Veneza 2024: Manas, de Marianna Brennand, é o grande vencedor da mostra Giornate degli Autori

por: Cinevitor
Manas, de Marianna Brennand: filme brasileiro ovacionado

Foram anunciados nesta sexta-feira, 06/09, os vencedores da Giornate degli Autori, mostra paralela ao Festival Internacional de Cinema de Veneza, que foi criada em 2004 e inspirada na Quinzena dos Realizadores, de Cannes, com o objetivo de chamar a atenção para um cinema de alta qualidade, sem qualquer tipo de restrição, e com um cuidado especial em inovação, pesquisa, originalidade e independência.

Nesta 21ª edição, o cinema brasileiro se destacou com Manas, de Marianna Brennand, que ganhou o prêmio principal da mostra paralela do Festival de Veneza, cujo objetivo é destacar obras autorais e cineastas emergentes com visão cinematográfica inovadora. Em comunicado oficial, a diretora disse: “Estou transbordando de felicidade e emoção. Esse prêmio é importante para mim como diretora, para toda a equipe brilhante que fez esse filme, para todas as manas do Pará, do Brasil e do mundo. E é um prêmio que eu recebo em nome do nosso cinema brasileiro, ele representa nossa força, nossa verdade, nossa ousadia e coragem em resistir assim como nossa protagonista resiste e reage bravamente”.

Eleito por um júri presidido pela cineasta britânica Joanna Hogg e composto por dez ex-participantes do 27 Times Cinema, programa que reúne anualmente cinéfilos de 27 países europeus para assistirem aos filmes da Giornate degli Autori, o prêmio é concedido ao realizador do melhor longa da mostra. Além disso, o GdA Director’s Award, cuja votação é deliberada ao vivo (assista aqui) pelo júri, oferece uma bonificação em dinheiro de € 20.000, a ser dividido igualmente entre o cineasta e o distribuidor internacional do filme, para promover sua circulação.

A justificativa do júri diz: “Nós nos envolvemos em discussões apaixonadas de 10 filmes que exploram a arte do cinema de maneiras incrivelmente tocantes e versáteis e gostaríamos de agradecer à visão curatorial da Giornate degli Autori. No final das contas, nós, o júri, estamos felizes por termos nos encontrado em uma experiência compartilhada com um filme em especial. Manas é uma janela para um mundo que é criado com tantos detalhes que acolhe o público em uma jornada envolvente e emocional a ser mudada. Manas conquistou nossos corações ao abordar com cuidado e carinho o tópico extremamente sensível e difícil do abuso, tanto em contextos domésticos quanto mais sistemáticos. Embora o cenário da Ilha de Marajó ainda não tivesse sido descoberto, a diretora retratou algo tão universal, com o qual cada um poderia ressoar profundamente. Este filme se destacou na programação com seu artesanato magistral, performances brilhantes e mensagem forte que acreditamos que ressoará com muitas pessoas ao redor do mundo, aumentando a conscientização e pedindo mudanças. Obrigada, Marianna Brennand por tornar essas histórias visíveis. Obrigada Giornate degli Autori por dar palco a esse filme”.

“Acabei de assistir a deliberação do júri e a conexão deles com o filme, a maneira emocionada com que falaram do Manas, como reconheceram a importância cinematográfica do filme, a delicadeza com que essa história tão difícil é contada, de uma maneira respeitosa, verdadeira, usando a potência do cinema para colocar o espectador dentro da alma e do coração da Marcielle enquanto ela vive as maiores violências que uma mulher pode passar”, celebra Marianna. “Mais ainda, reconheceram a importância de uma história que precisa ser contada, dividida, porque ela é brasileira, mas universal. É possível tocar as pessoas com delicadeza, sem trazer mais violência para quebrar ciclos e padrões. Foi preciso ter coragem para fazer esse filme e espero que Manas possa lançar luz e encorajar mulheres a quebrarem silêncios e o tabu perpetuado por anos sobre todas mulheres do mundo. Axé Manas!”.

A produção traz no elenco a estreante Jamilli Correa, no papel principal, Dira Paes, Fátima Macedo e Rômulo Braga, além de atores e atrizes locais da região amazônica, onde foi filmado. O roteiro vencedor do Sam Spiegel International Film Lab é assinado por Felipe Sholl, Marcelo Grabowsky, Marianna Brennand, Antonia Pellegrino, Camila Agustini e Carolina Benevides.

Manas narra a história de Marcielle/Tielle, uma jovem de 13 anos que vive na Ilha do Marajó, no Pará, junto ao pai, Marcílio, à mãe, Danielle, e a três irmãos. Ela cultua a imagem de Claudinha, sua irmã mais velha, que teria partido para bem longe após arrumar um homem bom nas balsas que passam pela região. Conforme amadurece, Tielle vê ruírem muitas das suas idealizações e se percebe presa entre dois ambientes abusivos. Preocupada com a irmã mais nova e ciente de que o futuro não lhe reserva muitas opções, ela decide confrontar a engrenagem violenta que rege a sua família e as mulheres da sua comunidade.

A fagulha inicial para a realização do filme ocorreu quando Marianna tomou conhecimento de casos de exploração sexual de crianças nas balsas do Rio Tajapuru, na Ilha do Marajó (PA). Em 2014, ela ganhou um edital de desenvolvimento de roteiro promovido pela Ancine, Agência Nacional de Cinema, e deu início às pesquisas para o trabalho, que incluíram diversas viagens para a região. Primeiramente, havia a intenção de realizar um documentário, campo no qual a cineasta atuava, mas logo essa ideia foi abandonada.

O elenco conta também com Emilly Pantoja, Samira Eloá, Enzo Maia, Gabriel Rodrigues, Ingrid Trigueiro, Clebia Sousa, Nena Inoue e Rodrigo Garcia. A direção de fotografia é de Pierre de Kerchove; Marcos Pedroso assina a direção de arte e o figurino é de Kika Lopes. A montagem é de Isabela Monteiro de Castro e a edição de som de Ricardo Reis; René Guerra fez a preparação de elenco. Com produção de Carolina Benevides, da Inquietude, Manas conta também com Jean-Pierre e Luc Dardenne como produtores associados, além da VideoFilmes, de Walter Salles, entre outros nomes. Com distribuição da Bretz Filmes, a coprodução é da Globo Filmes, Canal Brasil, Pródigo e Fado Filmes.

Conheça os vencedores da mostra Giornate degli Autori 2024:

GdA Director’s Award
Melhor Filme: Manas, de Marianna  Brennand (Brasil)
Prêmio do Público: Taxi Monamour, de Ciro De Caro (Itália)

OUTROS PRÊMIOS

Europa Cinemas Venice Label | Melhor Filme Europeu: Alpha., de Jan-Willem Van Ewijk (Eslovênia/Suíça/Holanda)

Foto: Divulgação.

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