceará

por: Cinevitor

branconobrancoceara1Cineasta: Théo Court participa do debate.

Na quarta-feira, 09/12, a Mostra Competitiva ibero-americana de longas da 30ª edição do Cine Ceará exibiu uma coprodução entre Chile, Espanha, França e Alemanha: Branco no Branco (Blanco en Blanco), de Théo Court.

No prelúdio do século XX, Pedro chega à Terra do Fogo, um território hostil e violento, para fotografar o casamento do poderoso fazendeiro Mr. Porter. A futura esposa, apenas uma garota, vira sua obsessão. Tratando de capturar sua beleza, trai o poder que domina o território. Descoberto e castigado, Pedro não consegue escapar e acaba sendo partícipe e cúmplice da sociedade que convive com o genocídio dos nativos Selk’nam.

O longa, exibido no Festival de Veneza do ano passado, recebeu três prêmios, entre eles, melhor filme segundo a FIPRESCI, Federação Internacional de Críticos de Cinema, e melhor direção da mostra Horizontes. Além disso, foi selecionado para os festivais de Havana, Santiago, Gijón, entre muitos outros.

Nascido de pais chilenos em Ibiza, Espanha, em 1980, o cineasta Théo Court mudou-se para o Chile em 1996, onde começou a estudar cinema. Estudou fotografia em Madri e mais tarde formou-se na Escuela Internacional de Cine de San Antonio de los Baños, em Cuba, com especialização em direção. Seu filme de tese, El Espino, foi selecionado para a Cinéfondation, em Cannes. Em 2007, recebeu o Hubert Bals Fund para desenvolver o roteiro de seu primeiro longa-metragem, Ocaso, que estreou no Festival de Cinema de Roterdã. Seus filmes foram exibidos extensivamente em festivais em todo o mundo; Blanco en Blanco é seu segundo longa-metragem.

alfredobrancobrancoAlfredo Castro em cena.

No dia seguinte à exibição no Cineteatro São Luiz, Théo Court participou de um debate mediado por Neusa Barbosa e falou sobre vários aspectos da produção: “O filme adota um pouco a estética e narrativa do próprio fotógrafo, que testemunha tanto a inocência da menina quanto a beleza da paisagem e o horror que vem depois. Tudo parte do ponto de vista deste fotógrafo, que tem como base uma fotografia de Julius Popper, que registrou essa matança e o extermínio da população originária da Terra do Fogo; na época, foi como se tivesse passado um anjo exterminador e destruído toda a cultura local”, disse o diretor.

Sobre sua escolha narrativa e referências, Théo falou: “A Terra do Fogo, que fica no extremo sul do continente americano, é conhecida como o fim do mundo. Ou o começo, depende do ponto de vista. Mas, esse não é um filme etnográfico. É uma ficção. Os personagens não existiram, mas foram criados em cima daquele contexto. Tive muitas referências de western, principalmente dos filmes de John Ford, que sou muito fã. E também referências literárias que passam por Samuel Baker e Franz Kafka”.

Branco no Branco é protagonizado pelo consagrado ator chileno Alfredo Castro, conhecido por diversos trabalhos, entre eles: Tony Manero, O Clube, De Longe Te Observo e, recentemente, o brasileiro Verlust, de Esmir Filho. Théo falou sobre essa parceria: “Eu já conhecia Alfredo de algum festival, no qual ele viu meu primeiro filme e gostou muito. A partir disso, começamos a manter contato e mandei a primeira versão do roteiro, perto de 2011. Ele sempre foi minha escolha para protagonizar o filme”. Também falou sobre a jovem atriz Esther Vega Pérez Torres, que interpreta Sara: “Ela foi encontrada em uma escola de teatro. O trabalho foi delicado, sempre com a presença da mãe e explicando tudo que estava acontecendo. O Alfredo também contribuiu muito para o trabalho dela, já que era seu primeiro filme”, revelou.

branconobranco2cearaO diretor fala sobre o filme exibido no Cine Ceará.

O trabalho de direção de fotografia de José Ángel Alayón também foi comentado: “A fotografia sempre foi trabalhada com, basicamente, luz natural, luz de vela, tochas e fogo. Além disso, tinha a questão geográfica e da logística em relação a um lugar muito isolado. Foi um trabalho muito cuidadoso. A preocupação era de capturar a atmosfera daquele lugar que apresenta tons de azul e violeta”.

Carlos García, renomado engenheiro de mixagem e designer de som, que trabalhou em filmes como O Abraço da Serpente, Pássaros de Verão e Ninfomaníaca também foi citado: “O som tem um protagonismo muito importante no filme e, por isso, me preocupei muito em registrar e trabalhar essa textura sonora, como o vento e os barulhos da própria casa. Trabalhamos com muito foley para ter essa interação com os objetos, o tato, os passos. Foi muito importante tudo isso”.

Ao final do debate, Théo concluiu: “Sendo um filme histórico, fizemos um paralelo com essa situação que o Chile ainda vive em relação à população indígena. Também faz um retrato dessa estratificação tão masculina do poder. Pra mim, era importante que as coisas fossem se transformando. Eu queria criar uma dinâmica que o espectador fosse ativo para somar seu ponto de vista interagindo com a proposta de direção”, finalizou.

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Fotos: Rogerio Resende/Divulgação.

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